O líder da CSU, Markus Soeder, o futuro chanceler Friedrich Merz (CDU), e os co-líderes do SPD, Lars Klingbeil e Saskia Esken, na apresentação do acordo de coligação, na semana passada.
O líder da CSU, Markus Soeder, o futuro chanceler Friedrich Merz (CDU), e os co-líderes do SPD, Lars Klingbeil e Saskia Esken, na apresentação do acordo de coligação, na semana passada.CHRISTOPH SOEDER/EPA

Coligação entre CDU e SPD ainda não é governo na Alemanha e já tem brechas

Alívio fiscal para as classes mais baixas e o envio de mísseis Taurus para a Ucrânia dividem os dois partidos. Aprovação do acordo é certa nos conservadores, mas não entre os sociais-democratas.
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Pouco mais de uma semana depois de os conservadores da CDU/CSU e os sociais-democratas do SPD terem anunciado que tinham acordado formar uma coligação governamental na Alemanha, que será liderada por Friedrich Merz, eis que começam a surgir os primeiros desentendimentos entre as duas partes sobre alguns dos pontos das 144 página do acordo que assinaram. Como notou recentemente Markus Soder, líder da União Social-Cristã (CSU), a congénere bávara da CDU, esta coligação não é um casamento de amor, referindo que “o amor passa”.

“Não fazemos promessas que não podemos cumprir”, garantiu Merz no domingo numa entrevista à ARD, referindo-se a uma das bandeiras do SPD - o alívio fiscal sobre as classes média e baixa -, e notando que embora esta, e outras medidas, estejam no acordo de coligação só avançarão se forem financeiramente viáveis.

A reação dos sociais-democratas a estas palavras não tardou, com a sua co-líder, Saskia Esken, a afirmar que os cortes nos impostos estavam “firmemente estabelecidos no contrato da coligação”.

Outro dos pontos de fricção entre as duas partes é a política externa, nomeadamente a entrega de mísseis Taurus à Ucrânia, algo a que o ainda chanceler Olaf Scholz sempre se opôs, temendo que representasse uma escalada no conflito entre Kiev e Moscovo, mas que Merz já disse por várias vezes que irá acontecer, tendo voltado a afirmar essa intenção, em coordenação com os parceiros europeus, na sua entrevista de domingo. Bastou um dia para o ministro da Defesa cessante, o social-democrata Boris Pistorius, que deverá manter a pasta no próximo governo, vir a público garantir “que nunca tinha dito ser a favor disso”.

Este acordo de coligação precisa ainda de ser aprovado pelos militantes do SPD, tendo a votação começado esta terça-feira, terminando apenas no dia 29. Cerca de 358.000 pessoas são elegíveis para participar e para o acordo com a CDU ser aprovado é preciso receber luz verde de uma maioria e, pelo menos, 20% de participação entre o universo eleitoral. Os resultados deverão ser conhecidos a 30 de abril.

“Se o acordo de coligação falhar a aprovação dos militantes do SPD enfrentaremos uma nova eleição ou um governo minoritário”, alertou Lars Klingbeil, co-líder dos sociais-democratas, sublinhando que este cenário só irá fortalecer a fação dentro da CDU que é a favor de uma cooperação com o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD), a segunda maior força política do país.

Garantido parece estar o voto contra dos membros da Jusos, a juventude social-democrata, com o seu líder, Philipp Turmer, a afirmar na segunda-feira que o acordo “precisa de melhorias para ter a nossa aprovação”, nomeadamente em temas como a imigração e política social. A ala mais à esquerda do SPD também já mostrou ter uma opinião desfavorável a este entendimento.

A CDU irá votar a aliança governamental numa reunião do partido no próximo dia 28, sendo esperada a sua aprovação por uma larga maioria, enquanto que a CSU, a congénere bávara dos conservadores, endossou este acordo na semana passada.

O último passo está marcado para 6 de maio, data em que o parlamento alemão irá votar o nome de Friedrich Merz para chanceler, que conseguirá ser eleito com o apoio de CDU, CSU e SPD, sucedendo assim a Olaf Scholz na liderança do governo.

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