A Cimeira da NATO, que se realiza esta terça e quarta-feira (24 e 25 de junho) em Haia, estava destinada a focar-se no acordo para a meta dos 5% do Produto Interno Bruto de gastos em Defesa dos 32 aliados, satisfazendo, assim, a exigência feita pelo presidente Donald Trump, que, no entanto, já veio dizer que os Estados Unidos deveriam ficar fora dessas contas. Porém, os recentes bombardeamentos das forças norte-americanas contra instalações nucleares no Irão trouxeram para a agenda dos trabalhos as repercussões que estes ataques poderão ter. Prova disso é que o assunto foi abordado esta segunda-feira, 23 de junho, pelo secretário-geral da Aliança na sua conferência de imprensa de antevisão do encontro, ao dizer que não considera que “o que os EUA fizeram é contrário à lei internacional”.“No que diz respeito à posição da NATO em relação ao programa nuclear iraniano, os Aliados há muito que concordam que o Irão não deve desenvolver uma arma nuclear. Os Aliados têm repetidamente instado o Irão a cumprir as suas obrigações ao abrigo do Tratado de Não-Proliferação”, prosseguiu Mark Rutte, que dirige esta semana a sua primeira Cimeira da Aliança como secretário-geral, e logo na sua terra natal, depois de ter assistido a muitas durante o seus 14 anos como líder do governo dos Países Baixos. Questionado sobre as implicações económicas do possível encerramento do Estreito de Ormuz — uma das principais rotas comerciais mundiais, situado entre o território iraniano, dos Emirados Árabes Unidos e de Omã —, o neerlandês disse que o seu papel é assegurar que os países da Aliança Atlântica investem na sua segurança e que a Ucrânia tem o que necessita para fazer frente à invasão russa, optando por não responder em concreto à pergunta.O peso que o Irão terá nesta cimeira aumentou esta segunda-feira depois de Teerão ter retaliado contra os Estados Unidos, assunto que será quase de certeza abordado pelos líderes dos restantes 31 aliados com Donald Trump ou nas habituais declarações feitas aos jornalistas à entrada da reunião. Mas, de uma forma ou de outra, o ponto central desta cimeira de Haia será o plano que os 32 aliados vão assinar para um investimento em Defesa de 5% do Produto Interno Bruto de cada país. “Encontramo-nos num momento verdadeiramente histórico, com desafios significativos e crescentes para a nossa segurança. À medida que o mundo se torna mais perigoso, os líderes Aliados tomarão decisões ousadas para fortalecer a nossa defesa coletiva, fazendo da NATO uma Aliança mais forte, mais justa e mais letal”, garantiu esta segunda-feira Rutte, acrescentando que “o novo plano de investimento na Defesa é o principal resultado desta cimeira e será decisivo para garantir uma dissuasão e defesa eficazes”.De acordo com este novo plano haverá uma meta de atingir 3,5% do Produto Interno Bruto (PIB) com gastos militares tradicionais (Forças Armadas, equipamento e treino) e 1,5% do PIB adicionais em infraestruturas de dupla utilização, civis e militares (como as relativas à cibersegurança, prontidão e resiliência estratégica), um acréscimo face ao atual objetivo de 2%. Em termos temporais, prevê-se que a meta seja 2035, com uma revisão em 2030.Embora os detalhes das metas de capacidade nacional sejam confidenciais, Rutte apelou a um aumento de cinco vezes nas capacidades de defesa aérea, milhares de tanques e veículos blindados, e milhões de cartuchos de munições de artilharia para ajudar a manter a segurança de mil milhões de cidadãos da NATO.O líder da Aliança garantiu ainda que a Espanha não obteve um regime de exceção especial para esta meta dos 5%, afirmando que “a NATO não faz acordos paralelos". Declarações que surgem depois de, no domingo, o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, ter afirmado que Madrid havia conseguido um acordo especial que isentaria o país de se comprometer a gastar 5% do PIB em Defesa, garantindo que afetará 2,1% do PIB do país às despesas com a Defesa, “nem mais, nem menos”, o que lhe permitirá garantir todos os seus compromissos no âmbito da NATO, considerando a nova meta “contraproducente” e “incomportável” para a realidade espanhola. Já esta segunda-feira, Rutte sugeriu que, embora Espanha tenha liberdade para seguir este caminho, "a NATO está absolutamente convencida de que Espanha terá de gastar 3,5% para lá chegar".Na sua intervenção desta segunda-feira, Mark Rutte voltou a dar bastante destaque à invasão russa da Ucrânia, sublinhando que “a ameaça mais significativa e direta que esta Aliança enfrenta continua a ser a Federação Russa”. “Todos queremos a paz para o povo ucraniano. E o fim da terrível guerra contra eles. No entanto, enquanto trabalhamos em busca de uma paz justa e duradoura, devemos continuar a garantir que a Ucrânia tem o que precisa para se defender hoje e dissuadir no futuro. O nosso apoio à Ucrânia é inabalável e persistirá”, referiu o líder da NATO. Mas a verdade é que a situação na Ucrânia não terá um papel central, como aconteceu em cimeiras anteriores, começando pelo presidente Volodymyr Zelensky, que, apesar de voltar a marcar presença numa Cimeira da NATO, não é claro se estará em algum momento na reunião de líderes, ou se se ficará pela participação esta terça-feira num encontro com a União Europeia e o líder da Aliança. Também a declaração final desta cimeira, segundo afirmaram vários diplomatas à Reuters, incluirá apenas uma referência à Rússia como uma ameaça à segurança euro-atlântica e outra ao empenho dos aliados em apoiarem a Ucrânia. Um sinal de que a pressão dos Estados Unidos surtiu efeito, já que enquanto a Europa e o Canadá continuam a ver Moscovo como uma ameaça, Donald Trump defende melhores relações económicas com a Rússia..Cimeira da NATO: 54% dos portugueses defendem aumento dos gastos de Defesa.EUA insistem que compromisso de aumentar gastos na Defesa envolve todos os aliados da NATO