Preparativos em Haia para a cimeira da NATO, que decorre nos dias 24 e 25.
Preparativos em Haia para a cimeira da NATO, que decorre nos dias 24 e 25.EPA/REMKO DE WAAL

Cimeira da NATO: 54% dos portugueses defendem aumento dos gastos de Defesa

A sondagem do ECFR feita em 12 países europeus e divulgada na véspera da cimeira em Haia revela também que a maioria defende o regresso do serviço militar obrigatório.
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Os europeus sentem-se inseguros e existe um consenso generalizado em relação à necessidade de aumentar os gastos com Defesa – os italianos são a exceção. Mas muitos duvidam que a Europa tenha capacidade de alcançar uma autonomia estratégica a curto prazo em relação aos EUA em matéria de segurança e defesa – sendo os portugueses mais otimistas do que a grande maioria.

Esta é uma das conclusões de uma sondagem do European Council on Foreign Relations (ECFR) feita, em maio, a 6440 inquiridos em 12 países da Europa e divulgada na véspera da cimeira da NATO que se realiza a partir desta terça-feira em Haia – e onde os EUA vão insistir na necessidade de os aliados aumentarem esses gastos para 5% do PIB. O estudo revela ainda o impacto que a presidência de Donald Trump está a ter na Europa.

Em Portugal, 54% dos 1010 inquiridos entre 16 e 28 de maio são “fortemente” ou “um pouco” a favor de aumentar os gastos de Defesa - o país ainda nem chegou à meta dos 2% que tinha sido estabelecida até 2029. Acima só ficam Polónia e Dinamarca (70%), o Reino Unido (57%) e Estónia (56%).

E, apesar de o fazerem de forma menos entusiasta do que outros europeus, defendem o regresso do serviço militar obrigatório (só espanhóis e húngaros são contra). Apenas os jovens, na faixa etária entre os 18 e os 29 anos, é que se opõem a isso em Portugal.

Os portugueses surgem na sondagem do ECFR (feita pela YouGov, Datapraxis e Norstat) como dos mais inseguros em relações a questões de Defesa. Entre os cidadãos dos 12 países inquiridos, são os mais preocupados em relação ao uso de armas nucleares (84% dizem estar muito ou algo preocupados com essa possibilidade), com 82% a dizerem-se também preocupados com a terceira guerra mundial e 77% com uma grande guerra na Europa (para lá da Ucrânia).

A possibilidade de a União Europeia (65%) e da aliança da NATO (66%) se desmoronarem é também uma preocupação maior em Portugal do que nos outros 11 países europeus inquiridos. E apesar de os receios de um ataque da Rússia a um país da NATO serem menos generalizado do que alguns analistas sugerem, os portugueses são - depois de polacos, estónios e romenos, que vivem ao lado da Rússia, os mais preocupados com essa possibilidade (54%).

Apesar de todos estes receios e de quererem aumentar os gastos em Defesa, são mais os portugueses preocupados com a possibilidade de o Governo gastar demasiado em Defesa às custas de outras áreas de políticas públicas (o custo de vida continua a ser um problema para muitos europeus), do que os que estão preocupados com o país não gastar o suficiente em Defesa à custa da sua própria segurança. Esse preocupação é especialmente acentuada entre os italianos, o que pode justificar que 57% sejam contra o aumento dos gastos de Defesa.

Autonomia estratégica

“Uma das principais conclusões da nossa investigação é que, embora o público europeu saiba que a Europa precisa de se preparar para um mundo de guerra, falta-lhe confiança na capacidade do continente para alcançar a autonomia estratégica a curto prazo”, escrevem os autores Ivan Krastev, do búlgaro Centro para as Estratégias Liberais, e Mark Leonard, diretor do ECFR.

Apesar disso, a visão predominante nos 12 países é que a Europa pode continuar a contar com a dissuasão nuclear dos EUA (média de 48%), assim como com a presença de militares norte-americanos no continente (55%) e evitar uma guerra comercial com Washington (54%).

Os inquiritos na Dinamarca e em Portugal são dos mais otimistas sobre que seja possível a União Europeia desvincular-se com os EUA – 52% e 50%, respetivamente, acreditam que é “possível” que a UE se torne independende dos EUA em Defesa e Segurança nos próximos cinco anos.

Mas são também os dinamarqueses (62%) e os portugueses (54%) aqueles que mais acreditam que a relação transatlântica vai melhorar assim que Trump deixar a Casa Branca. Ainda assim, 26% dos dinamarqueses e 24% dos portugueses acham que esta relação vai continuar deteriorada mesmo depois de o republicano deixar o poder.

“A hostilidade de Trump em relação à Europa deu origem a um sentimento anti-americano”, dizem os autores. Em Portugal, por exemplo, 70% dos inquiridos consideram que o sistema político dos EUA está “quebrado”, em comparação com apenas 60% que consideravam o mesmo em novembro de 2020, após a vitória do democrata Joe Biden.

“Ser pró-americano hoje significa principalmente ser cético em relação à UE, ser pró-europeu significa ser crítico em relação à América de Trump”, indicou Krastev na apresentação do estudo. “O verdadeiro efeito da segunda vinda de Trump é que os Estados Unidos apresentam agora um modelo fiável para a extrema-direita da Europa”, acrescentou.

Segundo os autores do estudo, o regresso de Trump à Casa Branca provocou uma revolução na identidade política dos seus principais partidos.

Leonard e Krastev falam em “travestismo político”, em que “os apoiantes dos partidos populistas já não são exclusivamente contra o status quo, são agora a favor do contraprojeto trumpiano”. Da mesma forma, aqueles que apoiam os partidos tradicionais já não são simplesmente a favor do status quo, estão cada vez mais a mobilizar-se para defender a soberania nacional contra Trump.

Apoio à Ucrânia

A sondagem do ECFR mostra ainda que os europeus continuam comprometidos com a Ucrânia, independentemente da política dos EUA e de Trump em relação à guerra com a Rússia. A maioria ou a pluralidade dos inquiridos em 11 países (a exceção é a Hungria) são contra a ideia de retirar o apoio militar a Kiev, e nem mesmo os húngaros querem pressionar os ucranianos a desistir do território ocupado pelos russos ou suspender as sanções económicas a Moscovo.

Os inquiridos na Dinamarca (78%), Portugal (74%), Reino Unido (73%) e Estónia (68%) são os mais acérrimos defensores da continuidade do apoio militar em caso de retirada dos EUA. Da mesma forma, os inquiridos na Dinamarca (72%), Portugal (71%), Reino Unido (69%) e Estónia (68%) são os mais contra a ideia de pressionar a Ucrânia a desistir de território ocupado, caso os EUA adotassem tal abordagem.

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