Foi na Praça da Independência, no centro de uma Maputo sob fortes medidas de segurança, que Daniel Chapo tomou posse esta quarta-feira como o quinto presidente de Moçambique, defendendo no seu discurso a união no país e dizendo que “a estabilidade social e política é a prioridade das prioridades” e que o “diálogo com as forças políticas será sempre franco, honesto e sincero”. A cerca de 300 metros do local, as forças de segurança dispersaram à bastonada dezenas de manifestantes que gritavam “Mondlane”, sendo que já tinha havido outras intervenções da polícia para dispersar, com tiros, pessoas em protesto que incendiaram pneus na estrada, à entrada do centro da capital. Segundo a plataforma eleitoral Decide, pelo menos oito pessoas morreram esta quarta-feira nas manifestações pós-eleitorais no país, elevando para 308 o número total de vítimas mortais..Chapo toma posse na sombra de 300 mortos nos protestos pós-eleitorais.No seu discurso inaugural, Daniel Chapo, o primeiro presidente já nascido após a independência, prometeu ser “não um presidente distante, mas um filho da nação”, salientando que a sua investidura “marca o início de uma nova fase de consolidação da construção da nação soberana e próspera”. “Unidos somos capazes de superar obstáculos e transformar as dificuldades em prosperidade”, sublinhou, garantindo que “ouvimos as vossas vozes, antes e durante as manifestações. E continuaremos a ouvir, mesmo em momentos de estabilidade”. Um pouco antes, Filipe Nyusi, na sua última intervenção como chefe de Estado, pediu aos moçambicanos apoio para Daniel Chapo, apontando que este tem um projeto de “esperança” e vai “costurar feridas e ressentimentos” de todos os cidadãos.Ao longo de cerca de 50 minutos, o sucessor de Nyusi prometeu lançar uma ampla reforma do Estado para reduzir o número de ministérios, criar novas entidades, fomentar a digitalização dos serviços públicos e combater a corrupção, referindo-se a esta última como “uma doença que tem corroído o nosso povo, com funcionários públicos fantasmas, cartéis que enriquecem à custa do povo. Isto tem de acabar”.“Vamos implementar mudanças importantes sobre como o Governo funciona, colocando o povo no centro das decisões”, prometeu Chapo, exemplificando que a redução do tamanho do governo, “com menos ministérios e a eliminação das secretarias de Estado equiparadas a ministérios”, vai permitir uma poupança de 17 mil milhões de meticais (258 milhões de euros) por ano, “que serão direcionados para onde realmente importa: educação, saúde, agricultura, água, energia, estradas, e melhoria das condições de vida do povo”. O novo presidente prometeu ainda rever as regalias dos dirigentes públicos e o programa de privatizações do Estado. “Estas mudanças incluem congelar a aquisição de viaturas protocolares para o Estado, para podermos adquirir ambulâncias e outras viaturas para servir o povo, e são medidas concretas que mostram que o governo está disposto a apertar o cinto e liderar pelo exemplo”, salientou, frisando que Moçambique “não pode continuar a ser refém da corrupção, do compadrio, da inércia, do clientelismo, do ‘amiguismo’, do nepotismo, do ‘lambe-botismo’, da incompetência e injustiça e dos vícios e desvios da boa conduta que é exigida aos serviços públicos”.Ausente da cerimónia esteve o candidato presidencial Venâncio Mondlane, que contesta os resultados das eleições gerais de 9 de outubro e tem liderado a contestação pós-eleitoral. Ontem, em declarações ao jornal The New York Times, Venâncio Mondlane disse, sem adiantar pormenores, que tem comunicado com Daniel Chapo através de um amigo comum, e que espera que o novo presidente negoceie uma resolução para colocar um fim à crise política e aceite as reformas que apresentou recentemente. “Não sei se todos os itens que estão na minha proposta serão cumpridos ou não. Mas penso que iniciaremos uma plataforma de diálogo”, declarou. com Lusa