A Catedral de Notre-Dame de Paris reabriu este domingo, cinco anos após o incêndio que devastou o monumento, um momento esperado pelos parisienses e por pessoas do mundo inteiro, com uma cerimónia musical e "republicana" que encheu o edifício..Embora a meteorologia tenha afetado a organização, 1.500 convidados e centenas de jornalistas de todas as nacionalidades reuniram-se no interior da Catedral gótica do século XII para assistirem à cerimónia..A intensidade das luzes e o barulho aumentaram para receber personalidades políticas, especialmente o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que recebeu muitos aplausos, e o Presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump..O som dos sinos fez-se ouvir durante alguns minutos dentro e fora da catedral dando início à cerimónia "republicana", como foi descrita pelo Presidente francês, Emmanuel Macron..Todos se levantaram quando o arcebispo de Paris, Laurent Ulrich, abriu oficialmente as portas ao som do coro e disse: "Notre-Dame abre as tuas portas"..Seguiu-se a exibição de um documentário sobre o incêndio nas televisões espalhadas pelo edifício e um desfile de homenagem aos que participaram no restauro da Catedral..Um dos pontos altos da cerimónia foi o agradecimento aos polícias e bombeiros que ajudaram a salvar o monumento, tendo sido aplaudidos por longos minutos..Embora o exterior continue com andaimes e seja visível a continuação das obras, no interior, a Catedral está limpa e iluminada, com vitrais azuis e vermelhos e ornamentos dourados..Além das peças de madeira, como o púlpito no corredor, um dos grandes destaques da noite foi o grande órgão, por cima da entrada, com os seus 8.000 tubos, que sobreviveu ao incêndio..Antes de Macron subir ao palco para fazer um discurso de "gratidão à nação francesa" e aos que "salvaram e reconstruíram a catedral", a fachada da igreja foi iluminada com a palavra "Obrigado" ("Merci"), enquanto centenas de estandartes de várias cores e personalidades religiosas desfilarem por Notre Dame..O arcebispo, que agradeceu ao Presidente e aos responsáveis pelo projeto, deu início à parte litúrgica, pedindo ao grande órgão que entoasse, fazendo quase todos olhar para o fundo da catedral..Este dia foi muito aguardado pelos franceses. Para a parisiense Muriel, de 61 anos, que vive perto da Catedral e preferiu não dar o seu nome de família, este "é um dia muito importante para os franceses, sendo um evento que pertence ao mundo inteiro".."É excecional, é um orgulho para a França e para o mundo, porque foi um trabalho muito preciso e foi necessário muito talento e profissionalismo para manter o prazo" de reabertura, disse à Lusa..Apesar da cerimónia de hoje, o público em geral está impossibilitado de entrar no monumento até domingo à noite.."Voltaremos amanhã e quando for possível tentaremos entrar na catedral", afirmou Muriel, referindo que, embora gostasse de participar na reabertura, entende que é "um evento que pode servir politicamente à França"..Por isso, também concorda com o forte dispositivo de segurança na ilha onde se localiza a catedral, com 6.000 polícias no perímetro e o fecho de estabelecimentos durante dois dias, que embora dificulte a vida a quem mora por perto "é necessário" e mostra a seriedade do evento..Bouillerot, de 75 anos, natural de Bordéus, a quase 600 quilómetros a sudoeste de Paris, concorda com o aparato policial e que a cerimónia seja mais diplomática.."É muito perigoso abrir as portas para todos hoje. Não é possível fazê-lo", disse à Lusa, acrescentando que espera "que eles (políticos) se entendam" num ambiente protegido e sem ameaças..Como a catedral de Notre-Dame "foi destruída, estamos felizes que esteja de volta", acrescentou Bouillerot, mostrando-se ansiosa para a visitar..O norte-americano Peter Mcknight, de 63 anos, esteve presente no dia do incêndio, em 15 de abril de 2019, e foi de propósito de Chicago, nos Estados Unidos, para a reabertura..A reabertura de Notre-Dame "é um grande momento, obviamente, pelo menos para a cultura ocidental", disse à Lusa, indicando que ficará mais uns dias em Paris para poder visitar a catedral.."É um pouco infeliz (não poder chegar perto da Catedral hoje), mas é compreensível, especialmente com o presidente dos EUA aqui também", afirmou o norte-americano..Sobre o incêndio, Peter Mcknight descreveu que "o mais difícil de ver foi a reação dos franceses" porque "estava tudo completamente silencioso", demonstrativo da tristeza que pairou na cidade em 2019..Também um grupo de quatro jovens portugueses de visita a Paris foi apanhado de surpresa com a reabertura da catedral e tentou ver Notre-Dame o mais perto possível, mas ficaram "desanimados" por não a poderem ver de perto.."Tinha curiosidade (...) Sabia que estava fechada, mas nem sabia que ia abrir", disse Luísa Correia, de 19 anos, que nunca viu a catedral, um dos monumentos europeus mais visitados..Já Maria Gonçalves, também de 19 anos, não se "lembrava do incêndio de Notre-Dame" e só descobriu "esta semana" que ia reabrir.."Nós planeámos a viagem e nem sequer sabíamos da reabertura, nem sequer estávamos a contar com isto, mas parece que só vamos conseguir ver por fora", disse Carolina Gonçalves, de 19 anos.