Cargos europeus. “Irritação” de Meloni torna discussão “imprevisível”
Os líderes europeus reúnem-se esta quinta-feira em Bruxelas, numa cimeira que tem como tema quente a discussão sobre os cargos de topo para o próximo ciclo institucional. Depois do acordo preliminar alcançado dois dias antes da reunião magna dos 27, as três famílias políticas envolvidas na negociação deverão apresentar o conjunto de quatro personalidades para a liderança das instituições, entre as quais consta o nome de António Costa, para a presidência do Conselho Europeu.
Espera-se que os líderes europeus deem o aval ao acordo político preliminar, mas algumas incertezas persistem. Um dos fatores de preocupação, nas horas que antecedem a cimeira, é o posicionamento “imprevisível” da primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, admitiu fonte europeia ao DN.
O governo italiano tem expressado publicamente a sua ambição por um lugar de destaque na estrutura institucional, capaz de refletir “a importância” de um país fundador, que é simultaneamente um gigante económico à escala europeia, mas que não foi incluído no núcleo duro das negociações. Ao mesmo tempo, Meloni tem dado “sinais de insatisfação”. E, a poucas horas da reunião, não se sabe como poderá ser o seu discurso perante os 27, e o reflexo no andamento das discussões.
Qualquer que seja a decisão, a chefe do Governo italiano terá de respeitar a linha vermelha traçada pelos grupos políticos que compõem a maioria parlamentar em Estrasburgo, onde uma parte do puzzle dos cargos institucionais tem de ser votada pelos eurodeputados. “Não envolver a extrema-direita”, incluindo a família política europeia que acolhe o partido Irmãos de Itália de Meloni, é a tónica do discurso dos lideres do grupo dos Socialistas & Democratas e dos liberais do grupo Renew.
Ao falar perante o parlamento italiano, Meloni lançou esta quarta-feira algumas farpas ao acordo político que será apresentado aos líderes europeus, considerando que não reflete os resultados eleitorais para o Parlamento Europeu.
“Há quem argumente que os cidadãos não são sábios o suficiente para tomar certas decisões e que a oligarquia é a única forma aceitável de democracia, mas eu discordo”, afirmou Meloni, considerando “surreal” a apresentação dos nomes “sem sequer fingir discutir os sinais dos eleitores”.
O jornal La Repubblica admite que isolar Meloni nas negociações pode induzi-la a reagir de forma imprevisível, sugerindo que a primeira-ministra está consciente de estar “encurralada e marginalizada” e solicitou uma reunião presencial com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. O jornal La Stampa dá ainda conta da irritação de Meloni, ao ponto de ter recusado atender uma chamada do primeiro-ministro e negociador-chefe do Partido Popular Europeu (PPE), Kyriakos Mitsotakis.
Por outro lado, da parte do primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, não se esperam entraves significativos, apesar da expressão pública de desagrado perante o anúncio de um acordo político preliminar. Uma fonte diplomática afirma que não haverá consequências, num dossiê que é votado por maioria qualificada e a expectativa é que o tópico dos cargos de topo fique encerrado já esta quinta-feira.
Ao final desta quarta-feira, ficou a saber-se que o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez não estará na cimeira - devido à morte do sogro, - tendo delegado o voto no chanceler alemão, Olaf Scholz que constituiu com ele a dupla de negociações dos socialistas.
A cimeira começará com a participação presencial do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, que se deslocou a Bruxelas na semana em que arrancaram negociações formais para a adesão da Ucrânia à União Europeia. Zelensky assinará um acordo de segurança com a UE. Ao abrigo desse acordo, será garantido “apoio militar e compromissos de segurança” por parte de Bruxelas, segundo um documento de trabalho consultado pelo DN.
Na carta convite que enviou aos líderes europeus, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, considerou “imperativa a intensificação do apoio militar à Ucrânia”, em particular “na defesa aérea, munições e mísseis”, devendo “continuar a mobilizar um amplo apoio internacional para uma paz justa na Ucrânia, baseada na Carta da ONU”.
Os 27 vão também abordar a crise no Médio Oriente, que assume proporção “devastadora”, conforme sublinha Charles Michel. A discussão servirá para lançar um novo apelo ao respeito pelo “direito internacional e pelo direito humanitário internacional”, reiterando “o apelo a um cessar-fogo imediato em Gaza, a libertação de todos os reféns e um aumento significativo da assistência humanitária”. A UE reforçará o apelo a “uma paz duradoura e sustentável, baseada na solução de dois Estados”.
Charles Michel espera ainda um “avanço construtivo” nas discussões “em matéria de segurança e defesa”. O Conselho Europeu deverá frisar a importância de realizar avanços sobre a estratégia para a indústria de defesa. Neste sentido, será levada a cabo “uma primeira discussão sobre as opções para mobilizar financiamento para a defesa europeia”, refere a carta.
Está em causa a necessidade de a Europa “reduzir as dependências estratégicas, aumentar a sua prontidão e capacidade de defesa em geral”, além de “fortalecer ainda mais a sua base tecnológica e industrial de defesa”. Ainda no capítulo da defesa, o Conselho Europeu vai debater “as necessidades urgentes, imediatas e a médio prazo em matéria de defesa e iniciativas de defesa europeias”.