Calor recorde na Europa, EUA e China. Temperaturas podem chegar aos 48º na Sicília e Sardenha

Agência Espacial Europeia avisa que a Europa pode registar "as temperaturas mais altas já registadas".
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A onda de calor que está a atingir partes da Europa, China e Estados Unidos, onde são esperadas temperaturas recordes para este fim de semana, é o reflexo gritante dos perigos de um clima mais quente.

Alertas de calor extremo foram emitidos para mais de 100 milhões de norte-americanos, com o Serviço Nacional de Meteorologia a prever condições particularmente perigosas no Arizona, Califórnia, Nevada e Texas.

Ao mesmo tempo, vários países europeus, incluindo França, Alemanha, Itália, Espanha e Polónia, também estão a enfrentar temperaturas escaldantes.

Os termómetros podem subir até 48 graus Celsius nas ilhas da Sicília e da Sardenha - "potencialmente as temperaturas mais altas já registadas na Europa", de acordo com a Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês)

"Um anticiclone - uma região de alta pressão atmosférica - denominado de Cerberus (em homenagem ao monstro do Inferno de Dante, descrito na Divina Comédia), vindo do sul fará com que as temperaturas subam acima de 40° C em grande parte da Itália. Isso ocorre depois de uma primavera e início do verão com tempestades e inundações", refere a ESA.

O norte de África também enfrenta temperaturas elevadas e o serviço meteorológico marroquino emitiu um alerta vermelho de calor extremo para as partes do sul do país.

Algumas regiões da China, incluindo a capital Pequim, também estão a deparar-se com temperaturas sufocantes. Uma grande empresa de energia chinesa informou que a geração de energia num único dia atingiu, na segunda-feira, um recorde.

Depois de junho ter sido considerado o mais quente já registado, de acordo com a agência espacial norte-americana NASA e o Copernicus Climate Change Service, da União Europeia, o calor não vai dar tréguas.

O clima extremo resultante do aquecimento climático está "infelizmente a tornar-se no novo normal", alerta o secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Petteri Taalas.

O calor excessivo é um dos eventos meteorológicos mais mortais, de acordo com a OMM. Um estudo recente estima que mais de 61.000 pessoas morreram de calor durante o verão recorde da Europa no ano passado. Em Portugal, o número de mortes causada pelas altas temperaturas atingiu mais de 2000 pessoas em 2022, especialmente idosos com idade superior aos 80 anos.

Um fator que contribui para as temperaturas mais altas este ano pode ser o fenómeno climático conhecido como El Niño.

Os eventos do El Nino, que ocorrem a cada dois a sete anos, são marcados por temperaturas da superfície do mar mais quentes do que a média no Pacífico central e oriental, perto do Equador, e duram cerca de nove a 12 meses.

A América do Norte já assistiu a uma série de eventos meteorológicos extremos este verão, com o fumo de incêndios florestais, que continuam ativos no Canadá, a provocar poluição do ar extaordinária em grandes partes dos Estados Unidos.

O nordeste dos EUA, particularmente Vermont, também foi recentemente atingido por chuvas torrenciais que causaram inundações devastadoras. De acordo com cientistas do clima, o aquecimento global pode causar chuvas mais fortes e frequentes.

Enquanto isso, residentes de grande parte do sul dos Estados Unidos têm enfrentado altas temperaturas que se prolongam durante semanas.

Daniel Swain, cientista do clima da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, disse que a temperatura no Vale da Morte pode igualar ou superar o recorde de temperatura do ar mais quente já medido com segurança na Terra.

O recorde oficial da OMM é de 56,7 °C registado no Vale da Morte, no deserto do sul da Califórnia. Este valor foi medido em 1913 e Swain mantém os 54,4 ºC de 2020 e 2021.

Os oceanos também não foram poupados ao calor neste início de verão. As temperaturas da água na costa sul da Florida ultrapassaram 32 °C, de acordo com a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica.

Quanto ao Mediterrâneo, as temperaturas da superfície serão "excecionalmente altas" nos próximos dias e semanas, disse a OMM, ultrapassando 30 °C em algumas partes, vários graus acima da média.

O aquecimento das temperaturas oceânicas pode ter consequências devastadoras para a vida aquática, tanto em termos de sobrevivência quanto ao nível de migração, e também pode impactar negativamente a indústria pesqueira.

No outro extremo do planeta, o gelo do mar antártico atingiu o seu nível mais baixo registado num mês, em junho.

O mundo aqueceu uma média de quase 1,2 °C desde meados de 1800, desencadeando ondas de calor mais intensas, secas mais severas em algumas áreas e tempestades agravadas pelo aumento do nível do mar.

Taalas, da OMM, disse que a atual onda de calor "sublinha a crescente urgência de reduzir as emissões de gases de efeito estufa o mais rápido e profundamente possível".

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