Calor provoca 61 672 mortes na Europa e mais de 2 mil em Portugal

Por toda a Europa foram registados altos números de mortes causadas pelas elevadas temperaturas durante o verão de 2022. De acordo com os dados agora conhecidos as faixas etárias mais velhas foram as com piores índices, principalmente as pessoas com 80 ou mais anos.
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O verão de 2022 foi marcado pelo calor intenso que se fez sentir por todo o continente europeu, que acabou por ajudar a provocar inúmeros incêndios florestais e a seca extrema em diversas regiões.

Além dos hectares ardidos durante o ano - Portugal foi o segundo país da Europa mais afetado, com, por exemplo, 153 fogos a queimarem uma área de 949 km2 - também as mortes alcançaram números alarmantes.

De acordo com um estudo divulgado ontem pela revista científica Nature Medicine, ocorreram cerca de 61 672 mortes relacionadas com o calor na Europa, entre 30 de maio e 4 de setembro de 2022. Este número foi semelhante apenas ao recorde de excesso de mortalidade de junho, julho, agosto e setembro de 2003, que chegou a atingir as 71 449 mortes por motivos diretamente relacionados com o calor.

Das 61 672 mortes atribuídas ao pico de calor, uma grande parte está concentrada nos países mais próximos do Mar Mediterrâneo. Neste caso, em Itália terão ocorrido 18 010 mortes, em Espanha 11 324 e na Alemanha 8173 - equivalente a mais de metade de todos os óbitos.

Em Portugal, o número de mortes causada pelas altas temperaturas atingiu mais de 2000 pessoas, especialmente idosos com idade superior aos 80 anos.

Quanto à taxa de mortalidade, Itália ocupa o topo da lista com 295 mortes por milhão, seguindo-se a Grécia com 280, Espanha com 237, e Portugal, em quarto lugar, com 211 mortes por milhão.

De acordo com os resultados do trabalho da Nature Medicine, houve um grande aumento da mortalidade sobretudo durante os meses de junho e agosto de 2022, quando se registaram as temperaturas mais altas.

Tendo em conta a população, a análise estima que a mortalidade devido ao calor afetou mais as mulheres que os homens (mais 56%). Assim sendo, globalmente, cerca de 114 mortes por milhão foram relacionadas com o calor, sendo 145 mulheres e 93 mortes masculinas por milhão.

Já em termos de idade, as pessoas mais idosas são as mais afetadas. Logo, a taxa de mortalidade também aumentou tendo em conta a idade, com 16 , 160 e 1684 mortes por milhão nos grupos etários 0-64, 65-79 e 80+ anos, respetivamente

O estudo, que teve como base dados de mortalidade do Eurostat, envolveu cientistas do Instituto Nacional de Saúde e Investigação Médica (Inserm) de França e do Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) que analisaram dados de temperatura e mortalidade para o período 2015-2022. Os responsáveis contabilizaram mortes de 823 regiões em 35 países europeus, representando um total de população de 543 milhões de pessoas.

Nesse contexto, construíram ainda modelos epidemiológicos para prever a mortalidade para todas regiões durante todas as semanas do verão de 2022.

Face as consequências das alterações climáticas, os autores deste estudo frisam que os resultados divulgados ontem devem consciencializar as autoridades da União Europeia a aumentar "urgentemente a ambição e a eficácia dos planos de prevenção e adaptação ao calor". Isto porque o aquecimento "não vai abrandar", antes pelo contrário, "as previsões alertam para o seu aumento".

"É um número muito alto de mortes. Conhecíamos os efeitos do calor na mortalidade com o precedente de 2003, mas com esta análise vemos que ainda há muito trabalho a fazer para proteger as populações", disse à agência France Presse o investigador do Inserm e coautor do estudo Hicham Achebak.

De acordo com as estimativas dos cientistas, sem uma resposta efetiva o continente europeu vai enfrentar uma média de mais de 68.000 mortes todos os verões até 2030 e mais de 94.000 até 2040.

Com Lusa

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