Nayib Bukele e a mulher, Gabriela Rodriguez de Bukele, no Palácio Nacional este domingo à noite.
Nayib Bukele e a mulher, Gabriela Rodriguez de Bukele, no Palácio Nacional este domingo à noite.EPA/BIENVENIDO VELASCO

Bukele garante polémica reeleição em El Salvador

Depois de contornar a Constituição para concorrer a um segundo mandato, conseguiu obter mais de 80% dos votos.
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Os votos ainda estavam longe de estar todos contados quando, no domingo à noite, Nayib Bukele anunciou que tinha sido reeleito presidente de El Salvador com o apoio de mais de 85% dos eleitores. Ontem à tarde, numa altura em que já estavam contabilizados 70% dos votos, os números indicavam que o homem que se autointitula como o “ditador mais cool do mundo” estava a ganhar com 83%. Os seus dois adversários não iam além dos 6% cada. 

“El Salvador quebrou todos os recordes de todas as democracias em toda a história do mundo”, disse no domingo à noite Bukele, ao lado da mulher, a partir da varanda do Palácio Nacional. “Desde que existe a democracia, nunca um projeto ganhou com o número de votos que obtivemos hoje. É literalmente a percentagem mais elevada de toda a história. É a maior diferença entre o primeiro e o segundo lugar em toda a história”, acrescentou. O seu partido, o Novas Ideias, alargou a maioria que já tinha na Assembleia Legislativa, garantindo 58 dos seus 60 deputados. 

Bukele prosseguiu o seu discurso aos milhares de apoiantes que celebravam a sua reeleição na praça central de São Salvador dizendo que “El Salvador passou de [país] mais inseguro para o mais seguro. Agora, nestes próximos cinco anos, esperem para ver o que vamos fazer”. 

A base do sucesso de Nayib Bukele deve-se, principalmente, à sua política de segurança e à guerra contra os gangues - levando à prisão de mais de 75 mil salvadorenhos sem acusação, enchendo as prisões do país (incluindo a maior que existe na América Latina) - e fazendo diminuir os homicídios no país, tudo às custas de um estado de exceção que reduziu as liberdades individuais. No entanto, analistas ouvidos pelo The Guardian consideram que o encarceramento em massa de 1% da população não é sustentável a longo prazo.
“Se já superámos o nosso cancro, com as metástases que eram os gangues, agora só nos resta recuperar e ser a pessoa que sempre quisemos ser”, disse Bukele.

De acordo com analistas, o maior desafio deste segundo mandato será tentar revitalizar a economia de El Salvador, que nos últimos cinco anos registou o crescimento mais lento da América Central, sendo que um quarto dos salvadorenhos vive na pobreza.

Aos 37 anos, Nayib Bukele tornou-se em 2019 o presidente mais jovem da América Latina, tendo sido eleito como um outsider e acabando com a hegemonia dos partidos tradicionais, que praticamente afastou da Assembleia Legislativa em 2021.

Apesar de a Constituição proibir mandatos consecutivos, a interpretação do Poder Judicial (controlado por Bukele) foi que o presidente podia participar nas eleições caso se afastasse do cargo seis meses antes. Foi o que fez, com a autorização da Assembleia Legislativa.

Questionado no domingo se tenciona levar a cabo mudanças na Constituição para incluir a possibilidade de reeleição indefinida, Bukele afirmou que “não achava que uma reforma constitucional seria necessária”, mas não esclareceu sobre se tentará concorrer a um terceiro mandato.

ana.meireles@dn.pt

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