"Biografia de Magalhães nasceu de conversas com cientistas da NASA"
Durante anos, Laurence Bergreen foi publicando as suas reportagens e ensaios em jornais e revistas americanos como The New York Times, Los Angeles Times, The Wall Street Journal, Chicago Tribune, Newsweek e Esquire. Depois, os livros surgiram naturalmente, desde a biografia do músico Louis Armstrong até uma história da NASA e a seguir grandes exploradores. Formado em Harvard, este nova-iorquino de 72 anos tornou-se um historiador de impacto global e o seu Over the Edge of the World: Magellan"s Terrifying Circumnavigation of the Globe, de 2003, intitulado em português Fernão de Magalhães - Para Além do Fim do Mundo, não é alheio a esse sucesso. Manuel Vaz, da Expanding World, foi um dos leitores da biografia do navegador português e quando me apresentou Bergreen, esta semana em Nova Iorque, já me tinha confessado que o livro era "a semente" da GLEX Summit, evento que envolve o Clube de Exploradores de Nova Iorque, também o Turismo de Portugal e uma série de outras entidades, como o governo dos Açores, onde este verão a cimeira que junta desde astronautas a cientistas se realiza. A entrevista foi feita no Harvard Club de Nova Iorque e antecedida de um almoço a convite do historiador americano, durante o qual percebi a sua admiração por Magalhães, que, sublinha, tem uma "mística" que fascina até os cientistas da NASA. Bergreen tem como mais recente livro uma investigação sobre Francis Drake e a ascensão marítima da Inglaterra (Em busca de um reino, edição portuguesa da Bertrand, como outras obras do americano). Há anos que li a biografia de Magalhães, mas não resisti a ir à Strand, uma livraria também "mítica" na Broadway, comprar um exemplar da edição americana e pedir um autógrafo ao autor. Não consegui porém - e no almoço até falámos mais disso do que na entrevista gravada - que se comprometesse a escrever sobre Vasco da Gama.
Sei que a NASA lhe pediu um dia para batizar alguns lugares em Marte, crateras e outros acidentes geológicas, baseado nos sítios onde Fernão de Magalhães esteve, mas também é verdade que foi durante a pesquisa e as entrevistas para o seu livro sobre a NASA que pensou em começar a escrever esta biografia do navegador português ao serviço de Espanha?
Sim, foi uma série de circunstâncias engraçadas. Eu fui a uma grande conferência nos anos 1990 na Carolina do Sul e estava num painel pequeno - às vezes ficava em painéis grandes, outras em pequenos [riso] -, dava palestras e tinha acabado uma biografia de Louis Armstrong, o músico. Noutro painel estava uma cientista da NASA chamada Claire Parkinson, que estudava o gelo dos mares a partir de satélites. Tinha tudo que ver com alterações climáticas e assuntos relacionados. Ela era muito séria, obviamente muito dedicada e escrupulosa e começámos a conversar sobre a NASA que sempre me fascinou desde criança. Ela convidou-me a ir ao Goddard Space Flight Center, nos arredores de Washington para a ver e a outros cientistas trabalhar. Nessa altura, eu nem sequer sabia que a NASA tinha cientistas, pensava que tinha engenheiros e astronautas que é o que toda a gente conhece. Eu estava preocupado com a questão da segurança, mas ela disse que não havia problema se eu fosse cidadão americano porque não havia lá nada de secreto, era tudo informação pública e dados públicos, portanto se formos contribuintes está tudo bem. Assim, vários meses depois fui lá. Penso que depois do 11 de Setembro a segurança é mais apertada, mas na altura não era muita. Ela mostrou-me algum do seu trabalho e eles estavam ansiosos para que alguém escrevesse sobre isso, para lá do mundo das revistas científicas. Pensei neste projeto e a Claire disse que queria que eu conhecesse Jim Garvin que, na altura, trabalhava lá e era especialista em Marte - mais tarde tornou-se cientista-chefe na NASA e, agora, é cientista-chefe do Goddard Space Flight Center. No Goddard não lançam foguetões como no Cabo Canaveral, contudo é onde monitorizam e controlam todos os aparelhos espaciais em redor da Terra. É incrível! Pude visitar aquela sala - não sei se se pode lá ir agora - e foi fenomenal, espantoso, e toda a gente foi muito simpática e desejosa de explicar as coisas. Conheci Jim Garvin e pensei que íamos conversar durante cinco minutos, mas Garvin começou a falar e falou durante cerca de hora e meia ou duas horas e eu só escrevia o mais rapidamente que conseguia - fiquei com uma cãibra no braço de tanto escrever - porque não estava a gravar a conversa. Ele foi obviamente brilhante e com um entusiasmo impressionante que era contagioso. Sei que o conhece...
Entrevistei-o em 2019 em Lisboa, quando participou na GlexSummit e sim é um cientista genial que sabe comunicar.
Garvin é muito, muito generoso com os seus pensamentos e conhecimento e começou a explicar o veículo espacial em que estava a trabalhar chamado Magellan. Demorei quase um ano - e não estou a exagerar porque a minha mente por vezes é lenta [riso] - a pensar que poderia ser interessante escrever sobre Magalhães. Eu não sabia muito sobre o navegador e estava a escrever um livro sobre um tema completamente diferente. Depois escrevi um livro sobre a NASA a que chamei Viagem a Marte e que foi o livro mais experimental que já escrevi - a história da exploração de Marte e a forma como a ciência sobre Marte mudou ao longo dos anos. A seguir pensei que poderia ser interessante escrever sobre a viagem de Magalhães, pois havia poucos livros sobre ele em inglês e era um tema que, quanto a mim, precisava de ser atualizado. Cristóvão Colombo era-me mais familiar, assim como outros, até Vasco da Gama me era mais familiar, mas havia uma mística à volta de Magalhães... Para dar uma ideia do pouco que eu sabia sobre ele quando comecei, fui com um amigo, que é uma das pessoas mais inteligentes que conheço, à Columbia University Library que tem uma enorme biblioteca de investigação e não consegui encontrar nenhum livro sobre Magalhães. Isto foi antes da Internet. Fiquei tão espantado que fui perguntar à bibliotecária porque é que não havia livros sobre "Magellan" e ela respondeu-me que tinha de procurar o nome em português, Magalhães, claro. Aquilo para mim foi como o "Abre-te Sésamo" e pensei que era o correto usar a ortografia certa. Ter podido traduzir muitos daqueles documentos que não existiam em inglês também foi muito importante para mim.
É casado com uma brasileira. Consegue ler português e espanhol?
Tenho uma investigadora que traduz aquilo que preciso. Eu só sabia ler francês, o que ajudava, mas aprendi português, que consigo ler mais facilmente do que falar. Mas isso foi fundamental porque eu tentava sintetizar os vários pontos de vista num só que fosse mais abrangente do que uma visão somente americana.
Quando começou a fazer a pesquisa sobre Magalhães e foi sabendo mais sobre o homem e a expedição lançada em 1519, a ideia de escrever uma biografia ficou cada vez mais forte?
Sim. Se voltasse a escrever esse livro hoje, seria de alguma forma diferente, porque fiquei a conhecer mais nuances, não seria dramaticamente diferente, mas seria diferente em alguns aspetos. É curioso, mas ficamos a saber ainda mais sobre um assunto depois de publicarmos alguma coisa sobre ele a partir das reações que recebemos. Os debates com as pessoas são importantes porque elas dizem-nos que nos esquecemos disto, que deveríamos ter falado mais daquilo, etc. Eu sei aquilo que sei, mas o que quero conhecer são pontos de vista diferentes.
O que é que este homem representa para si enquanto biógrafo? Foi realmente alguém que merece esta "mística", tal como disse?
Acho que existe uma mística em redor dele, sabe-se lá porquê [riso]. Há uma mística sobre alguns jogadores de futebol, sobre alguns políticos e sobre outros não... Há qualquer coisa sobre Magalhães que não é inteiramente racional, mas que é atrativa. Atrai a imaginação porque toda a gente sonha com viajar à volta do mundo e no tempo dele era impossível ou apenas um sonho. Fiquei mesmo muito interessado nele, pois era alguém que forçava os limites, como se costuma dizer. Quando estamos a fazer um livro é uma forma de exploração ao recriarmos o que ele fez. Aqueles momentos em que estamos a pesquisar são os mais interessantes. Lembro-me de ter aprendido a fazer isso com os cientistas da NASA, admiradores de Magalhães, que são muito precisos, mais precisos do que os historiadores, por exemplo. Os cientistas são muito ligados aos dados, debatem ferozmente e ocasionalmente chegam a um consenso, mas depois aparecem dados novos... Ao ver como eles eram meticulosos e como debatiam uns com os outros resultados que podiam demorar semanas, meses ou anos, pois a ciência não pára de evoluir, foi realmente interessante. Aí pensei se poderia aplicar ou pedir emprestada alguma daquela precisão ao escrever sobre Magalhães ou outros livros sobre explorações, e tentei fazer isso com a ajuda dos cientistas da NASA. Recebi ajuda de Jim Garvin, entre várias outras pessoas de lá, sobre aspetos da exploração de Magalhães no que respeita aos ventos, ao clima, etc., e todos foram muito prestáveis. São pessoas mesmo muito desejosas de partilharem o seu saber.
Há muita ciência na exploração de Magalhães, na busca de um caminho por Ocidente para as ilhas das especiarias? Ele sabia o que estava a fazer...
Sim, para uma pessoa como ele, era muito científico. Ele observava todo o tipo de fenómenos, muitos deles desconhecidos até então. Sabia de astronomia, marés, posição das massas de terra, etc.
Mas era também um líder.
Era um líder, de uma forma tirânica. Não era um líder democrático. [riso] Gostava de falar de uma coisa, já voltarei a Magalhães, até porque quero falar dele no contexto da rivalidade espanhola e portuguesa - Lembro-me de ir a uma conferência científica sobre Marte e de haver lá 20 ou 30 jornalistas que estavam constantemente a perguntar: O que é que vão descobrir nesta missão? Ia haver uma missão espacial a Marte em breve. A cientista do MIT que falava, respondeu: Se nós soubéssemos o que íamos descobrir, não seria uma descoberta, pois não? E é isso que é tão intrigante, o não sabermos o que vai acontecer... é um mistério até lá chegarmos. Sempre que respondemos a uma pergunta, a resposta levanta mais duas perguntas: porque é assim? Porque é daquela forma? Uma das coisas importantes sobre Magalhães é que ele era um mestre na navegação e conseguia lidar com quase tudo, mesmo quando havia problemas num navio ele conseguia repará-lo, mas os desafios mais difíceis que ele enfrentou não foram naturais, como marés ou ventos, foram as pessoas. Nomeadamente, os espanhóis, porque eles consideravam-se os verdadeiros líderes da expedição, financiada pelo imperador Carlos V. A aristocracia espanhola não era necessariamente constituída por navegadores experientes e foi a maior ameaça para Magalhães. Durante a maior parte da viagem ele teve de encontrar maneiras de afirmar o seu comando, porque enfrentava constantemente a ameaça de um motim.
Sabemos isso devido ao italiano Antonio Pigafetta, pois não há nada escrito pelo próprio Fernão de Magalhães, um relato seu da viagem até ser morto nas Filipinas em 1521...
Não. Temos Pigafetta e alguns outros documentos. Depois de a viagem acabar houve muitas investigações e testemunhos em Espanha sobre ela, por isso podemos juntar tudo. Talvez devido à ausência de um relato pelo próprio Magalhães, Pigafetta foi muito importante. Ele tinha uma sensibilidade diferente porque era veneziano. Pigafetta era um personagem fascinante. Escreveu em francês, que era a língua dos escritores cultos da altura. Consigo lê-lo porque era um francês muito simples, mais simples do que o francês contemporâneo. A sua sensibilidade tinha muito de ironia na forma como via as coisas, enquanto alguém como Magalhães era muito ligado aos factos e muito literal. O seu relato tem muita subjetividade.
Pigafetta era um grande admirador de Magalhães.
Sim, claro. Ele achava que Magalhães era muito corajoso e tinha muito poucas críticas a fazer-lhe, claro que Pigafetta tem também a sua parcialidade, mas foi uma ajuda fantástica ter esse relato.
Não há nenhum escrito de Fernão de Magalhães?
Não. Há algumas cartas que ele escreveu, mas para sabermos exatamente o que ele pensava ou sentia na viagem temos de recorrer a fontes exteriores e essa não é a forma perfeita de trabalhar.
Com outras figuras históricas que biografou, como Marco Polo e Colombo, disse-me durante o nosso almoço antes desta entrevista, imaginar até uma conversa com elas, mas com Magalhães é impossível?
Sim. Por exemplo o livro que publiquei em 1997 sobre o músico Louis Armstrong, foi muito fácil nesse aspeto. Todos nós conhecemos a sua personalidade e conseguimos imaginar como seria um encontro com Louis Armstrong, pois aconteceu a muita gente, mas com Magalhães não podemos, só sabemos poucas coisas. A verdade é que sabemos o que ele fez, mas não sabemos realmente como é que ele se sentiu ou o que pensava, temos uma ideia, mas não nas suas próprias palavras. Em relação a Louis Armstrong ou a outro americano, um escritor, sobre quem escrevi, James Agee, sabemos exatamente o que pensavam, porque eles escreveram-no. De Fernão de Magalhães não temos nada, nem um diário.
Durante a pesquisa para o seu livro viajou pelo Estreito de Magalhães, não foi?
Sim, eu quis refazer a rota dele e fi-lo. Foi fantástico!
Mas não consegue imaginar o que é que Magalhães pensava quando finalmente estava a descobrir a passagem do Atlântico para o Pacífico?
Bom, nós tentamos, mas... Já esteve no Estreito de Magalhães?
Não, ainda não. O mais perto foi o Rio da Prata, uma das falsas passagens com que Magalhães se deparou.
Oh, o Estreito de Magalhães é fantástico! Atravessá-lo é uma experiência religiosa e não serei o único a dizê-lo. As montanhas, o tempo em mudança constante, a vida selvagem que tem, o ar puro...
E a aproximação ao Oceano Pacífico é repentina?
Sim. Ele achava que atravessaria o Pacífico numa semana, porque ninguém tinha consciência que é a maior massa de água do planeta. É incrível. Se for ler alguns dos relatos de pessoas que atravessam o Estreito, vê que a natureza é avassaladora. Eu nasci aqui em Nova Iorque, em 1959, e vivo hoje em Manhattan, onde a natureza se limita ao Central Park que é muito agradável, mas o Estreito de Magalhães é impressionante.
Mas depois disso, a travessia do Pacífico também foi desafiante.
Sim. Penso que dominaria essencialmente o sentimento de medo, de terror, porque eles não sabiam o que tinham pela frente, tinham fome, sofriam de má nutrição... Magalhães esperava chegar à China ou a algum lugar a qualquer momento e só havia em redor água, água, água. Eles viajavam a alta velocidade, relativamente falando, talvez 15 nós devido aos ventos, mas não sabiam quando é que aquilo iria acabar. As pessoas sabiam que a Terra era redonda, mas Magalhães não tinha a certeza de qual era a distância. E havia a ideia de que se se navegasse para longe o suficiente, não se caía da borda do mundo necessariamente, mas desaparecia-se no nevoeiro e alguma coisa estranha aconteceria. Ele tinha receio do que estaria lá à frente. Outras civilizações, como a chinesa, sabiam porque tinham feito explorações por ali. Para mim, um dos preconceitos mais fascinantes foi quando ele deu de caras com destroços de artefactos de explorações chinesas, não muito anteriores à dele, mas, claro, completamente desconhecidas. Aí o espanto foi total, é como nós estarmos no meio de nada e encontrarmos um computador muito avançado. Perguntamo-nos como é que aquilo foi ali parar.
E ele ficou muito surpreendido quando encontrou os tais artefactos, provavelmente das expedições de Zheng He?
Sim. Não conseguia perceber.
Foi nas atuais Filipinas?
Sim, porque ele não sabia quão avançada era a civilização chinesa.
Mas, de alguma forma, quando Magalhães estava a chegar às Filipinas estava a chegar praticamente a um sítio que ele já conhecia, pois já tinha estado na região vindo do Índico, ao serviço de Portugal. Aí ele marca a diferença em relação aos espanhóis, pois conhecia aquele sítio, tal como alguns tripulantes portugueses, certo?
Sim. De certa maneira, os espanhóis eram mais convencionais na maneira de pensar e tentaram sabotá-lo com motins, mas ele sobreviveu à custa de capacidade e astúcia pura, como ao escapar de uma prisão liderada pelos homens que eram suposto servi-lo. Todos esses paradoxos foram fascinantes e espantosos. Senti que podia contar muito da história, mas que havia ainda muitas perguntas e espaços em branco.
A inesperada morte de Magalhães numa escaramuça entre rivais asiáticos foi uma coisa que foi fácil para si compreender?
Bom, eu basicamente segui a descrição de Pigafetta. Era uma descrição exata? Não consegui perceber que havia inexatidão, mas é uma descrição comovente, muito dramática e eloquente.
Porque mostra alguma loucura, mas também bravura?
Sim, sim. Conseguimos sentir que Pigafetta assistiu a essa tragédia...
Sente que vista do século XXI, esta morte de Magalhães às mãos de Lapu-Lapu, hoje herói das Filipinas, mostra que os europeus do século XVI não conseguiam ganhar em todo o lado, não eram invencíveis?
Sim, penso que Magalhães desafiava os limites enfrentando o desconhecido. Todo este livro é sobre isso, enfrentar o desconhecido. É por isso que eu gosto de escrever sobre coisas que são novas e diferentes, em vez de coisas que sejam muito familiares. Penso que, na verdade, as pessoas preferem ler sobre temas familiares, porque dá segurança...
Esse segundo momento da viagem, quando Elcano se tornou o líder da expedição - e conclui esta circum-navegação que não estava nos planos, foi uma coisa que aconteceu, e Elcano, do ponto de vista português, é visto como uma personagem secundária - e conseguiu chegar a Espanha com a nau Victoria, foi também importante?
Elcano é, de alguma forma, uma figura misteriosa, em parte porque é basco e os bascos eram separatistas, com uma língua diferente e uma mentalidade diferente. Para os espanhóis não era fácil dar o crédito total a este navegador basco. Ele demorou muito tempo a encontrar o seu lugar. Não sabemos realmente muito sobre ele, tem algumas biografias, mas a verdade é que não sabemos muito. Penso que ele morreu pouco depois.
Numa segunda viagem, em 1526, já no Pacífico.
Pois, a verdade é que não temos um relato em primeira mão sobre como era realmente Sebastião Elcano. É engraçado porque estes exploradores têm por vezes uma personalidade que comunica por si própria... Lembro-me de estar num evento da NASA há uns 20 anos e John Glenn, o primeiro americano a percorrer a órbita da Terra, lá estar. Nessa altura, ele ia ao espaço pela última vez, tinha 80 anos, e eu pensei que ia conhecer aquela figura carismática e eletrizante, uma estrela, em vez disso conheci o verdadeiro John Glenn [riso]. Ele é um herói, extraordinariamente corajoso, isso é indiscutível, mas tinha uma personalidade muito discreta, muito calmo, amigável, mas discreto.
Já falámos de outros livros seus, sobre Marco Polo, sobre Colombo, etc. O Dia de Portugal - em que esta entrevista vai ser publicada - celebra Camões, o poeta, e o seu poema épico, Os Lusíadas, sobre Vasco da Gama, descobridor do caminho marítimo para a Índia. Vasco da Gama poderia ser o tema de um livro seu?
Sim, já pensei nisso e fiz alguma pesquisa. É muito complicado, claro que ele navegou para o outro lado, os outros navegaram para Ocidente e ele navegou para Oriente, mas, de alguma foram, ele não me pareceu uma pessoa simpática [risos]... mas também terrivelmente corajoso e tenaz. Eu tenho uma lista de pessoas sobre quem gostaria de escrever - Drake esteve nessa lista durante quase 20 anos até finalmente escrever sobre ele e já está traduzido para português -, mas ao pensar em Vasco da Gama não tenho a certeza até que ponto uma editora americana estaria interessada em publicar, talvez... A história é espantosa, mas ele é um tipo de figura tirânica, talvez um pouco melhor para o fim, não tenho a certeza... Acho que tenho de repensar o assunto.
leonidio.ferreira@dn.pt
O DN viajou a convite da GLEX Summit
Laurence Bergreen
Bertrand
442 páginas
15,15 euros
Laurence Bergreen ganhou fama com biografia de Magalhães, mas outros exploradores que mereceram livros seus foram Marco Polo, Cristóvão Colombo e Francis Drake.