Biden pressiona para Netanyahu chegar a acordo de trégua com o Hamas
Um dia depois de ter discursado no Congresso dos EUA, onde devolveu as críticas à gestão da guerra com o Hamas com insultos aos manifestantes e promessas de destruição do grupo islamista, Benjamin Netanyahu foi recebido na Casa Branca pelo presidente Joe Biden e, mais tarde, pela vice Kamala Harris no edifício Eisenhower. De Biden, o primeiro-ministro israelita foi pressionado para alcançar um acordo de trégua.
Reunidos na Sala Oval, Biden e Netanyahu não responderam a qualquer questão dos jornalistas. Estes ouviram o início da conversa, na qual o israelita voltou a chamar o democrata de “orgulhoso sionista irlandês-americano” e no qual ambos disseram estar entusiasmados para continuarem a trabalhar juntos nos próximos meses.
Teve de ser o porta-voz do Conselho Nacional de Segurança Nacional, John Kirby, a descodificar o que estava a ser discutido na reunião: “A profunda e forte convicção do presidente de que temos de conseguir este acordo sobre os reféns e conseguir um cessar-fogo, pelo menos na primeira fase, de seis semanas”. Este reconheceu divergências, mas que estas são ultrapassáveis se houver vontade de chegar a um compromisso. À CNN, um alto funcionário governamental disse estar-se “mais perto do que nunca” de uma trégua. “Cabe aos israelitas aceitá-lo.”
John Kirby disse também que Biden iria condenar a instabilidade na Cisjordânia, onde se continua a “assistir a atos de violência inaceitáveis”, no que poderá ser quer uma referência à atuação do exército israelita, quer aos colonos. A administração Biden impôs sanções a alguns colonos, mas num governo israelita em que há ministros a viver em colonatos - ilegais à luz do direito internacional -, não é de esperar uma mudança de política.
No dia em que Telavive anunciou ter recuperado os corpos de cinco israelitas (todos mortos no dia 7 de outubro) num túnel em Khan Yunis, Biden e Netanyahu encontraram-se com familiares de reféns.
Junto da Casa Branca houve novos protestos pela presença do líder israelita, inclusive com judeus de um lado e do outro da barricada. Os democratas também se mostraram divididos. Depois do discurso no Congresso, o senador Bernie Sanders chamou Netanyahu de “criminoso de guerra” e de “mentiroso”; a ex-presidente da Câmara Nancy Pelosi classificou a peça oratória como a “a pior intervenção de qualquer dignitário estrangeiro”.
No entanto, os excessos de alguns manifestantes levaram Kamala Harris - descrita por John Kirby como uma aliada “inabalável” de Israel - a condenar os “atos desprezíveis de manifestantes antipatrióticos”. Houve quem entoasse cânticos antissemitas, brandisse bandeiras do Hamas e queimasse a dos EUA. “Abominável”, disse Harris.
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