Depois de ter realizado consultas com os presidentes da Assembleia Nacional, do Senado, do Tribunal de Contas e com o governador do Banco de França, e por fim reunir-se com o presidente, François Bayrou recebe na palácio de Matignon, nesta segunda e terça-feiras, os representantes dos partidos antes de anunciar a formação do novo governo. Uma lista que terá ainda de receber o aval de Emmanuel Macron. Em entrevista, o novo chefe de governo reconhece o estado transitório do seu cargo, o qual antevê vir a desempenhar de forma “plena” e em “complementaridade” com o presidente, e dotado de autoridade. É preciso recuar a 1934 na história da política francesa para encontrar um ano com quatro primeiros-ministros, um dado indicativo da crise em que o país se encontra mergulhado desde a surpreendente dissolução da Assembleia em resultado das eleições europeias de junho. Na entrevista ao La Tribune Dimanche, o primeiro-ministro de 73 anos delineou o seu governo ideal, composto por figuras experientes. “Precisamos de inventar uma autoridade que os franceses compreendam, na qual se reconheçam e na qual saibam que terão o lugar que lhes compete”, explicou. O centrista elogiou Macron, de quem é há muito conselheiro. “A relação com o presidente é, antes de mais, uma relação pessoal. Ele é um homem cuja ousadia e coragem as pessoas podem não perceber. Não há nada mais simples para mim do que trabalhar com ele”, assegurou. A imprensa francesa assegura que na sexta-feira de manhã, o encontro entre ambos foi marcado por uma discussão violenta que levou à ameaça de Bayrou acabar com a plataforma de entendimento entre o seu partido, MoDem, e o de Macron. “Aqueles que pretendem escrever a história de um confronto entre o Palácio do Eliseu e Matignon, enganar-se-ão”, disse. No entanto, Bayrou reconheceu que, em Matignon, “nunca se deve esquecer que se está de passagem”. Na mesma edição dominical do La Tribune, o ex-presidente Nicolas Sarkozy, que tentou manobrar Macron para que este designasse o ministro da Defesa Sébastien Lecornu para a chefia do governo, não escondeu a sua frustração: “Lamento pela França este espetáculo angustiante e lamento pelo presidente da república, que se submete a combinações que ninguém consegue compreender.” Sarkozy não perdoou o facto de em 2007 Bayrou não o ter apoiado na segunda volta e, sobretudo, em 2012, quando perdeu para François Hollande. Bayrou, que no sábado reconheceu a “situação tão grave” em que as finanças do país se encontram (défice a equivaler 6,1 do Produto Interno Bruto e a dívida pública em 112%), começou a ser condicionado pelos partidos antes das respetivas reuniões. Começa por receber o líder da Reunião Nacional Jordan Bardella, e a chefe da bancada parlamentar Marine Le Pen e o partido de extrema-direita já fez saber que quer o fim da controversa reforma das pensões. E também fez mira ao possível entendimento de Bayrou com os socialistas, com Bardella a criticar a esquerda “pronta a unir-se” com Macron e “destruir a Nova Frente Popular”..Com efeito, o secretário-geral do PS, Olivier Faure, estendeu a mão ao novo primeiro-ministro, ao dizer ter “esperança” de que “haja uma mudança de rumo, por mais pequena que seja”, afastando-se da França Insubmissa, que já disse ir censurar o futuro governo e recusa ir falar com Bayrou a Matignon. “Quero ter uma conversação e se pudermos fazer progressos para o povo francês na sua sequência, eu aceito”, disse o socialista à France 3. Faure exige, por seu lado, a queda da lei de imigração ambicionada pelo ministro Bruno Retailleau. Ao contrário de Le Pen, que aposta na queda do executivo e na demissão de Macron o quanto antes, os socialistas querem construir uma alternativa ao centro..Desastre no 101.º departamento.Mayotte, o arquipélago situado no Oceano Índico, que em referendo, em 2009, decidiu tornar-se parte integrante de França, sofreu com a passagem do ciclone Chido, no sábado. Segundo o prefeito do 101.º departamento francês, François-Xavier Bieuville, os nove mortos e centenas de feridos do primeiro balanço estão muito longe da realidade. “Penso que haverá certamente várias centenas [de mortos], talvez perto de um milhar, ou mesmo alguns milhares”, alvitrou em declarações ao canal público local. Parte significativa da população vive em bairros de barracas. Graças à imigração oriunda da vizinha Comores (já cerca de metada da população total) nos últimos anos e da alta taxa de fecundidade, a população de Mayotte é a que mais tem crescido em França.