Bayrou consegue ganhar tempo ao renegociar reforma das pensões

O primeiro-ministro francês, François Bayrou, anunciou esta terça-feira no discurso de política geral na Assembleia Nacional a “renegociação” da reforma das pensões, alegando que não tem “tabus” em relação a nada - nem mesmo em recuar na subida da idade da reforma para os 64 anos até 2030. A decisão não era a defendida pelos socialistas, que queriam a suspensão da reforma, mas parece permitir a Bayrou ganhar tempo e escapar à censura já nesta quinta-feira. As negociações vão decorrer num método “transparente, inédito e radical”, num “curto período de tempo”, disse Bayrou, começando já na sexta-feira com um encontro com sindicatos e patrões. Mas, deixou um aviso: “Não podemos comprometer o equilíbrio financeiro que procuramos e com o qual quase todos concordam. Seria um erro imperdoável contra o nosso país.” Daí que o primeiro-ministro avise que, se não houver avanços, a atual reforma será mantida. A França Insubmissa (LFI, na sigla em francês) sempre disse que iria apresentar uma moção de censura, independentemente do que Bayrou dissesse no discurso. No X, Jean-Luc Mélenchon apelidou a intervenção do primeiro-ministro de uma “cortina de fumo”. A LFI esperava contar com o apoio dos parceiros da Nova Frente Popular na moção de censura (sendo que precisaria ainda dos votos da extrema-direita para ter sucesso), mas parece que só os ecologistas e os comunistas a apoiam - com Mélenchon a acusar os socialistas de causarem divisão na aliança.Os socialistas, que defendiam a revogação da reforma das pensões, mostraram abertura à renegociação, mas lembraram que Bayrou ficou aquém do esperado. Exigem que, mesmo que o debate social falhe, o tema seja debatido na Assembleia Nacional (a lei de 2023 foi aprovada sem o aval dos deputados). Não ficou por isso excluída totalmente a hipótese de votarem a favor da censura, com o líder Olivier Faure e dizer isso mesmo à TF1. Mas antes do discurso de hora e meia de Bayrou, os socialistas tinham dito que não iriam nesse caminho. “Se houver censura, será durante o orçamento”, disse um dos deputados ao Le Parisien, indicando que isso pode servir para continuar a pressionar o primeiro-ministro. Sobre o orçamento, que foi o que fez cair o governo do seu antecessor, Michel Barnier, o debate está marcado para o início de fevereiro. No discurso, Bayrou anunciou que o esforço financeiro solicitado às autoridades locais não será de 5 mil milhões de euros, como previsto por Barnier, mas de 2,2 mil milhões de euros. E que, ao contrário do que previa o antecessor, não haverá retirada de certos medicamentos das listas de comparticipações.O primeiro-ministro baixou as previsões de crescimento do PIB de 1,1% para os 0,9% em 2025, falando dos impactos da censura. Quanto à dívida pública, a previsão é de 5,4% no final do próximo ano (deverá ser de 6,1% em 2024), sem abandonar o objetivo de 3% em 2029. “É um poderoso movimento de reforma da ação pública que deve ser levado a cabo.”À direita, Os Republicanos tinham ameaçado deixar o governo se Bayrou suspendesse a reforma das pensões - o que não se confirmou. Do lado da extrema-direita, o líder do Reunião Nacional, Jordan Bardella, escreveu no X que “Bayrou demonstrou que não era um homem de rutura, mas de continuidade suave, de conversa fiada e de consultas ‘infinitas’”. No debate, o deputado Jean-Philippe Tanguy disse que o primeiro-ministro não aprendeu “nada” da censura do seu antecessor. E terminou a sua intervenção com uma mensagem aos franceses: “Esperem, estamos a chegar”. Não falou de censura, mas o partido tem defendido que não é a hora. E sobre a reforma das pensões a ideia é que quando Marine Le Pen chegar à presidência a revogará. susana.f.salvador@dn.pt

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