Um largo número de cidadãos continua a confiar na UE.
Um largo número de cidadãos continua a confiar na UE.Fred MARVAUX/União Europeia

Barbielândia: UE já não vive numa utopia e a xenofobia é uma ameaça

A participação limitada dos mais jovens, o pró-europeísmo cada vez mais morno na Europa Central e de Leste e a falta de voz dos habitantes não brancos e muçulmanos são um perigo para o projeto europeu.
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No filme Barbie, a personagem principal começa a aperceber-se que a Barbielândia não é a utopia que ela pensava ser e o mesmo está a acontecer com os líderes políticos europeus que, segundo um relatório divulgado esta quarta-feira, “têm pontos cegos que ilustram a diferença entre o princípio e a realidade dos ideais iluministas da UE”, alertando que “com o tempo, estes poderão minar a saúde da democracia dentro do bloco”.

Intitulado precisamente Bem-vindos à Barbielândia: o sentimento europeu no ano de guerras e eleições, o relatório do Conselho Europeu de Relações Exteriores e da Fundação Cultural Europeia identifica três pontos cegos críticos na União Europeia, apesar de os inquéritos feitos nos 27 países do bloco mostrarem que um largo número de cidadãos em quase todos os Estados-membros continua a confiar na UE e estão otimistas quanto ao seu futuro. 

“No entanto, abaixo da superfície, surge um grande perigo para o sentimento europeu, uma tendência para algo mais xenófobo, étnico e de mente fechada” e que tem por base esses três pontos cegos - “os europeus não brancos e muçulmanos” terem experimentado no último ano “um sentimento de alienação devido à sua etnia ou religião”, causado pela guerra entre Israel e o Hamas e o aumento do ódio anti-muçulmano e anti-semita e pela vitória da extrema-direita nas europeias em países como França ou Itália; um sentimento pró-europeu “morno” verificado na Europa Central e de Leste, como se comprovou pela fraca participação nas europeias e pelas tímidas celebrações do 20.º aniversário de adesão à UE de oito países da região; e o “interesse limitado” pelas eleições europeias demonstrado pelos jovens, embora estes sejam “geralmente mais pró-europeus e tolerantes do que as gerações mais velhas”.

De acordo com o relatório, “a falta de voz dos habitantes não brancos e muçulmanos corre o risco de marginalizar ainda mais estes grupos, permitindo que a xenofobia floresça na política e no discurso da UE”, enquanto que “o etnocentrismo incontestado dos políticos da Europa Central e Oriental corre o risco de normalizar essas atitudes em toda a região e no resto da UE. E, se os jovens europeus crescerem neste ambiente, alguns poderão adotar opiniões xenófobas, enquanto outros, se tiverem mais princípios, poderão rejeitar a UE, considerando-a como defensora de valores que não são os seus”.

Para enfrentar estes desafios é recomendado que os partidos diversifiquem os seus membros e a sua base de voto, mas também que os políticos pró-europeus deixem de estar em silêncio sobre as questões da imigração e diversidade e que, “para reforçar a identidade cívica da UE, o bloco precisa de ser reconhecido como uma força para uma mudança positiva”.

Quanto a Portugal, o relatório aponta que “o sentimento europeu é geralmente forte, mas estão a surgir alguns desafios que poderão prejudicá-lo”. Um dos desafios é o crescimento do Chega, outro é o facto de a sociedade estar mais multicultural, algo que os nossos partidos não refletem, “a julgar pela eleição dos 21 eurodeputados exclusivamente brancos nas eleições para o Parlamento Europeu de 2024. A maioria dos portugueses (61%) acredita que a discriminação com base na cor da pele é generalizada no seu país”. 

ana.meireles@dn.pt

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