Autarca de Mariupol quer evacuação total quando mortes estarão em 10 mil
Vadym Boichenko, o autarca de Mariupol, estratégica cidade do sudeste sob cerco dos russos, disse que a cidade tem de ser evacuada sob pena de a catástrofe se juntar ao drama. Pelas suas estimativas, a cidade que tinha mais de 450 mil residentes terá agora 160 mil, "onde é impossível viver porque não há água, nem eletricidade, nem aquecimento, ou ligações", disse numa entrevista televisiva. "E é realmente assustador."
Segundo Tetiana Lomakina, assessora do presidente ucraniano, cerca de 5000 pessoas foram sepultadas desde o início do cerco, mas há 10 dias que não há enterros devido aos "bombardeamentos contínuos", pelo que o número de mortos pode ascender aos 10 mil. "As forças armadas russas estão a tornar a cidade em poeira", acusa o Ministério dos Negócios Estrangeiros ucraniano.
"Precisamos de uma evacuação completa de Mariupol. A nossa missão mais importante hoje é salvar todas as vidas. E há esperanças de que seremos bem sucedidos. Por exemplo, há 26 autocarros que têm de ir a Mariupol para proceder à retirada, mas infelizmente ainda não receberam autorização para se deslocarem", afirmou Boichenko. "E este jogo é feito todos os dias. Um jogo cínico em que dizem "Sim, estamos prontos. Pode-se conduzir até lá", mas na realidade não funciona. Os nossos condutores heroicos debaixo de fogo estão a tentar chegar aos locais onde os residentes de Mariupol podem ser apanhados, e aguardam com a esperança de que tenham essa oportunidade. Mas a Federação Russa tem estado a brincar connosco desde o primeiro dia", acusa.
DestaquedestaqueEnquanto a iniciativa conjunta da França, Grécia e Turquia em Mariupol não ganha forma, António Guterres lança a jogo alto funcionário para alcançar uma trégua na cidade sitiada.
Um líder separatista pró-russo disse no domingo que cerca de 1700 residentes de Mariupol estavam a ser "retirados " diariamente da cidade e dos seus arredores. Funcionários ucranianos, contudo, dizem que milhares estavam a ser "deportados" para a Rússia, cerca de 30 mil entre os 290 mil que escaparam da cidade. O presidente Volodymyr Zelensky acusou o exército russo de "ter roubado" umas 2000 crianças da cidade que poderá cair nos próximos dias para as forças invasoras.
Enquanto a iniciativa conjunta de França, Grécia e Turquia de lançar uma operação de assistência humanitária em Mariupol não ganha forma, o secretário-geral das Nações Unidas António Guterres apelou para uma trégua imediata que permita "negociações políticas sérias" que possam trazer um fim à guerra. Guterres disse que uma cessação dos combates permitiria a entrega de ajuda humanitária, salvaria vidas e evitaria o sofrimento.
"Desde o início da invasão russa há um mês, a guerra levou à perda sem sentido de milhares de vidas; à deslocação de 10 milhões de pessoas, principalmente mulheres e crianças; à destruição sistemática de infraestruturas essenciais; e ao aumento vertiginoso dos preços dos alimentos e da energia a nível mundial", disse Guterres à porta do Conselho de Segurança da ONU. "Isto tem de acabar."
A ONU "está a fazer tudo ao seu alcance para apoiar as pessoas cujas vidas foram derrubadas pela guerra", disse Guterres. Mais de 1000 funcionários das Nações Unidas estão a trabalhar em oito centros humanitários na Ucrânia, disse. A ONU e os seus parceiros levaram ajuda a quase 900 mil pessoas, a maioria no leste da Ucrânia, como Kharkiv.
O dirigente português disse que o diretor dos Assuntos Humanitários da ONU, Martin Griffiths, iria "imediatamente explorar" um acordo com a Rússia e a Ucrânia para o cessar-fogo, acrescentando que estava em "estreito contacto" com outros países, incluindo Turquia, Qatar, Israel, Índia, China, França e Alemanha, para discutir a possibilidade de mediação que poderia levar a uma solução.
As negociações entre russos e ucranianos deverão prosseguir na Turquia, com o ministro das Finanças ucraniano Serhii Marchenko a reiterar, em entrevista à CNN, que do lado de Kiev não há cedências territoriais.
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O exército ucraniano não está a assistir a quaisquer ações por parte da Rússia que confirmem os seus planos anunciados de impedir a tomada da capital do país, Kiev, disse o coronel Oleksandr Motuzyanyk, porta-voz do Ministério da Defesa, em conferência de imprensa. "Neste momento, não vemos qualquer ação da Rússia que confirme o que disse o comandante das forças russas na Ucrânia", afirmou Motuzyanyk. "De acordo com as nossas informações, a Federação Russa não desistiu a 100% das suas tentativas se não tomar, pelo menos cercar, a capital da Ucrânia."
Notícias recentes indicavam uma mudança na estratégia das forças russas, com o reforço da sua posição nos territórios da região de Donbass, em vez de tentarem apoderar-se de Kiev. O general russo Sergey Rudskoy disse na sexta-feira que o "principal objetivo" da operação russa é "a libertação de Donbass". O Pentágono confirmou que as forças russas estavam a intensificar os seus ataques no leste da Ucrânia e em pausa nas operações terrestres na capital.
Se por um lado as tropas ucranianas retomaram a cidade oriental de Trostianets, a pequena mas estratégica localidade de Mala Rogan, perto de Kharkiv, alegam ter recuperado Irpin (arredores de Kiev) e lutam pelo regresso a Kherson, a vice-ministra da defesa da Ucrânia, Ganna Malyar, disse que "o inimigo está a tentar atravessar o corredor em torno de Kiev e bloquear as vias de transporte". Informou também que os mais recentes ataques cortaram a eletricidade a 80 mil habitantes da capital e manteve a sua defesa como prioridade para o país. "A captura de Kiev é essencialmente capturar a Ucrânia, e este é o seu objetivo."
Cerca de 20 mil ucranianos morreram desde que a Rússia iniciou a invasão em 24 de fevereiro e 10 milhões tiveram que abandonar as casas, segundo as autoridades. O governo de Kiev estimou que os prejuízos causados pela guerra em mais de 500 mil milhões de dólares. O porta-voz do Ministério da Defesa ucraniano também atualizou as perdas do lado russo. Segundo Kiev, o exército russo perdeu 17 mil militares, quase 1700 veículos blindados, 586 tanques, mais de 300 sistemas de artilharia, 123 aviões, entre outras perdas.
Criticado por aliados e adversários por ter chamado Putin de "carniceiro" e desabafado que o líder russo não "pode manter-se no poder", Joe Biden disse não estar arrependido. "Eu estava a falar para o povo russo", explicou. "Eu não quero saber o que ele pensa. Dado o seu comportamento recente, as pessoas devem compreender que ele vai fazer o que ele pensa que deve fazer, ponto final."