Attal não acalma a “cólera” dos agricultores
“A França sem agricultura, não é a França”, lançou esta sexta-feira o primeiro-ministro francês, Gabriel Attal, trocando o gabinete em Paris por uma exploração de gado no departamento de Haute-Garonne. O objetivo foi anunciar medidas destinadas a responder às reivindicações dos agricultores e travar os protestos que ameaçam paralisar o país, naquela que é a primeira grande crise do seu mandato. Mas os anúncios “não acalmam a cólera” e os agricultores prometem continuar a lutar.
O fim do aumento progressivo dos impostos sobre o gasóleo agrícola, dez medidas de simplificação das regulamentações, a garantia de que França se continuará a opor ao acordo de livre comércio entre União Europeia e Mercosul (os agricultores franceses temem a concorrência desleal dos produtos sul-americanos) ou o aumento dos fundos de emergência foram algumas das decisões anunciadas. “Não vos vou abandonar, vamos lutar”, disse o primeiro-ministro, com as notas do discurso apoiadas num fardo de palha.
“Há raiva saudável, mas não há violência justificada”, insistiu Attal no início do discurso, fazendo nomeadamente referência ao facto de um edifício vazio da Mutualidade Social Agrícola (o organismo responsável pela proteção social dos trabalhadores do setor) ter sido incendiado numa manifestação em Narbonne. O primeiro-ministro disse que “decidiu colocar a agricultura acima de tudo”, e abrir “um novo capítulo para a agricultura francesa” neste “dia de choque”.
Attal debruçou-se depois sobre todas as medidas propostas, algumas na área da simplificação de normas que aprovará já por decreto, entre elas a cedência numa das mais pedidas pelos agriculturores: o fim do aumento progressivo dos impostos sobre o gasóleo agrícola, que estava previsto acontecer até 2030.
Há uma semana que os agricultores franceses cortam estradas por todo o país, num movimento que foi ganhando força. Esta sexta-feira, antes de Attal falar, barreiras foram erguidas em redor de Paris, com o objetivo de bloquear os acessos à capital. Desde segunda-feira que o primeiro-ministro se reunia com sindicatos e representantes do setor, para tentar encontrar respostas.
Após o anúncio das medidas, Attal foi ter com os agricultores num dos cortes de estrada (na A64), que foi o primeiro a aparecer. Por detrás da ideia esteve Jêrome Bayle, que se tornou numa das figuras do movimento de protesto. “Penso que ganhámos”, disse o agricultor, um dos que ouviu presencialmente o discurso do primeiro-ministro.
Mas as reações foram mistas, com alguns a falar de “medidas de estética”. O líder da Federação Nacional dos Sindicatos de Exploração Agrícola, Arnaud Rousseau, disse esta sexta-feira que a decisão é continuar com a mobilização. “Há muitas exigências às quais o primeiro-ministro não respondeu”, disse, deixando claro que “o que foi dito não acalma a raiva, devemos ir mais longe”, disse ele.
susana.f.salvador@dn.pt