São sete as empresas europeias (ocidentais) que ficarão em apuros, podendo mesmo ser arruinadas, caso o gás russo pare de fluir, elenca um estudo da agência de ratings Fitch, divulgado esta terça-feira..São várias as ameaçadas pelas consequências desta guerra da Rússia contra a Ucrânia, mas a Fitch destaca sete, como referido..Fortum, uma grande companhia elétrica da Finlândia que precisa de gás fornecido pelos alemães da Uniper, com forte dependência da Rússia..MVM, a maior companhia elétrica da Hungria..BEH, a maior elétrica da Bulgária, responsável por 60% da eletricidade do país..A agência de ratings identifica ainda vulnerabilidades graves na PGNiG (Polskie Górnictwo Naftowe i Gazownictwo), a maior empresa de gás natural da Polónia, segundo a própria. Além de operar na exploração e produção de gás, a empresa polaca também lida com petróleo bruto.."Através das suas principais empresas, a PGNiG tem interesses na área da importação, armazenamento, venda e distribuição de gás e combustíveis líquidos, bem como na produção eletricidade", diz a companhia..Tem 30 subsidiárias e está fortemente implantada em países com Rússia, Ucrânia, Bielorrúsia e Paquistão. Também tem um negócio valioso de transporte de gás na Noruega..A Fitch alerta ainda para a exposição delicada do grupo Engie, o gigante francês da eletricidade e do gás (antigo grupo Gaz de France - GDF Suez). Em Portugal esta marca existe, mas como empresa de gestão técnica e manutenção climática de edifícios e unidades industriais..Outra em risco é a Naturgy, "uma empresa espanhola de serviços de gás natural e energia elétrica, atuando principalmente em Espanha". Antes da pandemia, faturava mais de 25 mil milhões de euros ao ano. Empregava quase 20 mil pessoas. É outra das visadas pela Fitch..Finalmente, o peso-pesado da lista. O grupo alemão RWE, que também pode ficar em apuros com a disrupção nos mercados. É uma das maiores empresas de energia do mundo e empregava cerca de 20 mil pessoas antes da pandemia, segundo fonte oficial..Gás caro ou incerto, lucros esmagados, sobrevivência em risco.A Fitch explica que "as operações diretas destas empresas na Rússia são, grosso modo, limitadas, com exceção da Fortum, que gera cerca de 20% do seu resultado no país"..Mas o problema é que dependem da matéria prima russa para gerar valor no resto da Europa e noutras partes do mundo..Aos preços a que está o gás e perante a ameaça de uma rutura no fluxo normal (ou mesmo rutura total), o panorama para estas empresas e todas as que delas dependem na escala de valor é mau. O efeito pode ser devastador a nível europeu..Os mesmos analistas dizem que "o sector europeu de utilities [grupo que congrega empresas de energia, água, saneamento] está sob pressão devido à sua exposição aos fornecimentos de gás russo e às medidas e contramedidas resultantes da invasão militar russa da Ucrânia"..Para a consultora de ratings, a Rússia "fornece cerca de um terço do gás da Europa", sendo que há outras fontes que dizem que a dependência pode chegar a 40%..No entanto, continua a agência, a dependência do gás russo "é superior a 70% em muitos países do centro e do sudeste da Europa".."Os operadores no transporte de gás Eustream e Net4Gas que dependem da capacidade da Gazprom de honrar os seus contratos são os mais afetados. O desempenho de muitas outras empresas pode ser afetado por perturbações relacionadas com conflitos, embora sem impacto imediato nas suas classificações de dívida", acrescenta.."Embora o fluxo de gás de gasoduto da Rússia para a Europa tenha continuado desde o início do conflito e o setor da energia tenha sido largamente excluído das sanções, o risco de haver interrupções nos fornecimentos já não é algo remoto"..Podem ocorrer ruturas "em resultado de uma decisão unilateral da Rússia, de danos físicos cometidos contra as infraestruturas de transporte na Ucrânia ou se a União Europeia decidir deixar de comprar gás russo"..As empresas europeias que estão mais encostadas ao gás russo "vão ter de continuar a fornecer os seus clientes (ou honrar os seus contratos de cobertura de risco) mesmo que o fornecimento de gás da Rússia seja interrompido"..Assim, "podem ter de comprar gás no mercado à vista [spot] a preços extremamente elevados ou aumentar as compras ao abrigo dos seus contratos a longo prazo com outras empresas para cobrir as faltas". Ora, tendo em conta os preços exorbitantes no mercado à vista, nada disto fará grande sentido em termos de negócio..Ontem, o grupo anglo-holandês Shell anunciou que vai deixar de comprar gás e petróleo russo e fechar os postos de abastecimento na Rússia..O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou ontem, como já se previa, o embargo total (proibição) às importações de petróleo russo e outras formas de energia, como gás e carvão..Deste lado do oceano, "a União Europeia (UE) paga cerca de 260 milhões de euros por dia pelas importações de petróleo russo", de acordo com um relatório publicado pela organização Transport & Environment (T&E), citada pela Lusa..Luís Reis Ribeiro é jornalista do Dinheiro Vivo