Os polacos vão este domingo às urnas para votar numas presidenciais em que está em jogo o futuro de Varsóvia como país democrático e com influência na União Europeia. No boletim de voto estarão o liberal Rafal Trzaskowski, apoiado pela Plataforma Cívica (KO) do primeiro-ministro Donald Tusk, e o conservador Karol Nawrocki, candidato do partido nacionalista Lei e Justiça (PiS). As sondagens dão uma ligeira vantagem a Trzaskowski, mas que varia apenas entre os 0,8 e os 3 pontos percentuais, um reflexo do que já tinha acontecido na primeira volta, a 18 de maio, quando o ainda presidente da Câmara de Varsóvia saiu vencedor por uma curtíssima margem, com 31,36% dos votos face aos 29,54% do historiador e diretor do Instituto da Memória Nacional.Mais do que escolher o sucessor de Andrzej Duda, as presidenciais deste domingo irão definir se a Polónia continuará o caminho para ser um país da União Europeia com poder de influência — com ajuda da sua aliança à França e Alemanha, o chamado Triângulo de Weimar — e cumpridor do Estado de Direito que começou a ser trilhado por Donald Tusk após o seu regresso ao poder em final de 2023, pondo fim a uma relação conturbada entre Varsóvia e Bruxelas nos oito anos anteriores com os governos do PiS. Trzaskowski já prometeu que, em caso de vitória, ajudará o governo de Tusk a prosseguir as suas reformas. Mas se os eleitores optarem por Nawrocki é esperado que este seja uma força de bloqueio até ao final do mandato do atual governo (as próximas legislativas estão programadas para finais de 2027), como tem acontecido até agora com Duda.“Uma vitória de Trzaskowski dará ao governo de Tusk um impulso renovado e uma clara vantagem de dois anos e meio antes da próxima eleição parlamentar, durante a qual poderá reconstruir a sua base de apoio e restaurar um sentido de propósito (além de, claro, limitar a capacidade de um futuro governo do PiS para prosseguir a sua agenda)”, nota Aleks Szczerbiak, professor de Política na Universidade de Sussex e autor do The Polish Politics Blog. “Em particular, uma vitória de Trzaskowski permitirá ao governo reverter as reformas judiciais do seu antecessor. Duda sempre deixou claro que bloquearia as tentativas de reverter estas reformas se sentisse que elas minavam a legitimidade das suas nomeações judiciais.”.Na opinião deste analista, já uma vitória de Nawrocki, além da esperada resistência a reformas — seja através do veto presidencial ou pelo envio das propostas legislativas para o Tribunal Constitucional, controlado por juízes nomeados pelo Lei e Justiça —, “criará também um impulso político que o PiS espera que leve o partido à vitória nas próximas eleições parlamentares, além de exacerbar tendências centrífugas dentro da coligação governamental, o que poderia levar à queda do governo ou mesmo a uma eleição legislativa antecipada”. No que diz respeito à política externa, há que ter em conta que o presidente, por ser o comandante supremo das Forças Armadas, pode influenciar os debates sobre a política de segurança, mas também pelo facto de ser ele a aprovar a nomeação de embaixadores — por exemplo, a Polónia continua sem embaixador nos Estados Unidos porque Andzrej Duda não aceita o nome apresentado por Donald Tusk. Trzaskowski apoia a política do governo de uma maior aproximação à União Europeia e a construção de laços mais estreitos com as suas principais potências, como a Alemanha e a França, de forma a consolidar o papel de Varsóvia como ator a ter em conta no panorama europeu, enquanto que o anti-federalista Nawrocki considera que os interesses do país entram muitas vezes em conflito com os do eixo franco-alemão, e preferirá uma construção de alianças alternativas a Bruxelas, devendo dar, por isso, prioridade à manutenção de laços com os Estados Unidos — como ficou demostrado pelo encontro que teve com Donald Trump na Casa Branca no passado dia 1. “No que diz respeito à guerra na Ucrânia, existe um amplo consenso sobre a necessidade de reforçar a resistência à invasão russa. Trzaskowski apoia também a integração da Ucrânia na UE e na NATO. No entanto, teve de reconhecer que a maioria dos polacos sente agora que Varsóvia precisa de ser mais assertiva na promoção dos seus interesses quando estes entram em conflito com os da Ucrânia, e apoia a limitação do acesso dos refugiados ucranianos aos benefícios da assistência social”, refere Aleks Szczerbiak na sua análise a este ato eleitoral. Nawrocki também apoia o fornecimento contínuo de ajuda diplomática e militar a Kiev, mas, por exemplo, prometeu proteger os agricultores polacos do que alega ser uma concorrência desleal dos produtos agrícolas ucranianos.“Independentemente de quem ganhar, as eleições são importantes por outra razão: são mais um sinal da consolidação do sistema político polaco. O KO e o PiS têm dominado as coligações governamentais e as eleições presidenciais desde 2005 e, apesar da ascensão da extrema-direita Konfederacja, continuam a ser os dois principais poderes políticos do país. Todo o espetro tende para a direita: os dois principais rivais representam o centro-direita, com o KO como um partido mais liberal e cosmopolita e o PiS como uma formação populista e nativista. Mas, a menos que qualquer um dos partidos possa reivindicar uma supermaioria parlamentar, os seus esforços legislativos dependem do consentimento do presidente. Para um cargo decorativo, a presidência polaca é agora mais importante do que nunca”, defende Anna Grzymala-Busse, investigadora sénior do Centro para os Estados Unidos e Europa do think tank Brookings.PERFISRafal Trzaskowski, de 53 anos, é o presidente da Câmara de Varsóvia e um aliado do primeiro-ministro Donald Tusk, apresentando-se pela segunda vez como candidato presidencial, depois de, há cinco anos, ter perdido na segunda volta para Andrzej Duda por uma diferença que rondou os dois pontos percentuais. É um defensor de uma maior aproximação à União Europeia e um apoiante dos direitos LGBT+, participando regularmente em eventos da comunidade, o que é criticado pelos conservadores, alegando que vai contra os valores tradicionais polacos. Estes criticam também o facto de ser fluente em várias línguas, o que consideram elitista, chamando Trzaskowski muitas vezes de “Bonjour” em comícios. Karol Nawrocki, de 42 anos, é um historiador que ocupa desde 2021 o cargo de diretor do Instituto da Memória Nacional, um organismo estatal de investigação, com poderes judiciais, de crimes nazis e comunistas cometidos entre 1917 e 1990. Antes, tinha sido diretor do Museu da Segunda Guerra Mundial. Está a viver nestas eleições a sua primeira experiência política depois de ter sido escolhido como candidato presidencial pelos nacionalistas do Lei e Justiça. Nawrocki, que gosta de lembrar que nunca pertenceu a um partido político, diz ter uma visão patriótica, pró-cristã, pró-NATO e favorável a Donald Trump, que o recebeu na Casa Branca, em sinal de apoio, no passado dia 1..EUA têm bombas nucleares em cinco países europeus. Polónia quer ser o sexto.Roménia. Os desafios do novo presidente Nicusor Dan