Qual a força do sistema de ensino na Finlândia? É realmente diferente? Acho que a força do nosso sistema de ensino é ser muito igualitário. Temos um sistema de escolas públicas com um currículo nacional. E cada estudante é designado para a escola mais próxima de casa, mas com a certeza de que essa escola é tão boa quanto qualquer outra do país. Há um padrão nacional uniforme, o que não significa que não haja variações locais ou que os professores não tenham liberdade para trabalhar como acharem mais útil. Na verdade, também temos um corpo docente muito forte, que tem muita liberdade. Então os professores são, além do fator igualitário, talvez o principal fator na qualidade do nosso sistema escolar. Ser professor na Finlândia exige sempre um diploma de mestrado. É difícil entrar na universidade para estudar para se tornar um professor, há muita competição. A profissão em si é bem conceituada. E é bem paga. Temos professores realmente bons. E eles têm muita liberdade para ensinar como acham. É também sabido que não fazemos muitos testes e que as crianças finlandesas em idade escolar não têm muitos trabalhos de casa. Isto deve-se a que não é um sistema escolar focado em fortalecer algumas competências, é um sistema holístico, onde queremos de alguma forma elevar todos. E isso também é visto no currículo. Todos os alunos têm aulas de música. Há arte na escola. Temos trabalho técnico, o que significa que os alunos trabalham com madeira e metal, com têxteis igualmente. E até aprendem a cozinhar. Então, não se trata apenas das matérias clássicas, como leitura, matemática, geografia, biologia, física, química, mas também das outras competências que são importantes para nós, humanos, para nos conhecermos, a nossa maneira de expressar as coisas. Tratamos de fomentar a criatividade das crianças. E especialmente nesse campo da criatividade, que também é testado agora como parte da avaliação PISA, as crianças finlandesas têm-se saído muito bem..Quão importante foi o sistema escolar para criar a Finlândia moderna, ainda durante a era de domínio czarista? E para reforçar um sentido de identidade nacional após a sua independência da Rússia em 1917? Eu diria que provavelmente teve um papel importante. A ideia da Finlândia nasceu no século XIX, mesmo que a Finlândia fosse parte da Suécia até 1809, e depois parte da Rússia até 1917. E essa ideia da Finlândia nasceu ao mesmo tempo que o sistema de escolas públicas. Acho que podemos relacionar isso com um despertar de uma mentalidade nacional, de um espírito nacional. E, mesmo hoje, acho que os finlandeses estão cientes de que as suas escolas são boas. Têm orgulho do sistema escolar. Há um orgulho nacional finlandês em ter boas escolas..Falou da ligação à Suécia. Há uma minoria de língua sueca na Finlândia ainda hoje. Como o país lida com o bilinguismo? A minha língua materna é o sueco, e se na Finlândia temos uma maioria de falantes do finlandês, há entre 5% e 6% da população que fala sueco como língua materna. Temos assim, duas línguas oficiais, finlandês e sueco. E isso tem razões históricas. Como eu disse, a Finlândia foi parte da Suécia até 1809. E em algumas áreas do país, hoje, o sueco continua a ser a língua maioritária. Ao longo da costa, em muitas cidades, o sueco é a língua maioritária. E é razoavelmente bem protegido pela legislação. No país, temos escolas de língua finlandesa e temos escolas de língua sueca. Nas escolas de língua sueca, também se estuda finlandês. E nas escolas de língua finlandesa, também se aprende um pouco de sueco. Quando fui para a escola, fui para uma escola de língua sueca. Essa é a minha primeira língua. Essa é a língua em que penso e principalmente escrevo, embora eu trabalhe num ambiente bilíngue..O partido ao qual pertence, o Partido Popular Sueco da Finlândia, representa a minoria sueca. Faz sentido em termos da atual vida política finlandesa ainda um partido político ligado a uma minoria linguística. Há questões que preocupam especialmente os falantes de sueco? Tradicionalmente, o meu partido tem sido o partido da minoria de língua sueca, o que não significa que não tenhamos eleitores da população de língua finlandesa. Sim, mas eu diria que a maioria da população de língua sueca vota no meu partido..Mas a agenda do partido está relacionada tanto com a minoria sueca quanto com assuntos nacionais? Claro. A nossa agenda principal são os assuntos nacionais. Falamos sobre economia, sobre defesa, sobre empreendedorismo, sobre meio ambiente, mudanças climáticas, a União Europeia, assuntos internacionais, assim como qualquer outro partido. Somos um partido normal. Mas sempre que há uma situação em que se tem, por exemplo, de garantir que a legislação é uniforme, que ambos os grupos linguísticos são tidos em conta, então, muitas vezes, cabe ao nosso partido sublinhar esse ponto e ver se tudo vai na direção certa. Como muitas das pessoas ativas no partido são falantes de sueco, então, é claro, a língua de trabalho é maioritariamente o sueco..Foi ministro dos Assuntos Europeus antes de assumir a Educação e a Cultura. Quão importante foi a adesão à União Europeia para a Finlândia em 1995? Foi um ponto de viragem? Sim, foi uma mudança muito grande. Após a Segunda Guerra Mundial, a Finlândia conseguiu sobreviver como uma nação independente, mas estava sob pressão bastante pesada da União Soviética. Permanecemos independentes, éramos neutros, mas havia tentativas constantes da União Soviética de tentar influenciar a política finlandesa. Não funcionou muito bem essa pressão, mas mesmo assim, pode dizer-se que houve tentativas ativas de influenciar a Finlândia, o que significou que tivemos que dar passos graduais em direção à comunidade ocidental. Primeiro tornámo-nos membros do Conselho Nórdico, depois aderimos à EFTA e finalmente passámos a ser membros da União Europeia. Esse foi realmente o passo final para sair da sombra da União Soviética. Claro que a União Soviética já se tinha desintegrado naquela altura..Quão forte é o sentimento europeu na Finlândia atualmente? Diria que é muito forte. Quando se pergunta à população em diferentes países como se sente em relação à União Europeia, o apoio é muito forte na Finlândia. Mais forte do que em muitos outros países. Os sentimentos são muito positivos. A Finlândia realmente vê benefícios de pertencer à UE. Somos uma economia voltada para a exportação e, claro, nesse sentido, é realmente benéfico fazer parte do maior mercado único do mundo. A adesão em 1995 também trouxe consigo uma sensação de segurança. Embora a União Europeia não seja uma união de defesa, também foi um passo para nos sentirmos menos isolados, mesmo continuando neutros..Nesse processo de se tornarem mais ligados ao Ocidente, foi uma surpresa para si a recente adesão à NATO? Houve muito debate durante muitos anos sobre renunciar ou não à neutralidade. E de repente, por causa da invasão russa da Ucrânia em 2022, a mentalidade das pessoas mudou? Mudou rapidamente. Não mudou no nosso partido. Já éramos proponentes da adesão há muito tempo. Mas lembro-me de alguns meses antes da guerra, quando já se podia ver as tensões a crescer, ter escrito um artigo a dizer que deveríamos começar o processo para nos tornarmos membros da NATO. E naquele momento, um pouco mais de 20% da população estava a favor da adesão. Quando a guerra começou, em fevereiro de 2022, imediatamente passou dos 50%. Mas naquele momento, só dois dos nove partidos no Parlamento eram oficialmente a favor da adesão. O nosso e o Partido Coligação Nacional. Algumas semanas depois, todo o Parlamento estava a favor da adesão. Foi uma mudança muito rápida e um sinal do pragmatismo do povo finlandês. A neutralidade anterior não foi uma decisão baseada em idealismo ou ideologia no sentido que pode ter sido em alguns outros países. Para nós, foi uma decisão pragmática. Achámos que essa era a melhor solução de defesa para nós naquele momento. Mas quando o mundo muda, quando vemos que não se pode confiar na Rússia, que realmente precisamos fazer parte de uma aliança militar, então simplesmente tomámos essa decisão de entrar na NATO. E, claro, um dos benefícios de não ter sido um membro da NATO durante décadas, se quisermos chamar isso de benefício, é que a Finlândia realmente, depois da Segunda Guerra Mundial, manteve uma forte capacidade de defesa. Ainda temos um serviço militar baseado em conscrição. Temos a maior artilharia da Europa. Já gastamos mais de 2% em defesa há algum tempo. A Finlândia trouxe capacidades consideráveis para a NATO. A Finlândia não está na NATO apenas para ser ajudada, mas também para ajudar..Antes da invasão russa, falava-se muito sobre a finlandização como solução para a Ucrânia, para evitar a guerra. Agora, essa palavra não tem significado. Finlandização é a forma como frequentemente descrevemos a situação na Finlândia nos anos 60 e 70, quando tentávamos de alguma forma andar na ponta dos pés entre duas realidades. E sim, a guerra que oficialmente, na retórica distorcida da Rússia, foi motivada pela Ucrânia ao aproximar-se do Ocidente, resultou na Finlândia e também a Suécia, dois países neutrais, entrarem na NATO, e pondo também a Ucrânia no caminho para se tornar um membro da UE e, potencialmente, um membro da NATO..Sei que fala português. Pode explicar a sua relação pessoal com o país? Quando tinha 17 anos, vim para Portugal como estudante de intercâmbio, o que foi uma decisão muito estranha em 1987 na Finlândia..Muito antes do programa Erasmus. Sim. Vim para Portugal, e uma família na Terceira, nos Açores, acolheu-me durante um ano. Então vivi nos Açores, fui para a Escola Secundária de Angra do Heroísmo, fiz o 11.º ano lá, vivi numa família portuguesa, aprendi português, e desde então sinto que Portugal é o meu segundo país. Tenho estado aqui com muita frequência, mas não nos Açores com a frequência que eu gostaria. Estive lá da última vez, em agosto do ano passado, e tentarei voltar no ano que vem novamente. Aquele ano naquela ilha realmente mudou a minha vida de muitas maneiras. Abriu-me, por exemplo, todo o mundo latino. As línguas latinas, a cultura latina, ensinaram-me muito como pessoa, porque viver nos Açores em 1987 era algo totalmente diferente do que eu estava acostumado na Finlândia. Então, eu realmente fui testado de muitas maneiras, e tive que aprender muitas coisas sobre mim mesmo, e aprendi muitas coisas que tiveram um impacto profundo na minha futura carreira..Veio agora a Portugal para uma reunião dos partidos liberais da Europa. O pensamento liberal tem um papel na definição do futuro da UE? Sim, certamente. Nestes tempos, os liberais são realmente necessários. Em muitos países sente-se uma polarização do ambiente político. Há partidos de extrema-direita que falam sobre uma visão do mundo que não é, do meu ponto de vista, compatível com os ideais europeus. A Europa precisa de menos fronteiras, mais livre comércio, mais compreensão, menos polarização. E eu acho, especialmente nestes tempos, quando existe um ambiente político cada vez mais polarizado, tanto na Europa como nos Estados Unidos, que os partidos liberais podem fazer a diferença. Defendem uma visão de mundo inclusiva, onde as diferenças são aceites e as liberdades em geral estão realmente no cerne das políticas e da política. Acho que os partidos liberais têm hoje um papel maior do que nunca.