Internacional
25 janeiro 2022 às 13h06

Kiev diz ter desmantelado grupo que preparava ataques a mando da Rússia

Dois homens foram presos e foi apreendido "um artefacto explosivo, armas pequenas e munições" nas cidades de Kharkiv e Zhytomyr.

DN/Lusa

A Ucrânia indicou esta terça-feira ter desmantelado um grupo que agia sob ordem de Moscovo e que se preparava para realizar ataques armados para "desestabilizar" o país.

"As organizações do grupo estavam a preparar uma série de ataques armados contra infraestruturas", declarou, num comunicado, o serviço ucraniano de segurança (SBU).

Segundo o SBU, o grupo era "coordenado" pelos "serviços secretos russos".

Os dois organizadores, incluindo um russo, foram presos, disse a SBU, cujos agentes apreenderam "um artefacto explosivo, armas pequenas e munições" em Kharkiv, uma grande cidade localizada perto da fronteira com a Rússia, no leste do país, e em Zhytomyr, no centro da Ucrânia, a menos de 150 quilómetros de Kiev.

Os dois homens eram ex-comandos que participaram em combates, disse uma fonte da polícia à agência noticiosa France-Presse (AFP).

Sob o pretexto de procurar seguranças, "começaram a recrutar" pessoal, sobretudo russos que cometeram crimes violentos, acrescentou a fonte.

A Ucrânia e o Ocidente acusam a Rússia de ter reunido dezenas de milhares de tropas na fronteira ucraniana em preparação para uma possível invasão, bem como de tentar desestabilizar a situação dentro do território ucraniano.

Entretanto, mais de 60 caças e caças-bombardeiros russos estão a participar de exercícios de disparo de mísseis no sul da Rússia, na península da Crimeia e nas regiões de Rostov e Krasnodar, perto da Ucrânia, anunciaram hoje autoridades militares russas.

Os grupos aéreos do distrito militar do Sul e da frota do Mar Negro estão a mover-se para aeródromos operacionais e a ensaiar ataques de mísseis à "maior distância possível", de acordo com um relatório militar citado pela agência Interfax.

Os aviões de caça Su-27SM e Su-30SM2, bem como os caças-bombardeiros SU-34, participam nestes exercícios, em que as unidades aéreas deverão ensaiar manobras para proteger os aeródromos dos ataques de um eventual inimigo.

De acordo com Alexander Dvornikov, comandante das forças militares no sul da Rússia, trata-se de uma operação conjunta que envolve a força aérea e a marinha do Mar Negro e do Mar Cáspio.

Nos últimos dias, as autoridades russas já tinham informado que mais de 6.000 militares do distrito militar sul tinham sido colocados em alerta como parte de um exercício para verificar a capacidade de combate das unidades.

Estes exercícios aéreos coincidem com a escalada de tensões sobre a situação na Ucrânia, em cujas fronteiras, segundo o Governo de Kiev, a Rússia já concentrou mais de 100.000 soldados.

O Kremlin insiste que não tem intenção de atacar a Ucrânia e que todos os movimentos de tropas e atividades militares dentro do território da Rússia são uma questão de soberania.

Os presidentes da Rússia, Vladimir Putin, e da França, Emmanuel Macron, vão falar por telefone sobre a situação da Ucrânia antes do final desta semana.

"Até ao final desta semana, tais conversações serão realizadas. Os preparativos estão agora em curso", disse Dmitry Peskov, porta-voz do Kremlin, no seu encontro diário com a imprensa, citado pela agência russa TASS.

Sobre a possibilidade de Putin e Macron falarem sobre uma nova cimeira no Formato Normandia, Peskov disse ser necessário aguardar pelas conversações que representantes da Rússia, França, Alemanha e Ucrânia vão realizar na quarta-feira, em Paris.

"Aguardemos os resultados da sua reunião, e eles abordarão as perspetivas de retomar os contactos a vários níveis", disse o porta-voz.

A Presidência francesa tinha anunciado anteriormente que Macron tencionava discutir a tensão provocada pela situação na Ucrânia com Putin e com o presidente ucraniano, Volodymir Zelensky, nos próximos dias.

A França exerce atualmente a presidência semestral do Conselho da União Europeia (UE).

A tensão atual deve-se à concentração de um grande número de tropas russas na fronteira com a Ucrânia nos últimos meses.

Os países ocidentais acusam a Rússia de pretender invadir novamente o país vizinho, depois de ter anexado a península ucraniana da Crimeia, em 2014, e de alegadamente patrocinar, desde então, um conflito em Donbass, no leste da Ucrânia.

A Rússia nega quaisquer planos para uma invasão, mas associa uma diminuição da tensão a tratados que garantam que a NATO não se expandirá para países do antigo bloco soviético.

O diálogo no chamado Formato Normandia sobre a guerra em Donbass nasceu em 2014, num encontro à margem das comemorações dos 75 anos do desembarque das tropas aliadas naquela região da costa francesa durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

A última cimeira do também chamado Grupo da Normandia realizou-se em 2019, em Paris.

Desde então, os progressos têm sido reduzidos, exceto no que diz respeito à troca de prisioneiros no quadro da guerra em Donbass.

A França e a Alemanha têm dito que querem reanimar o Grupo da Normandia, um propósito reafirmado há uma semana, em Moscovo, pela nova chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock.

O objetivo, segundo Baerbock, é fazer baixar o clima de tensão na fronteira russo-ucraniana e impulsionar a aplicação dos Acordos de Minsk para a paz no leste ucraniano.

Ao apresentar as prioridades da presidência francesa do Conselho da UE no Parlamento Europeu, em 19 de janeiro, Macron defendeu que a Europa deve adotar em breve uma nova ordem de segurança, em articulação com a NATO, tendo em vista as relações com Moscovo e o desanuviamento das atuais tensões.

"Nas próximas semanas, devemos conseguir levar a cabo uma proposta europeia para construir uma nova ordem de segurança e estabilidade. Devemos construí-la entre os europeus, depois partilhá-la com os nossos aliados no quadro da NATO, e posteriormente propô-la à Rússia para negociação", disse Macron.