Internacional
03 julho 2022 às 15h42

Após reunião com Lula, Marcelo diz que não encontrará Bolsonaro

Presidente garantiu ater-se "ao programa original" da visita, negou "incidente diplomático" e reafirmou que "o Brasil não está formalmente em campanha". Com o antigo presidente falou "de geopolítica"

O encontro entre Marcelo Rebelo de Sousa e Jair Bolsonaro, em Brasília, que chegou a constar do programa oficial da visita ao Brasil, foi mesmo cancelado, anunciou o próprio presidente da República, após uma reunião na manhã de domingo, dia 3, de cerca de hora e meia, na residência oficial do cônsul português em São Paulo com Lula da Silva, a razão, afinal para o cancelamento.

"Tinha havido um convite escrito, eu respondi por escrito, ao não haver confirmação escrita, vou ficar no programa originário, não há problema nenhum, vou passar mais tempo com os escritores portugueses, o que é bom. No fundo, não é um plano B, é um regresso ao plano A", disse o presidente depois de um encontro com Lula, presidente brasileiro de 2003 a 2010 e hoje pré-candidato na eleição presidencial brasileira de 2 de outubro contra Bolsonaro.

"O programa original estava pensado para ser um programa comemorativo dos 100 anos da viagem da travessia do Atlântico e da Bienal, o que não houve foi um aditamento", continuou Marcelo. "Falei com o presidente Lula e irei falar com o presidente [Michel] Temer e com o presidente Fernando Henrique [Cardoso] da mesma forma que falei há um ano, formalmente não há candidatos nem campanha eleitoral até 6 de agosto".

Questionado sobre um eventual conflito diplomático entre os países e o suposto ineditismo da situação, o presidente da República negou. "Não há conflito diplomático porque é um não problema, não estamos em campanha eleitoral, e já houve outras visitas minhas, com o primeiro-ministro, onde não houve encontros com o chefe de estado, incluindo ao Brasil, no tempo de Michel Temer".

"Aliás, a deslocação dentro do Brasil está a ser possível graças à Força Aérea brasileira e ao Estado brasileiro, a começar no Presidente, que está a apoiar a deslocação do presidente de Portugal dentro do território brasileiro", reforçou.

O regresso de Marcelo ao Brasil para as comemorações da independência do país sul-americano no dia 7 de setembro mantém-se, entretanto, em cima da mesa. "Voltarei em setembro, por ocasião dos 200 anos da independência do Brasil mas aí a situação já é diferente porque estaremos em campanha eleitoral".

No sábado, dia 2, o presidente já dissera que ninguém morreria se não houvesse encontro. "A vida é feita de coisas simples, vou ao Rio [de Janeiro] celebrar o centenário da travessia aérea do Atlântico Sul [por Gago Coutinho e Sacadura Cabral], vou à 26.ª Bienal Internacional do Livro em que o país convidado é Portugal. Esta era a minha agenda. Mas não houve hipótese de o presidente do Brasil ir à Bienal", começou por dizer Marcelo, para acrescentar: "Quem convida para almoçar é que sabe em que termos. Se o senhor presidente entende que não pode, não é oportuno, entendo. Ele saberá se quer ou não manter o convite. Em Portugal temos a frase de não nos fazermos convidados em bodas e batizados".

"Os povos é que tem de manter uma relação duradoura, perduram para além de ciclos bons e maus. Não vamos perder um segundo com um almoço quando há a importância da amizade dos povos. Os povos continuam, os almoços podem mudar", afirmara.

Sobre o encontro com Lula - a causa para o cancelamento da reunião entre presidentes no Palácio do Planalto -, os temas Bolsonaro e eleições não estiveram em cima da mesa, garantiu Marcelo.

"Conversamos sobre temas geopolíticos importantes, da pandemia, da guerra, da Europa e muito também da repercussão económica, financeira e social desses problemas na América Latina, logicamente eu falei mais da visão europeia e portuguesa, perguntei-lhe o que ele achava da duração da guerra, foi uma conversa importante, abrangente e, por isso, longa". Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores do Brasil nos governos de Lula, esteve também no encontro.

A propósito da visão dos dois países sobre o conflito na Ucrânia, o presidente da República reafirmou a posição portuguesa. "Portugal está solidário com as posições da UE e da NATO, tem dado apoio não só humanitário mas também militar, não é essa a posição do Brasil, que vê o conflito como um conflito meramente europeu mas é bom que se perceba que hoje já não existe essa distinção".