O presidente francês aparenta bom humor, mas os últimos dias não deram motivos para sorrir.
O presidente francês aparenta bom humor, mas os últimos dias não deram motivos para sorrir.EPA/TERESA SUAREZ

Ameaças à segurança são dor de cabeça para Macron

Governo acorre a várias frentes, da criminalidade aos ataques terroristas e à revolta na Nova Caledónia. Extrema-direita deverá colher descontentamento dos eleitores nas europeias.
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As eleições europeias no dia 9 de junho e a realização dos Jogos Olímpicos entre 26 de julho e 11 de agosto em Paris, mas também noutras cidades, do norte ao sul (e até no Taiti), são dois acontecimentos que podem marcar o segundo mandato do presidente Emmanuel Macron. Os últimos dias têm sido uma dor de cabeça para o governo de Gabriel Attal, com os tumultos na Nova Caledónia em particular, mas também com outras notícias que dão a imagem de um país vulnerável às ameaças da criminalidade e que, ao mesmo tempo, pode voltar a ser alvo de ataques terroristas. Ainda assim não são estas as principais preocupações dos franceses, os quais se preparam para dar uma vitória folgada à extrema-direita, caso as sondagens se confirmem.

“É a história de um governo incendiário que atira fósforos para o bidão de gasolina e depois grita fogo, esperando que ninguém assuma a responsabilidade”, critica o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, a propósito da gestão da crise na Nova Caledónia. Na sexta-feira, a situação apresentou-se “mais calma”, com um reforço de polícias e militares oriundos do continente europeu, segundo o alto comissário Louis Le Franc. Segundo este, porém, há locais “onde várias centenas de desordeiros esperam uma única coisa: contacto com as forças de segurança”. Muitas estradas mantinham-se bloqueadas, pondo em perigo de vida doentes com necessidades diárias, e de manhã havia edifícios em chamas, além de dezenas de automóveis calcinados, enquanto os habitantes continuavam a fazer filas para os bens de primeira necessidade. 

A crise no arquipélago do Pacífico foi aproveitada pelo líder nominal e cabeça de lista às europeias da Reunião Nacional, Jordan Bardella. “Foi irresponsável proceder a esta reforma e este desbloqueio do eleitorado antes dos Jogos Olímpicos”, disse sobre a reforma eleitoral na Nova Caledónia, tendo acrescentado que Marine Le Pen já tinha avisado sobre os perigos da iniciativa que visa conceder o voto nas eleições locais aos franceses que ali vivam há pelo menos dez anos. A indignação foi de pronto desmascarada, até pela direita. Afinal, a lei foi aprovada na terça-feira com os votos da ex-Frente Nacional. Uma encenação com a campanha eleitoral em pano de fundo.

A crer nas sondagens, Bardella irá encabeçar a lista mais votada (31%, segundo a da Ipsos para a Radio France), seguido do Renascimento, partido de Macron (16%) e de um Partido Socialista em moderado crescimento (14,5%). A campanha irá ter o seu momento mais estranho quando Bardella for debater na TV, na próxima quinta-feira, não com a cabeça de lista do Renascimento, Valérie Hayer, mas com o primeiro-ministro Gabriel Attal. Se a isto somarmos o facto de os eleitores escolherem como principal motivação para o voto de 9 de junho o poder de compra (53%), os temas europeus deverão ficar relegados para plano secundário.

Debaixo de fogo tem estado o ministro do Interior, Gérald Darmanin, responsável pela reforma eleitoral da Nova Caledónia. A fuga do prisioneiro Mohamed ‘A Mosca’ Amra, que se saldou na morte de dois guardas prisionais, foi um momento tão trágico quanto embaraçoso, e que ocorreu perto de Rouen.

Argelino tentou incendiar sinagoga de Rouen, mas acabou morto pela polícia. EPA/CHRISTOPHE PETIT TESSON

Foi nessa cidade da Normandia que na sexta-feira um polícia disparou mortalmente para um cidadão argelino, depois de este ter subido ao telhado da sinagoga local e ter tentado pegar fogo. Segundo a procuradoria, ao ser confrontado pela polícia, o homem - procurado pelas autoridades porque tinha sido recusada autorização de residência - correu para o agente policial armado com uma faca e uma barra de ferro.

Para Darmanin, o ataque foi um “ato antissemita contra um lugar sagrado para a república” e demonstrativo da violência “inaceitável e desprezível” contra o povo judeu, que tem em França a sua terceira maior comunidade depois de Israel e EUA. Os incidentes antissemitas subiram em flecha nos últimos meses. Em paralelo, prosseguem os atos de vandalismo contra as igrejas, como atestam dois ataques nos últimos dias.

cesar.avo@dn.pt

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