O parlamento saído das eleições de 23 de fevereiro reuniu-se esta terça-feira pela primeira vez.
O parlamento saído das eleições de 23 de fevereiro reuniu-se esta terça-feira pela primeira vez.CLEMENS BILAN/EPA

Alemanha já tem novo parlamento, mas continua sem novo governo

AfD é agora oficialmente o segundo maior partido alemão, mas o cordão sanitário à extrema-direita já se fez notar na estreia dos trabalhos parlamentares.
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O novo parlamento alemão reuniu-se esta terça-feira pela primeira vez com a composição saída das eleições de 23 de fevereiro, trazendo várias novidades, desde o número de deputados, que desceu de 735 para 630, e apenas 32,5% dos seus eleitos são mulheres (na última legislatura eram 36%), mas mesmo assim a liderança do Bundestag ficou entregue a uma mulher, Julia Klöckner, da CDU, que sucedeu a uma outra, Bärbel Bas, do SPD. Mas a grande alteração é o facto do Alternativa para a Alemanha ser agora a segunda maior força política do país - apesar de se manter o cordão sanitário dos outros partidos à extrema-direita, a AfD tem agora deputados suficientes para ser um entrave no caminho do futuro governo do conservador Friedrich Merz.

O primeiro sinal de desestabilização vindo da AfD surgiu já ontem, quando o partido exigiu que a sessão fosse aberta pelo seu antigo líder Alexander Gauland, o membro mais velho desta legislatura, como Pai da Câmara, em vez de Gregor Gysi, do partido de extrema-esquerda Die Linke, o deputado mais antigo.

Mas sem sucesso, pois as regras foram alteradas em 2017 especificamente para impedir que um deputado da AfD tenha essa oportunidade - o partido só entrou para o Bundestag nesse ano, o que torna quase impossível que um deputado seu seja o mais antigo. “Os vossos truques não impedirão a nossa ascensão”, afirmou o líder parlamentar da AfD, Bernd Baumann.

Outro fator a ter em conta é que, a partir de agora, o conjunto dos deputados da AfD e do Die Linke, partidos que duplicaram o seu número de eleitos, constituem um terço do parlamento, ou seja, poderão impedir o avanço de leis que necessite de uma maioria de dois terços.

Foi por este motivo que os conservadores da União Democrata-Cristã (CDU) e o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), com o apoio dos Verdes, decidiram levar a votação ainda no parlamento cessante a proposta de alteração do travão constitucional da dívida para permitir despesas com a defesa superiores a 1% do Produto Interno Bruto. Proposta que, como implicava uma alteração constitucional, precisava da aprovação da maioria de dois terços, e a qual já se sabia que contava com a oposição da AfD e do Die Linke.

Mas se desde ontem a Alemanha já tem um novo parlamento, o mesmo não acontece com o novo governo, com as negociações entre o vencedor CDU, e a sua irmã bávara CSU, ainda a decorrerem com o SPD. Friedrich Merz, o presumível próximo chanceler, fez na segunda-feira um balanço da primeira ronda de negociações, dizendo que “a confiança está a crescer” entre os dois lados e voltando a referir que pretende ter um acordo fechado até à Páscoa, ou seja, 20 de abril. Uma urgência justificada pela incerteza política e económica vinda da Casa Branca de Donald Trump. “Estou muito confiante de que podemos fazer isso”, acrescentou Merz.

No entanto, segundo a Deutsche Welle, entre as duas partes ainda existem alguns pontos de discórdia, como divergências sobre impostos, política de bem-estar social e imigração.

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