"A UNITA não reconhece resultado". E pede mediação internacional
Partido da oposição fez um escrutínio paralelo e alega que há diferenças grandes em relação aos dados da CNE. E quer uma comissão especial para comparar as contagens dos votos.
O líder da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Adalberto Costa Júnior, rejeitou esta sexta-feira os resultados provisórios da Comissão Nacional Eleitoral (CNE) que dão a vitória ao Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) nas eleições de quarta-feira, alegando que a contagem paralela do seu partido revela "discrepâncias brutais" em relação aos dados oficiais. "O MPLA não ganhou as eleições do dia 24 de agosto. A UNITA não reconhece os resultados provisórios divulgados pela CNE", afirmou numa conferência de imprensa.
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Com 97,03% dos votos contados, o CNE apontava a vitória do MPLA com 51,07%, frente aos 44,05% da UNITA. Contudo, segundo Costa Júnior, a contagem paralela feita pelo seu partido, com base nas atas síntese em sua posse, mostra "discrepâncias" em relação aos resultados. E desafiou a CNE, "em nome da verdade", a aceitar a "estruturação de uma comissão", com participação internacional, para efetuar uma recontagem dos votos, comparando as atas síntese em posse da CNE com as dos partidos.
Uma dos exemplos de discrepâncias que deu foi em Luanda, onde até a contagem oficial dá a vitória à UNITA. Os resultados provisórios da CNE, quando estavam contados 93,71% dos votos nesta província, indicavam que 1 230 213 eleitores tinham votado na UNITA (62,59%). A contagem paralela do partido, já com quase todas as mesas contadas em Luanda, dava ao partido 1 4 17 447 votos, isto é, 70%. "As discrepâncias dos mandatos são brutais", indicou Costa Júnior.
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O líder do histórico partido da oposição apelou à "calma" de todos os angolanos e pediu para que se mantenham "serenos e confiantes na direção da UNITA". Na declaração aos jornalistas, sem direito a perguntas, insistiu: "Sabíamos dos desafios que este partido-estado iria colocar no caminho do movimento pela mudança. Os nossos adversários políticos lutavam pela sua sobrevivência política. Com a força do povo resistimos e vamos fazer história, porque a soberania pertence ao povo."
À espera de João Lourenço
Desde manhã que era esperada uma reação aos resultados do presidente João Lourenço, líder do MPLA, que teve uma reunião com membros do partido. Contudo, acabaria por deixar o local onde havia vários jornalistas à espera dizendo que falaria "mais tarde". O porta-voz do MPLA, Rui Falcão, repetiu o que tinha dito na véspera, de que o partido tem "uma maioria absoluta para governar o país".
A única reação de João Lourenço foi um vídeo partilhado nas redes sociais do MPLA. "Obrigado é uma palavra fundamental para todos os angolanos", diz o presidente num vídeo, onde se ouvem agradecimentos de pessoas de todas as províncias do país . "Obrigado a todos os angolanos por estarem a construir este país", acrescenta.
Segundo os dados da CNE, e quando estão escrutinados 97,03% dos votos (não houve alteração desde a quinta-feira à noite e não são ainda conhecidos os resultados do voto dos eleitores no estrangeiro), o MPLA perdeu o apoio de um milhão de eleitores em comparação com 2017. O partido no poder desde a independência em 1975 obteve na quarta-feira 3 162 801 votos, quando há cinco anos tinha conseguido 4 115 302 votos.
A UNITA foi a grande beneficiada com o desaire do MPLA, conseguindo quase mais um milhão de votos (de 1 800 860 em 2017 para pelo menos 2 727 885 este ano). O histórico partido da oposição elegeu deputados em 17 das 18 províncias do país (só não elegeu um no Cunene) e conseguiu uma vitória histórica em Luanda, com mais meio milhão de votos do que nas anteriores eleições e quase o dobro dos votos do partido no poder. Ganhou ainda em Cabinda e no Zaire.
No total, o MPLA conseguiu 51,07% dos votos e elegeu 124 deputados à Assembleia Nacional, que tem 220 lugares. Tem a maioria absoluta, mas perde 26 deputados em relação aos 150 que tinha e que lhe garantiam uma maioria qualificada (necessária para aprovar isoladamente alterações constitucionais). Por seu lado, a UNITA, que teve 44,05% dos votos, subiu de 51 deputados para 90.
Os restantes seis lugares na Assembleia são divididos por três partidos: o Partido de Renovação Social (PRS) mantém os dois que tinha, a Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) ganha um e fica também com dois, e o Partido Humanista de Angola (PHA) elege dois. Este último, liderado por Bela Malaquias (a única mulher à fren te de um partido angolano), estreava-se nas eleições.
O CASA-CE desaparece do hemiciclo depois da saída do seu líder, Abel Chivukuvuku, para número dois das listas da UNITA e candidato a vice-presidente. Tinha 16 deputados e fica sem nenhum.
Com Lusa
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