"A República Eslovaca não enviará nenhum militar para o território da Ucrânia"
Como a Eslováquia, país que faz fronteira com a Ucrânia, vê a possibilidade de negociações de paz entre Kiev e Moscovo?
A Ucrânia é o nosso vizinho imediato e é também o vizinho imediato da União Europeia, com a qual partilhamos a fronteira Schengen. E é por isso que queremos e é do nosso eminente interesse que a Ucrânia seja um país democrático, pacífico, estável e também próspero. E por isso é que apoiamos a sua ambição de se tornar um país membro da UE em algum momento no futuro, claro, depois de cumprir todas as condições que estão estabelecidas para todos os países candidatos de forma igual. No entanto, o conflito bélico em curso na Ucrânia é um grande desastre para a sua economia e população. Aqui, a diplomacia falhou em todos os aspetos porque não fez tudo para evitar a eclosão deste conflito. Foi um grande erro que o Ocidente, na viragem de 2021 e 2022, se tenha recusado a negociar com a Federação Russa sobre as condições de segurança na Ucrânia. Passaram três anos desde que o exército russo atacou a Ucrânia, em conflito com o direito internacional. E confirmaram o que temos vindo a dizer desde o início do conflito - que não há solução militar. A única forma de evitar esta destruição, mortes sem sentido e desastre ainda maior é através de negociações diplomáticas para um cessar-fogo e a paz o mais rapidamente possível. E é por isso que o nosso governo, desde que tomou posse em Outubro de 2023, deixou de fornecer quaisquer armas dos arsenais das Forças Armadas Eslovacas à Ucrânia. Estamos a ajudá-la humanitariamente. O nosso governo apoia todas as iniciativas de paz. Participei pessoalmente na cimeira de paz na Suíça no ano passado, onde todos os países participantes concordaram que as conversações de paz não podem ser conduzidas sem a participação da Federação Russa. Apelámos à UE e aos seus líderes para iniciarem conversações de paz, mas infelizmente sem sucesso. Estavam convencidos de que o fornecimento adicional de armas resolveria este conflito. Mas só agora estamos a assistir à verdadeira iniciativa de paz do novo Presidente Donald Trump, que a Eslováquia apoia ao máximo.
Donald Trump tem sido um grande promotor de um acordo com a Rússia. O primeiro-ministro Robert Fico já se encontrou com o presidente americano. A Eslováquia pode ajudar o lado europeu nas nas negociações sobre a Ucrânia?
Sim, aconteceu durante a conferência CPAC em Washington, onde o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu pessoalmente as boas-vindas ao Primeiro-Ministro eslovaco, Robert Fico. No seu discurso, o nosso Primeiro-Ministro destacou e apreciou a enorme energia e o empenho com que o Presidente Trump e a sua nova administração se entregaram à resolução pacífica do conflito na Ucrânia. O Primeiro-Ministro falou sobre o facto de a Europa necessitar da verdade sobre o que está a acontecer hoje na Ucrânia e, acima de tudo, da paz e do fim das mortes sem sentido, porque, como repito, este conflito não tem solução militar. E o novo presidente americano está plenamente consciente disso e por isso conta com o apoio absoluto da Eslováquia nesta iniciativa. Faremos tudo para a apoiar também dentro da UE como país membro. Serei específico – apreciamos a convocação da cimeira extraordinária do Conselho Europeu pelo seu presidente António Costa, onde este mesmo tema será discutido. Este é o terreno onde podemos declarar claramente a nossa posição e falar de forma realista sobre as opções disponíveis para a UE. Penso que será uma das cimeiras mais marcantes do Conselho Europeu, onde será decidida a direção que a UE tomará na resolução deste conflito. A Eslováquia defenderá pela boca de Robert Fico que a UE apoie as negociações de paz de Donald Trump, para que a UE contribua de forma construtiva para estas negociações. A Eslováquia apoiará um cessar-fogo imediato, até se alcançar a paz total.
Como encara a Eslováquia o atual papel da União Europeia no apoio à defesa da soberania da Ucrânia?
Provavelmente refere-se a garantias de segurança para a Ucrânia no âmbito das negociações de paz. É muito prematuro falar sobre isso hoje, porque estas negociações serão realmente muito difíceis e imprevisíveis. E terão de criar espaço para que ambos os lados cheguem a um acordo. A República Eslovaca não enviará nenhum militar para o território da Ucrânia. Apoiamos a Ucrânia na sua perspetiva de adesão à União Europeia. E, ao mesmo tempo, dizemos abertamente que não votaremos a favor da sua adesão à NATO.
Qual é a sua avaliação de mais de duas décadas de integração europeia do seu país?
Sim, no dia 1 de maio comemoraremos o 21º aniversário da nossa adesão à União Europeia. A UE é o nosso espaço de vida, onde a República Eslovaca pode desenvolver-se, e durante este período registou progresso significativo graças ao mercado único, onde os nossos empresários se podem realizar. Graças à política de coesão, que ajudou a investir em muitas áreas da nossa economia e sociedade, a República Eslovaca avançou. Somos o único país do Grupo de Visegrado que também tem a moeda única, o euro, o que nos confere uma importante vantagem competitiva para atrair investimento, mas também para proteger a nossa economia. Os cidadãos da Eslováquia podem viajar livremente dentro do espaço Schengen e usufruir de todos os benefícios oferecidos pela União Europeia.
Qual a importância da NATO para a Eslováquia?
A NATO é uma importante organização de defesa e paz que nos proporciona a possibilidade de defesa coletiva no âmbito do art. 5.º Neste momento, em que o mundo enfrenta uma erosão maciça do direito internacional e humanitário, a NATO enfrentará vários desafios que temos pela frente. Vai ser sobretudo o debate sobre o aumento das despesas com armamento de cada país membro da NATO. Igualmente, o debate sobre como configurar a nossa capacidade de defesa – tendo em conta as aprendizagens que tirámos dos conflitos de guerra que estão a decorrer no mundo. Mas, acima de tudo, será um desafio como prevenir os conflitos de guerra e trabalhar permanentemente para manter a paz no mundo. Permitam-me aproveitar esta oportunidade para usar as palavras de Albert Einstein, que disse que “a paz não pode ser mantida pela força, a paz só pode ser alcançada através da compreensão mútua”.
Como descreve as relações da Eslováquia com Portugal?
Apesar da distância geográfica entre os nossos países, consideramos Portugal um parceiro fiável e construtivo da Eslováquia, com quem partilhamos posições iguais ou semelhantes sobre temas-chave da política europeia e externa (preservação da política de coesão da UE ou aplicação do direito internacional na Ucrânia e no Médio Oriente). Estou feliz que estejamos a apoiar mutuamente o reforço dos contactos ao mais alto nível político, como a visita do presidente português à Eslováquia em dezembro de 2024 e a próxima visita do presidente eslovaco a Portugal em maio de 2025. O interesse prioritário da Eslováquia é o aumento do comércio e dos investimentos mútuos e a expansão da cooperação económica. A cooperação eslovaco-portuguesa no domínio da defesa e da segurança está bem encaminhada. Valorizamos muito o contributo de Portugal para o reforço da segurança da República Eslovaca sob a forma da participação das forças armadas portuguesas na Brigada Multinacional da NATO na Eslováquia e percebemos isso como uma expressão amigável da solidariedade de Portugal para com o nosso país. Acredito que continuaremos a reforçar a cooperação eslovaco-portuguesa, quer a nível bilateral, quer no quadro da UE e da NATO.