"A Microsoft tem sangue nas mãos". Funcionária interrompe celebração do 50.º aniversário da empresa

"A Microsoft tem sangue nas mãos". Funcionária interrompe celebração do 50.º aniversário da empresa

Ibtihal Aboussad interrompeu o discurso do CEO da Microsoft AI. "Parem de usar a IA para o genocídio na nossa região", disse, referindo-se à Palestina. A funcionária da empresa foi retirada do evento.
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“Que vergonha", disse Ibtihal Aboussad, funcionária da gigante tecnológica, dirigindo-se ao CEO da Microsoft AI, que discursava, esta sexta-feira, no evento de celebração do 50.º aniversário da empresa, em Seattle.

Com críticas à Microsoft e ao uso que a empresa faz da Inteligência Artificial (IA), Aboussad interrompeu a intervenção de Mustafa Suleyman, que acusou de ser um "aproveitador da guerra", referindo-se à ofensiva israelita contra o Hamas na Faixa de Gaza. Aliás, acusou a empresa de disponibilizar os seus serviços de IA ao exército israelita na guerra contra o Hamas no enclave palestiniano.

"Parem de usar a IA para o genocídio. Parem de usar a IA para o genocídio na nossa região", acusou. Disse que Suleyman "tem sangue nas suas mãos". "Toda a Microsoft tem sangue nas mãos. Como se atrevem a celebrar quando a Microsoft está a matar crianças? Que vergonha para todos vós”, disse, enquando era retirada do evento.

Depois de ser retirada do local, Aboussad enviou um email para vários contactos e funcionários da Microsoft, incluindo o CEO da empresa, Satya Nadella, a explicar as suas razões para a ação, segundo o site The Verge.

Argumentou que nos últimos anos tem trabalhado como "engenheira de software na Plataforma de IA da Microsoft", para depois acusar a empresa de conivência a morte de milhares de palestinianos na Faixa de Gaza.

"Falei porque, depois de saber que a minha organização estava a fomentar o genocídio do meu povo na Palestina, não vi outra opção moral", justificou. "Isto é especialmente verdade quando testemunhei como a Microsoft tentou reprimir e suprimir qualquer divergência dos meus colegas de trabalho que tentaram levantar esta questão", acusou ainda.

Aboussad escreveu ainda que no último ano e meio a comunidade árabe, palestiniana e muçulmana na empresa "foi silenciada, intimidada, assediada impunemente pela Microsoft".

Descrevendo-se como "uma funcionária preocupada da Microsoft", Aboussad acusou até a empresa de despedir dois funcionários por se manifestarem contra o que está a acontecer no médio oriente.

"As tentativas de falar, na melhor das hipóteses, caíram em saco roto e, na pior, levaram ao despedimento de dois funcionários por simplesmente fazerem uma vigília. Simplesmente não havia outra forma de fazer com que as nossas vozes fossem ouvidas", disse.

A informática escreveu ainda no email que ficou entusiasmada por ter ido trabalhar na divisão da IA na empresa fundada por Bill Gates, mas que depois ficou desiludida. "Não fui informada de que a Microsoft iria vender o meu trabalho aos militares e ao governo israelitas, com o objetivo de espiar e assassinar jornalistas, médicos, trabalhadores humanitários e famílias civis inteiras", escreveu.

"Se soubesse que o meu trabalho em cenários de transcrição iria ajudar a espiar e transcrever chamadas telefónicas para melhor atingir os palestinianos, não me teria juntado a esta organização e contribuído para o genocídio. Não me inscrevi para escrever código que viola os direitos humanos", pode ler-se no seu e-mail, segundo o The Verge.

Aboussad citou notícias da AP que dão conta de que "existe 'um contrato de 133 milhões de dólares entre a Microsoft e o Ministério da Defesa de Israel'”.

“A utilização da inteligência artificial da Microsoft e da OpenAI [a empresa que criou o ChatGPT] pelos militares israelitas aumentou em março passado para quase 200 vezes mais do que antes da semana que antecedeu o ataque de 7 de outubro. A quantidade de dados armazenados nos servidores da Microsoft duplicou entre essa altura e julho de 2024 para mais de 13,6 petabytes”, disse.

Dirigindo-se aos funcionários da empresa, afirmou: "Quer trabalhes em IA ou não, serás cúmplice se não fizeres nada. Agora, cabe-nos a nós tomar uma posição de voz contra o envolvimento da IA da Microsoft em crimes contra a humanidade". Apelou, por isso, para que assinem a petição “No Azure for Apartheid”.

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