"A maior e mais perigosa situação" aconteceu: a Ucrânia perdeu Lugansk

A retirada das tropas ucranianas de Lysychansk deu a Putin a primeira parte de uma vitória: ocupar a região de Lugansk. Pouco falta para que Moscovo tome por completo o Donbass.
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Primeiro ocupam Lugansk, depois ocupam Donetsk. E o caminho está quase feito. A queda anunciada de Lysychansk significa, nas palavras do ministro russo da Defesa, a conclusão de um objetivo. A região de Lugansk foi "libertada", o que falta de Donetsk é quase nada: as duas províncias da bacia industrial do Donbass estão quase, na sua totalidade, nas mãos da Rússia.

O plano, a tomada de Lysychansk, apenas demorou mais sete dias do que o denunciado pela vice-ministra da Defesa ucraniana: "O Kremlin ordenou aos militares russos que conquistassem toda a região de Lugansk até domingo (dia 26 de junho)."

Doze dias depois desta declaração, o Ministério da Defesa russo, em comunicado, foi claro: "Serguei Shoigu [ministro da Defesa] informou o comandante supremo das Forças Armadas russas, Vladimir Putin, da libertação da república popular de Lugansk [...], controlo completo de Lysychansk e outras cidades próximas, entre as quais Belogorovka, Novodroujesk, Maloriazantsevo e Belaya Gora."

A versão ucraniana foi diferente, mas menos firme durante horas. Yuriy Sak, porta-voz do Ministério ucraniano da Defesa, dizia que "Lysychansk não está sob controlo total das forças russas [...], os russos atacam a cidade sem parar", enquanto Serguiy Gayday, governador ucraniano da região de Lugansk, afirmava que "os russos reforçaram as suas posições na região". Volodymyr Zelensky, que reconhecia a "situação difícil e perigosa" para a Ucrânia - "não temos vantagem, lá é o nosso ponto fraco, mas noutras zonas estamos a avançar [referência a Kharkiv] " -, não dava por perdida, mas quase, a guerra nesta zona.

E o quase estava no uso de um "hoje" numa frase que amortecia o inevitável. Não podemos dizer hoje que Lysychansk está sob controlo russo. Há combates nos arredores", dizia Zelensky.

Este sentimento de perda já tinha sido acentuado, sábado, nas palavras de um assessor de Zelensky, que assumia que "as coisas ficarão muito mais claras dentro de um dia ou dois", porque, para além do intensificar dos combates, as tropas separatistas e russas já haviam cruzado o rio Siverskiy Donets, avançando sobre a cidade pelo lado norte.

A menos de 100 quilómetros, Slovyansk - mais a norte na direção de Lzyum - e Kramatorsk, cidades praticamente encostadas, são as últimas e as mais fáceis de ocupar, após a tomada de Lysychansk, que completam praticamente o plano de tomada do Donbass.

A queda estava de tal forma evidente que a retórica ucraniana foi mudando. Se toda a região do Donbass cair, não será o "fim do jogo", afirmou o porta-voz do Ministério da Defesa da Ucrânia. "Existem outras cidades na região de Donetsk" sob controlo das forças armadas ucranianas. "Cidades que nos últimos dias foram alvo de severos ataques de mísseis e bombardeamentos de artilharia, mas a batalha pelo Donbass ainda não acabou", assegurou.

Yuriy Sak garantiu que a Ucrânia está a reunir artilharia pesada e outro armamento, que "nos permitirá libertar as nossas terras".

Parte desta esperança reside nas duas unidades National Advanced Surface-to-Air Missile System (NASAMS), na entrega de munições para o sistema de artilharia HIMARS e para os canhões M777 Howitzer, que os Estados Unidos vão fornecer em breve.

"Outro passo significativo em apoio à Ucrânia" afirmou o ministro da Defesa ucraniano, Oleksiy Reznikov, agradecendo a Joe Biden, presidente norte-americano, e Lloyd Austin, secretário de Defesa.

No final da tarde, a mudança total. "Depois de intensos combates por Lysychansk, as Forças Armadas da Ucrânia viram-se obrigadas a retirar das suas posições e linhas ocupadas." A derrota foi assumida pelo Estado-Maior ucraniano no Facebook. E a explicação foi linear. A continuação dos combates pela defesa da cidade teria "consequências fatais" face à superioridade das "forças ocupantes. Para preservar a vida dos defensores ucranianos, tomou-se a decisão de se retirarem. A vontade e o patriotismo não são suficientes para o êxito", eram necessários "recursos materiais e técnicos".

"A maior e mais perigosa situação" para a Ucrânia, nas palavras de Zelensky, aconteceu. O receio de que "a região de Lugansk" ficasse "completamente ocupada" com a perda de Lysychansk confirmou-se. Para o completo sucesso russo só falta ocupar uma pequena parte da região de Donetsk.

Mas, caindo o Donbass, o que muda? O ex-chefe do Exército britânico, Lord Dannatt, acredita que "negociações significativas" podem surgir assim que se confirme a queda das regiões de Lugansk e Donetsk.

Logo pela manhã, o governador de Belgorod, cidade russa, anunciava que "fortes explosões" causaram pelo menos três mortes e ferimentos em quatro pessoas e que 11 prédios residenciais e 39 casas foram danificados em cinco ruas atingidas pelas explosões e situadas no norte da cidade, não longe do centro. Na altura disse que "as circunstâncias do incidente" estavam a ser "averiguadas" e que aparentemente as defesas antiaéreas foram ativadas", não acusando a Ucrânia por estes ataques.

Horas depois, o porta-voz do Ministério da Defesa russo, Igor Konachenkov, veio dizer que "as defesas antiaéreas russas abateram os três mísseis Totchka-U lançados pelos nacionalistas ucranianos contra Belgorod". E depois explicou que "os destroços de um deles caíram sobre uma casa da cidade".

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