A luz que nunca se apaga comemora 60 anos
Em 1961 um "orgulhosamente só" Portugal foi notícia internacional pelo início da guerra colonial em Angola, pelo desvio do paquete Santa Maria, pela invasão de Goa por parte da Índia, ou pela sagração do Benfica campeão europeu. Mas também por um artigo publicado no The Observer, no qual o advogado inglês Peter Benenson lançou uma campanha de amnistia em favor de dois estudantes portugueses que tiveram a desfaçatez de brindar à liberdade. O texto foi republicado em jornais de outros países, dando origem, há 60 anos, à Amnistia Internacional (AI), organização fundada em julho de 1961, quando delegados de sete países estabeleceram um "movimento permanente em defesa da liberdade de opinião e de religião".
Para comemorar este número redondo, a secção portuguesa da AI - que por sua vez cumpre 40 anos - lança uma campanha que inclui o lançamento de um site com o historial da associação (www.60anosdeesperanca.pt) e a entrega de uma vela que não se apaga ao Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, bem como a várias personalidades que têm colaborado em campanhas anteriores.
O papel da AI foi reconhecido com o Prémio Nobel da Paz, em 1977. Hoje a Amnistia está presente em mais de 60 países e territórios e conta com 10 milhões de membros, dedicando-se em particular aos prisioneiros de consciência, embora todos os ataques aos direitos humanos estejam no seu radar.
"Os 60 anos da Amnistia Internacional foram marcados por trabalho incansável, por vozes determinadas a fazer do mundo um lugar livre e justo para todas as pessoas. As muitas vitórias conseguidas no campo dos direitos humanos deram-nos esperança e alento, os recuos mostraram-nos que temos de persistir na nossa missão e crescer em capacidade de trabalho, para alcançarmos um mundo onde os direitos humanos são respeitados em pleno e nós não somos mais necessários", declara aos media Pedro A. Neto, diretor executivo da Amnistia Internacional Portugal.
A hora é de balanços, mas ao DN o diretor de comunicação e de campanhas da Amnistia Internacional Portugal, Paulo Fontes, perspetiva o futuro próximo, na defesa de três prioridades: a vacinação contra a covid-19 da população em geral, a justiça climática, e os direitos da liberdade de expressão e ativismo face às novas tecnologias.
"É importantíssimo que todas as respostas a esta pandemia aconteçam de forma célere e igual para todas as pessoas, em Portugal e no mundo, o que não está a acontecer", nota, pedindo às empresas farmacêuticas para abdicarem da propriedade intelectual e das patentes. "Neste momento há dezenas de países onde não se sabe quando vai começar por vacinar populações prioritárias", o que vai agravar desigualdades e cavar fossos entre países. "A resposta tem de ser dada em conjunto enquanto humanidade", declara.
Também as alterações climáticas "afetam de forma desigual pessoas em países em situação económica menos favorável", que por norma até poluem menos. "Apesar de haver pessoas obrigadas a abandonar as suas terras e países, o termo refugiado climático ainda não é aceite em direito internacional, mas as pessoas existem", diz Paulo Fontes, que também aqui apela para uma "solução concertada e global".
Por fim, o diretor de campanhas da AI refere as questões relacionadas com as novas tecnologias, desde a privacidade às novas formas de repressão e perseguição de quem defende direitos humanos ou é dissidente. "Infelizmente não é caso único", diz do jornalista e ativista bielorrusso Roman Protasevich, elencando práticas similares no Vietname, Camboja ou Birmânia. "As novas plataformas traziam a promessa de maior liberdade de expressão tornaram-se também plataformas de perseguição", lamenta.