LÍBANO
A França e os EUA chegaram ontem a acordo sobre os termos de um projecto de resolução das Nações Unidas tendo em vista o fim da hostilidades na guerra desencadeada por Israel contra o Hezbollah. Depois de muita filigrana diplomática, os dois países acertaram uma posição comum em que é exigido "um cessar-fogo permanente" e uma "solução de longo prazo". Para trás ficam 25 dias de guerra e mais de mil mortos, na maioria civis, mais de 900 mil pessoas deslocadas, uma crise humanitária e perdas materiais avaliadas em 2,5 mil milhões de dólares. Pela frente teremos a continuação da guerra até Israel entender que atingiu todos os seus objectivos, a duplicação dos mortos e da catástrofe humanitária. Teremos, por cada bomba e míssil disparados, a diária reafirmação da inutilidade de todos os esforços diplomáticos, apesar da importância do acordo de ontem. De que servem, afinal, estes acordos quando chegam várias semanas atrasados?
A negociação entre a França e os EUA sobre a crise do Líbano é ela própria o insuportável reflexo do cinismo e da incapacidade da comunidade internacional em lidar com o conflito israelo- árabe há mais de 50 anos. É óbvio que sempre será melhor ter um acordo sobre o âmbito político da resolução do que não ter nenhum. Chegámos, porém, a um ponto em que a tragédia, a carnificina de civis, dos dois lados, já não consegue emprestar um valor fundamental à acção política que é o da radical urgência em encontrar soluções que travem a violência.
A votação do acordo na ONU dificilmente poupará uma vida que seja enquanto continuar a mandar a urgência da guerra e não da paz. Israel corre contra o tempo e um inimigo que está disposto a utilizar todo o tipo de artimanhas para sobreviver. Por isso morreram anteontem mais de duas dezenas de trabalhadores sírios numa quinta, gente simples que tinha saído pela manhã de casa para trabalhar, por isso morreram mais civis israelitas atingidos pelos mísseis do Hezbollah. Uns e outros continuarão a morrer nos próximos dias. Mais do que negociar uma resolução, os EUA deveriam ter usado o seu poder e influência para dissuadir Israel de recorrer maciçamente à força, sobre a qual não restará um milímetro de margem para encontrar uma solução política para o conflito no curto prazo. Sim, uma solução política, que é a única possível, apesar do absurdo e maniqueísta debate que por aí anda promovido pelos "bravos" do costume.