Paulo Duarte quer reduzir em 50% transporte de jet fuel para o aeroporto de Lisboa
O grupo Paulo Duarte, especialista no transporte de líquidos alimentares, bens energéticos e produtos de consumo, propôs ao governo de António Costa e, mais recentemente, ao de Luís Montenegro a utilização de duo trailers (camiões com dois semirreboques) no transporte de combustível de Aveiras para o aeroporto de Lisboa. Esta solução, que já existe em Espanha, permitiria reduzir para metade as 44 mil viagens anuais que os camiões do grupo fazem para levar o jet fuel aos aviões estacionados em Lisboa, frisa o CEO, Gustavo Paulo Duarte.
O projeto, que carece de enquadramento legal, permitiria reduzir em 50% as emissões de dióxido de carbono, o equivalente a 10% das emissões da refinaria de Sines, a estrutura industrial mais poluidora do país, sublinha o gestor. Também diminuiria o tráfego de pesados na A1 e na entrada de Lisboa. E, por último, os custos da operação também descem. Mas falta a lei para uma solução que Gustavo Paulo Duarte considera de "máxima eficiência".
O grupo tem liderado as negociações, onde estão também presentes a ANTRAM (Associação Nacional de Transportes Públicos Rodoviários de Mercadorias), a APETRO (Associação Portuguesa de Empresas Petrolíferas) e o IMT (Instituto da Mobilidade e dos Transportes). Certo é que há mais de ano e meio que a proposta está em cima da mesa sem qualquer resultado efetivo.
Mas a eficiência dos transportes de mercadorias não passa só por duo trailers. Gustavo Paulo Duarte é um defensor da condução à distância, ou seja, o controle do camião através de um simulador. Como adianta, esta solução permitiria resolver o problema da falta de motoristas e aumentar a segurança na estrada. A escassez de profissionais não se deve aos salários, que são "muito acima do vencimento médio dos portugueses, mas à penosidade da profissão", sublinha. Ao nível da segurança há também mais garantias. O piloto (já não motorista) tem mais visibilidade no simulador, não adormece e não bebe álcool. "É um caminho que o setor vai abraçar", vaticina.
A condução à distância é já uma realidade no setor mineiro e também em grandes explorações agrícolas no Brasil, mas ainda não chegou às estradas, embora já tenha sido testada no Norte da Europa, conta. Mas também é preciso legislar sobre esta matéria, nomeadamente no que diz respeito à definição de culpa e culpados em eventuais acidentes.
Capex intensivo
O grupo Paulo Duarte adquiriu este ano 120 camiões, 28 novas cisternas e 21 frigoríficos, num investimento total de 21 milhões de euros. Como frisa Gustavo Paulo Duarte, a transportadora está constantemente a investir em novos equipamentos, camiões e tecnologia, de forma a acompanhar as constantes evoluções no setor. "É um negócio de capex intensivo", sublinha. As novas cisternas podem transportar mais quatro toneladas do que as tradicionais, o que permite realizar menos uma viagem em cada 10 trajetos.
"São estes projetos que nos têm feito crescer junto dos clientes. Medimos a nossa pegada para que o cliente integre esses dados no seu relatório ESG (práticas ambientais, sociais e de governança)", diz. A visão do grupo "está alinhada com as exigências ambientais". Este mês, também vão entrar em operação mais seis viaturas elétricas no serviço de distribuição urbana. Mas, para Gustavo Paulo Duarte, o camião elétrico de longo curso não é, no momento, uma alternativa. São mais caros e têm de parar para carregar, o que obrigaria a duplicar a frota, justifica.
No ano passado, o grupo registou um volume de negócios da ordem dos 130 milhões de euros, o que traduz um aumento de 9% face a 2023. Portugal contribuiu com um crescimento de cerca de 5%. Esta performance é explicada por um reforço de contratos com os atuais clientes e pela captação de novos. As áreas do transporte de líquidos alimentares, energia e consumo registaram o mesmo peso no total de vendas, ou seja, 30% cada. Os remanescentes 10% devem-se ao ecommerce e farmacêutica.
O grupo, que comprou em 2022 duas empresas de transporte no país vizinho, está novamente a olhar para o mercado espanhol, que valeu 40% da faturação no último exercício. Segundo Gustavo Paulo Duarte, há negociações em curso para adquirir outra unidade, mas nada está ainda fechado. Aliás, a transportadora tem sempre "em pipeline possíveis aquisições nos três segmentos estratégicos", diz. E com esses movimentos aquisitivos Espanha poderá em breve assumir um peso de 60% na faturação, destronando Portugal.
A ambição, que o gestor diz ser realista, é atingir este ano uma faturação de 200 milhões de euros. E "organicamente é muito difícil chegar a esse montante". Como frisa, em 2025, "temos de crescer para não morrer", sempre com o foco no mercado ibérico. O grupo Paulo Duarte, que já está nas novas instalações de Alenquer, emprega 1300 pessoas e tem um parque de duas mil viaturas.