Um euro por dia pode resultar em 50 mil euros na reforma
As contas são simples de fazer: uma poupança de um euro por dia a partir dos 20 anos transformar-se-á numa conta de 50 mil euros quando chegar a idade da reforma. O valor final é apelativo, o esforço financeiro é o equivalente ao custo de um café e meio por dia, mas os números mostram que a maioria dos portugueses continuam a não poupar para a reforma. Do lado das empresas, os complementos de pensões têm vindo a aumentar o peso entre os benefícios oferecidos aos trabalhadores, mas Marta Frazão, consulting team leader da Mercer, acredita que há espaço para ir mais além.
A reduzida taxa de natalidade e o aumento da esperança média de vida irão, com o passar do tempo, impor cada vez maior pressão ao orçamento da Segurança Social. Resta saber de que forma é que os custos desta situação irão refletir-se na vida dos futuros reformados. Ou seja, se irão exigir-lhes um maior esforço contributivo, reduzir-lhes o valor da pensão com que se reformam ou prolongar-lhes de forma mais acentuada a vida ativa.
Tudo isto faz que haja uma clara perceção por parte das pessoas sobre a importância de poupar a longo prazo. Esta perceção também leva a que os complementos de pensões oferecidos pelas empresas sejam cada vez mais valorizados.
Os resultados do estudo da Mercer, que anualmente mede o pulso às intenções de contratação e aos pacotes remuneratórios oferecidos pelas empresas, mostram que, entre 2010 e 2018, a percentagem de empresas que passaram a oferecer planos de pensões aos seus colaboradores aumentou de 33% para 43%. A tendência segue o que se passa em outros países.
A mudança está refletida nos números, mas não só. Em entrevista ao DN/Dinheiro Vivo, Marta Frazão acentua que, se antes os trabalhadores tinham pouca intervenção na definição destes benefícios, atualmente já não é necessariamente assim, com as empresas a terem cada vez mais em conta produtos que se adequam ao perfil dos trabalhadores e a tomarem a iniciativa de o convidar a participar também neste esforço de poupança. De que forma? Acenando-lhe com um complemento mais generoso, caso ele também aceite contribuir. Ou seja, a empresa aceita aumentar de 2% para 3% o seu desconto para este complemento se o trabalhador também aceitar adjudicar 1% do seu salário a esta poupança para a reforma.
Com maior ou menor generosidade, certo é que é frequente o trabalhador dizer não a este esquema de participação, que é sempre voluntário. Esta inércia em aderir, refere Marta Frazão, raramente é ultrapassada mais à frente. Por este motivo, acentua, em alguns países as empresas que oferecem este tipo de benefícios começaram a atuar de forma inversa: ou seja, por defeito assume-se que os trabalhadores estão dispostos a contribuir para o seu plano de pensões (pondo de lado, por exemplo, o tal euro por dia) e esta participação apenas é retirada se assim o disserem.
"Quando as pessoas entram na empresa é com esta lógica de também contribuírem e só deixam de o fazer se assim o disserem", sublinha, acrescentando que se trata de uma prática que ainda não ganhou adeptos em Portugal, mas que tem resultados porque promove a adesão dos trabalhadores.
Neste contexto, a responsável da Mercer Portugal considera que há ainda trabalho a fazer ao nível da comunicação, isto é, na forma como estes benefícios são desenhados e apresentados aos colaboradores.
Além de em termos individuais os planos de poupança para a reforma terem a vantagem de poder compensar algum corte de rendimento a quem não quer ou pode esperar pela idade legal da reforma, acabam também por dar uma ajuda às empresas na concretização de políticas de rejuvenescimento dos colaboradores.