Históricos do Sporting dão mérito a Amorim mas receiam arbitragens

Os ex-jogadores Manuel Fernandes e Carlos Xavier concordam em quase tudo na análise ao Sporting versão 2020-21, que de forma algo inesperada lidera a I Liga na passagem de ano pela sexta vez nos últimos 50 anos.
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Neste ano não houve o tradicional trauma do Natal e, contra todas as expectativas, o Sporting dobra o ano na liderança do campeonato da I Liga, com 29 pontos em 11 jornadas - perdeu apenas quatro pontos, fruto dos empates com o FC Porto (em Alvalade) e com o Famalicão (fora de casa), ambos a dois golos. É a sexta vez nos últimos 50 anos que os leões ocupam o lugar mais alto do pódio por esta altura. Mas, afinal, o que está na base deste sucesso?

Manuel Fernandes e Carlos Xavier, dois históricos do Sporting, concordam que o treinador Rúben Amorim é o principal artífice na excelente campanha leonina. "Está a fazer um trabalho extraordinário. O que mais destaco nele é o facto de ser sempre fiel ao seu modelo de jogo, nunca o alterando, percebendo-se que acredita cegamente no seu trabalho. Os sportinguistas estão rendidos a Rúben Amorim", diz Manuel Fernandes ao DN.

"Tem de se dar mérito total a Rúben Amorim, mas não nos podemos esquecer da direção, que acreditou neste treinador, quando muitos criticaram a decisão de o contratar", atira Carlos Xavier. "Ele pode ser um dos mais jovens treinadores que o Sporting já teve [35 anos], mas a idade não me interessa para nada, o que conta é a competência. E ele tem demonstrado ser muito competente", completa.

O antigo médio, nono jogador em toda a história com mais jogos realizados pelo Sporting na I Liga (249), não esconde alguma surpresa com o rendimento deste Sporting. "Acreditava que esta época seria o início da construção de uma equipa que em dois ou três anos estaria a lutar por todas as competições. Mas tenho visto com muito agrado que estamos já a fazer uma grande equipa. Sem dúvida que a liderança no campeonato é justíssima", defende.

Apesar da excelente campanha, Manuel Fernandes não considera os leões como candidatos ao título. Pelo menos para já. "Temos de perceber que existem dois clubes que talvez estejam mais bem apetrechados e que ainda estão à procura do melhor nível exibicional, mas que a qualquer momento podem melhorar bastante. O Sporting só se pode assumir como candidato se à entrada para o último terço da competição estiver em posição privilegiada. Aí, sim, quem estiver na frente arrisca-se a ser campeão", refere.

Carlos Xavier também adota um discurso cauteloso e fala por experiência própria de uma temporada no Sporting que começou de forma fantástica, mas que terminou com o terceiro lugar no campeonato. "Ganhámos os primeiros 11 jogos, mas depois tivemos um empate em Chaves, e não sei o que aconteceu, mas nunca mais nos encontrámos", lembra, a propósito da época de 1990-91, sob o comando do treinador Marinho Peres. Os leões acabariam ainda por chegar às meias-finais da Taça UEFA, quando foram eliminados pelo Inter Milão. No entanto, o ex-internacional português está convicto de que "este plantel pode ter mais sucesso no campeonato".

A força goleadora da formação de Rúben Amorim está bem expressa nos 26 golos marcados em 11 jogos. Os leões marcaram em todas as partidas e só frente ao Farense fizeram menos do que dois golos. Carlos Xavier destaca a produtividade de Pedro Gonçalves, melhor marcador da competição, com dez golos em dez jogos - falhou um desafio por estar infetado com covid-19 e outro devido a lesão. "Baixou agora um pouco de rendimento, mas tem sido a grande estrela do campeonato. Foi um achado", considera Manuel Fernandes, falando numa "produtividade fantástica deste miúdo, embora tenha baixado um pouco de rendimento nos últimos jogos".

O segundo melhor marcador da história do Sporting (255 golos em 433 encontros) sublinha ainda o bom rendimento de Tiago Tomás. "Não sendo um ponta-de-lança puro, tem mostrado a razão pela qual o Sporar deve ficar de fora. É fantástico alguém com apenas 18 anos fazer o que ele tem feito", refere a propósito do jovem oriundo da formação dos leões, autor de cinco golos em jogos oficiais na época de 2020-21, dois dos quais na I Liga.

Manuel Fernandes sublinha ainda "a utilidade e a criatividade de Nuno Santos e o aparecimento recente de Tabata, que também tem demonstrado ser muito bom jogador". E realça "o bom trabalho que tem sido efetuado na defesa, pelos experientes Adán, Coates, Feddal e Neto". De resto, na sua opinião, "tem sido essencial a estabilidade emocional que esses veteranos possibilitam a um grupo muito jovem".

Carlos Xavier confessa não estar totalmente satisfeito com o rendimento do central Neto, "que tem dado algumas indicações de nem sempre estar à altura". É neste contexto que o antigo médio veria com bons olhos "a chegada de um central com nome e categoria no mercado de janeiro". E também não desdenharia que fosse contratado "um ponta-de-lança de raiz de qualidade", embora reconheça estar muito satisfeito com Tiago Tomás, "jovem que não é um 9 clássico mas que tem cumprido muito bem o lugar".

Manuel Fernandes e Carlos Xavier concordam em mais um ponto: o receio de que algumas arbitragens prejudiquem o Sporting. "Em caso de dúvida, decidem sempre contra o Sporting. Isso viu-se, por exemplo, no último jogo com o Belenenses SAD, no lance da grande penalidade assinalada ao Adán. Tenho a certeza de que se aquele lance fosse na Luz ou no Dragão não seria marcado penálti contra Benfica e FC Porto", garante o antigo ponta-de-lança. E acrescenta: "Eu andei lá dentro e já no meu tempo o Sporting era prejudicado. Felizmente, temos uma direção que está atenta a esta situação e que diz de sua justiça quando a equipa é prejudicada."

Carlos Xavier acrescenta que "os árbitros são os piores adversários do Sporting e já escamotearam quatro pontos à equipa neste campeonato". Na sua opinião, "alguns árbitros não conseguem aguentar a pressão que é feita por alguns clubes, e isso já se passa há muitos anos".

Esta é apenas a segunda vez nos últimos 19 anos que o Sporting é líder isolado na passagem de ano, tendo o mesmo sucedido em 2001-02. Nessa altura, a equipa que tinha Mário Jardel como grande estrela - muito bem apoiado por João Vieira Pinto - tinha um ponto de avanço sobre o Boavista. Essa temporada de 2001-02 acabaria por ficar marcada pelo último título de campeão nacional dos verdes e brancos.
Em 2013-14, o Sporting estava nesta altura em igualdade com o líder Benfica e com o segundo classificado FC Porto, e em 2017-18 com os mesmos pontos que o FC Porto, primeiro colocado.

Para se ter uma ideia da diferença em relação à época passada, no período homólogo, o Sporting ocupava a terceira posição, com menos três pontos dos que soma atualmente, mas com mais três jornadas realizadas. Ou seja, tinha 30 pontos em 14 jornadas, contra os atuais 33 em 11 partidas. E estava a 13 pontos do líder Benfica. Foi uma temporada atípica, na qual os leões terminaram em quarto lugar e em que a instabilidade foi a palavra de ordem, com três treinadores (Marcel Keizer, Silas e Rúben Amorim) e um interino (Leonel Pontes).

Nos últimos 50 anos, os leões só dobraram o ano no primeiro lugar em seis ocasiões. Em três delas, o título acabou por ser uma realidade (1973-74, 1981-82 e 2001-02). No entanto, por duas vezes o sonho ruiu (1970-71 e 1976-77). Como será na temporada em curso?

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