Feira do Livro começa esta quarta-feira: e de uma caixa de bananas sai um Tolstói

A 89.ª Feira do Livro de Lisboa abre hoje ao meio-dia. Os leitores têm até dia 16 de junho para ultrapassar os 492 mil visitantes da edição de 2018. É a maior de sempre e a mais verde.
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A Feira do Livro de Lisboa nunca esteve tão perto do falo com que o escultor João Cutileiro evoca a Revolução do 25 de Abril no alto do Parque Eduardo VII como nesta 89.ª edição, nem cresceu tanto para os lados como desta vez. Nem poderia ser de outra maneira, afinal a feira atinge neste ano um número de pavilhões nunca visto, 328, e com 35 novos participantes, somando ao nível dos livros um total de 636 editoras e chancelas.

Quem entrar hoje a partir das 12.00, hora a que a Feira do Livro de Lisboa é inaugurada com a presença do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, vai reparar logo nas novidades físicas, mas também que a oferta das editoras está maior e mais agressiva através de muitos espaços específicos para promoções.

A montagem final da feira começou a sério no passado fim de semana quando as editoras começaram a ultimar os pavilhões com as pinturas dos seus stands e na segunda e na terça-feira foi um descarregar ininterrupto de livros ao longo das duas rampas do parque. E quem tivesse passado pelo falo em homenagem ao 25 de Abril, decerto não podia deixar de fazer uma comparação entre as pedras da escultura, espalhadas e empilhadas dentro de um reservatório de água, e as caixas de livros espalhadas e empilhadas perto dos pavilhões.

Os livros chegaram em carros, carrinhas e camiões. Em caixas e paletes... e muitas caixas de bananas, recicladas para o transporte da literatura. Sinais de crise? Talvez, já que não uma mas várias editoras reaproveitam a solidez das caixas de bananas para esvaziar os seus armazéns.

Além dos livreiros, era o pessoal da restauração quem mais competia na montagem. Era a rulote da Bohemia a ser retirada de um camião e posta no chão por uma grua, era a das farturas gourmet a ser limpa...

Como o que interessa são os livros, via-se que a azáfama era grande de modo a ter tudo pronto para hoje. Assim será, pois ontem a maioria dos stands estavam recheados de milhares de livros. Ao pé da Alfaguara estavam paletes de livros de Afonso Cruz, João Tordo, Javier Marías ou F. Scott Fitzgerald. No Páteo Almedina eram estantes repletas de histórias da Filosofia ao lado de Cosa Nostra - História da Máfia Siciliana, onde também estavam embalados milhares de catálogos com a oferta da editora.

Na Relógio d'Água e na Antígona viam-se os espaços dedicados a livros em promoção. Na segunda editora já estavam os cartões que prometiam livros a dez e 7,50 euros, e em fundo uma boa mancha com volumes de Cartas A Um Jovem Poeta, de Rilke.

E as referidas caixas de bananas lá iam aparecendo numa ou noutra editora, se bem que o fruto que lá vinha dentro não fosse qualquer um: Guerra e Paz, de Tolstói, era um dos livros que ocuparam o espaço anterior das bananas!

Quanto às grandes praças que os maiores grupos editoriais têm à disposição dos leitores, o esforço de última hora era grande. A Praça Leya nos últimos retoques, a Praça da Porto Editora com um stand especial a comemorar o centenário do nascimento de Sophia, o Grupo 20/20 a montar os palcos para os autores darem autógrafos. Uma pressa que também se passava no Espaço dos Pequenos Editores, ou em novas presenças como é a da livraria Ler Devagar e da Fundação Serralves.

A música que tocava nos altifalantes era country e os turistas que mais davam nas vistas a passear pela pré-Feira do Livro tinham aspeto oriental (muitos mesmo), mas já havia curiosos a antecipar as escolhas literárias. Era o caso de José Correia, 64 anos, que observava num dos stands alguns títulos que voltará para comprar. Saúde e contabilidade são os dois géneros que vem comprar à feira habitualmente: "O acesso às publicações é mais fácil aqui, pode-se folhear e escolher com calma."

Quanto aos editores e às suas expectativas, há opiniões para todos os gostos. Um dos que estavam na feira disse ao DN o seguinte: "A concorrência é grande e cada vez há mais feiras do Livro por todo o país. Feiras de verão, feiras disto e daquilo, até nas praias do Algarve as fazem!"

Falando de Algarve, enquanto centenas de pessoas montavam a 89.ª Feira do Livro de Lisboa, duas turistas davam uso aos biquínis sobre a relva do Parque Eduardo VII. Se lá voltarem hoje, pode ser que comprem dois livros.

O que esperam as editoras desta Feira do Livro?

Porto Editora: [resposta do editor Manuel Alberto Valente] "Espero sobretudo que, ao contrário do que aconteceu nas eleições europeias, as pessoas não troquem a feira pela praia. Até porque estar na praia sem um livro me parece um exercício de pasmaceira. Espero que as vendas de todas as editoras aumentem, que as apresentações e os colóquios estejam cheios, que os leitores aproveitem os saldos (há sempre livros imperdíveis a preços reduzidos), visitem os alfarrabistas, conversem com os autores, peçam autógrafos - e se deitem na relva a folhear a última novidade. Afinal, a feira é, tem de ser, uma festa!"

Grupo 20/20 Editora: "Pode parecer um cliché, mas na realidade a essência da Feira do Livro de Lisboa é permitir que os leitores se sintam mais próximos das editoras e dos autores. É uma montra do que se edita em Portugal e, obviamente, a ideia do Grupo 20|20 Editora não é mais do que intensificar laços com quem visita o nosso espaço, ano após ano, e conquistar, claro, novos leitores. E, porque temos de saber ouvir e perceber como podemos melhorar e ir ao encontro do que o leitor procura, neste ano a 20|20 Editora terá, pela primeira vez, pavilhões abertos, proporcionando precisamente essa maior proximidade. Serão 16 pavilhões ao todo, com livros editados pelas nossas dez chancelas, num espaço que se manterá como um dos mais dinâmicos da feira. Queremos continuar a ter famílias a visitar-nos, crianças a interagirem com os livros e os autores, acreditando que estas, no futuro, irão ser os adultos que modificarão a estatística atual: a leitura média de 1,3 livros por ano. Pese a Feira do Livro implicar um investimento elevado, sobretudo para quem aposta em espaços de grande dimensão, proporcionais também à dimensão no mercado editorial - como é o caso do Grupo 20|20 Editora -, o objetivo primordial não é o financeiro. No final, feitas as contas, esperamos que o valor investido se reflita a curto, médio e longo prazo, num mercado mais forte, dinâmico e leitores mais assíduos."

Editorial Presença: "Esperamos marcar uma 'presença' com impacto, que possa contribuir para aproximar leitores e autores, promovendo sempre o gosto pela leitura. O nosso objetivo será proporcionar um ambiente familiar, de partilha pela mesma paixão: os livros. Para isso, a nossa programação cultural foi criada para ir ao encontro de um público com diversas preferências, desde as crianças até aos adultos, nas diferentes chancelas do grupo. Durante o ano de 2019 continuamos as celebrações do 20.º aniversário da publicação da edição portuguesa de Harry Potter e a Pedra Filosofal. Deixamos o convite a todos os visitantes da Feira do Livro de Lisboa a juntarem-se a nós nestes dois eventos nos dias 1 e 9 de junho."

Saída de Emergência: "A editora vai voltar a apostar em força na Feira do Livro, com cinco pavilhões distribuídos pelas suas várias chancelas: Saída de Emergência, Chá das Cinco e Desassossego. O fundo de catálogo é o nosso forte no evento, bem como o convívio com o público mais fiel, mas temos apostas imperdíveis, como o novo título do Mark Manson, autor de A Arte Subtil de Saber Dizer Que se F*da, há mais de 500 dias no top nacional com cerca de cem mil exemplares vendidos, e a duologia Sangue & Fogo, de George R. R. Martin, ideal para quem acabou de ver A Guerra dos Tronos na TV e quer mais."

Grupo Leya: "A edição do ano passado foi para a LeYa uma das mais bem-sucedidas de sempre. Neste ano o que desejamos é que este sucesso se repita e, se possível, possa ser superado, quer no que diz respeito à venda de livros quer, também, no que diz respeito à adesão às muitas atividades que planeámos para o nosso espaço - as mais de 200 sessões de autógrafos já marcadas, a presença de 120 autores, as iniciativas em torno dos aniversários de carreira literária de António Lobo Antunes e Mário Cláudio, ou ainda de Alice Vieira e António Mota, a apresentação, pela primeira vez na feira, dos vencedores da Escola Amiga da Criança, iniciativa da Confap, da LeYa e do psicólogo Eduardo Sá, que premeia as melhores ideias das escolas portuguesas (dia 31, 19.00), a cerimónia de entrega do Prémio LeYa a Itamar Vieira Junior, pelo romance Torto Arado (dia 2, 18.30), ou a entrega dos prémios dos vencedores do Concurso Uma Aventura... Literária (dia 3, 14.30), entre muitas outras. Esperamos, ainda, a melhor adesão possível dos visitantes da feira a um novo projeto relacionado com a literatura infantojuvenil que ali apresentaremos no Dia Mundial da Criança e que acreditamos que se destacará no setor editorial."

Feira do Livro de Lisboa

Parque Eduardo VII, Lisboa

Abre hoje e termina dia 16 de junho

Ver programação em http://feiradolivrodelisboa.pt/agenda/

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