A era híbrida tecnológica chega para reinar
O que pode esperar de 2021 a nível tecnológico? Um mundo cada vez mais híbrido entre o digital e o presencial e novas tecnologias prontas para se expandirem para outras áreas. Se 2020 foi um ano pandémico de aceleração digital, com cada vez mais pessoas a "viver" mais tempo na internet, 2021 promete ser um ano de mistura de conceitos e de um novo normal onde a tecnologia assume um papel mais fulcral, sem esquecermos que o mundo presencial, cara a cara, também faz muita falta.
Num relatório do World Economic Forum deste final de ano que analisa as apostas que as empresas deverão adotar até 2025, por ordem de prioridade estão: a computação na cloud; analítica de dados; internet das coisas; cibersegurança; inteligência artificial; processamento de texto, imagem e voz;
e-commerce, robótica não humanoide (incluindo drones); realidade virtual e aumentada; tecnologia distribuída (como blockchain); impressão 3D; armazenamento energético (renováveis); novos materiais; biotecnologia; robôs humanoides e computação quântica.
Na análise às tecnologias que prometem fazer a diferença que se segue juntámos previsões dos CTO das maiores empresas do mundo a estudos e análises de especialistas. Presentes em todas as temáticas estão a expansão da inteligência artificial (alimentada pelos dados e por mais sensores de IoT, internet das coisas), as preocupações crescentes com a cibersegurança e as vantagens e problemas da expansão da biotecnologia (que deverá ter reflexo sério na sociedade já depois de 2021).
Os benefícios da cloud estão presentes sempre que vê Netflix, ouve música no Spotify, conversa em videochamada por Zoom, vê vídeos e fotos no Facebook ou joga videojogos com outras pessoas online no telemóvel. Em 2021 estes serviços pagos mensalmente e que dão acesso a conteúdos ligados ao streaming (vídeo, áudio e gaming) ou a videochamadas e a espaço na cloud só se vão expandir ainda mais, com os gigantes Google, Microsoft, Amazon, Apple, entre outros, a poderem ter serviços em áreas como o fitness, saúde e mobilidade. As possibilidades para a cloud e para as subscrições parecem ser infinitas e uma cada vez maior mina dos ovos de ouro para as tecnológicas e não só - veja-se a aposta séria da Disney no streaming que pode complicar a vida às salas de cinema.
Os relógios ou pulseiras são já inteligentes, de sucesso planetário e capazes de registar e nos ajudar na nossa saúde, tal como os earbuds sem fios são já extensões da nossa relação com o smartphone. Mas será 2021 o ano dos óculos inteligentes de realidade aumentada? Tudo indica que sim. Oito anos depois de a Google ter lançado sem sucesso os seus Glass, óculos inteligentes com um ecrã com formato futurista, agora parece que está criado o contexto tecnológico para surgirem soluções capazes e de sucesso de marcas como Lenovo, Samsung ou até Apple. As funcionalidades devem ser semelhantes às do smartphone (a realidade virtual deve expandir-se no mundo do gaming). Espera-se ainda um aumento de ferramentas com realidade aumentada ou virtual na saúde, no trabalho ou na educação que prometem evitar filas, concentrações de pessoas e trazer eficiência.
A inteligência artificial e a automatização eficaz que ela permite está já em muitos do benefícios tecnológicos que nos rodeiam, mas há áreas onde o potencial está por alcançar, nomeadamente na indústria e na saúde - que tem tudo para beneficiar pela maior quantidade de dados pessoais disponíveis sobre cada um (onde os wearables e equipamentos IoT ajudam). A telessaúde ganhou uma importância sem precedentes, das teleconsultas, passando pela telemonitorização remota de doentes (com a tecnologia a permitir fazê-lo 24 horas por dia sem internamento no hospital), a telediagnósticos. Muitos hospitais ainda não os praticam por falta de meios tecnológicos e de formação, algo que pode mudar em 2021, tal como a chegada dos gigantes tech ao mundo dos seguros e serviços de saúde. Com esta evolução, tem de haver cibersegurança para evitar riscos problemáticos.
Internet mais rápida, segura e fiável nunca foi tão importante, como se viu durante a pandemia com o ensino e o trabalho remoto a exigirem mais das redes de internet em casa. A promessa do 5G deveria ter começado a aparecer em Portugal em 2020, mas foi adiada para 2021 e promete vir a tornar-se relevante de novas formas que podem incluir substituir as redes de fibra ótica e o Wi-Fi dentro de casa. Mas as suas capacidades serão também importantes para a realidade aumentada, para o gaming na cloud, para a mobilidade autónoma (carros-robô que comunicam entre si) onde se inclui os drones, para cirurgias remotas sem o risco de falhas e nas redes internas na indústria, eliminando cabos e dando fiabilidade e rapidez. Permitem ainda computação complexa com acesso a bases de dados gigantescas e transmitida em tempo real.
Estudos indicam que uma maioria alargada (entre os 60% e 76%) dos trabalhadores portugueses querem ter a possibilidade de teletrabalho mesmo após a pandemia, a maioria num regime híbrido que combina trabalho presencial com remoto, tudo graças à tecnologia. E no ensino (especialmente superior) também há novos fãs da possibilidade de aprender, pelo menos em parte, de forma remota. Com isso, os computadores ganharam fôlego inédito nas vendas, tal como os acessórios e novas ferramentas digitais e físicas devem surgir em 2021. Essa nova realidade híbrida, de acordo com o líder da Amazon Web Services, Werner Vogels, "irá levar ao redesenhar das nossas cidades (com novas dinâmicas de mobilidade)" e "comunidades mais saudáveis e seguras" numa "verdadeira convergência do digital e do físico". Também permitirá desenvolver a chamada internet de comportamentos, associada ao trabalho, indica relatório da Gartner, já que será possível recolher mais dados do que nunca e influenciar a forma como as pessoas trabalham.
"Ter opções de ensino e trabalho à distância disponíveis em qualquer altura" vai trazer uma nova realidade que espera-se que também traga um renascimento dos espaços de cowork, o repensar dos escritórios como os conhecemos (dispersão das sedes das empresas) e ainda crie mais nómadas digitais (pessoas que vão para um local agradável trabalhar alguns meses).