As vantagens de ter um bom sistema de transporte público nas principais cidades do país são tão evidentes que soa até banal enumerá-las. Financeiramente, permite à maioria dos seus utilizadores poupar várias dezenas de euros por mês. Em muitos casos permite deslocações mais rápidas (principalmente nos centros das cidades), com vantagens de eficiência. Promove a saúde individual e a saúde pública, ao estimular os indivíduos a andar a pé, reduzindo o stress associado à condução, diminuindo o congestionamento e a poluição das cidades. Ao nível macroeconómico, contribui para a redução da dívida externa, porque requer muito menos importação de combustível. Limita as emissões de gases com efeito estufa. Reduz os acidentes de trânsito e, consequentemente, os custos com o sistema de saúde. Como bónus, fomenta um sentido de comunidade, em vez do isolamento individual na cabina de um automóvel..É evidente que várias destas vantagens não se verificam se o sistema de transportes públicos for medíocre, se as pessoas tiverem de esperar tempo sem fim pelo próximo autocarro ou comboio. Pior do que isso, se nunca souberem quanto tempo é que irá demorar a chegar. Se os veículos estiverem de tal forma cheios de gente, ou tão ruidosos, ou tão frios no inverno e abafados no verão, que se torna dificilmente suportável a sua utilização..Evitar tudo isto exige investimento, claro, mas não só. Exige também planeamento, organização, avaliação pelos utentes e algumas opções políticas corajosas - como restringir o acesso de automóveis individuais aos centros da cidade, aumentar as vias prioritárias e enfrentar interesses económicos instalados nos sectores relacionados. Há poucas decisões políticas em que as vantagens colectivas sejam tão claras como a aposta no transporte público. Pode ser que um dia aconteça em Portugal..Economista e professor do ISCTE-IUL. Escreve de acordo com a antiga ortografia