Mais 74 cêntimos por aluno para a comida da escola ser boa como a de casa

O DN visitou uma escola do concelho de Cascais, onde a autarquia rescindiu o serviço com o fornecedor de refeições e aumentou para 2,02 euros o valor pago por refeição. Alunos, pais e diretor garantem que o esforço faz muita diferença
Publicado a
Atualizado a

Sopa de legumes, crepes com arroz e água a acompanhar. Em alternativa, posta de peixe grelhada. O almoço na Escola número um da Galiza não equivale exatamente a um menu a la carte. Poderia esperar-se mais, tendo em conta o caderno de encargos aprovado para este ano pela Câmara de Cascais onde, a troco de um incremento de 74 cêntimos - assumido pelo município - no investimento por aluno das refeições, os novos prestadores do serviço passaram a ter de garantir na ementa semanal pratos com "carne com qualidade talho", como vazia, e peixe "de primeira", com a posta de pescada número 5 e o cherne.

Mas o facto de o menu não ter sido mais elaborado, num dia em que até se sentou à mesa o presidente da Câmara de Cascais, Carlos Carreiras, acabou por ser uma boa "prova dos nove" à eficiência da equipa que trabalha na cozinha da escola, agora ao serviço de uma nova empresa de catering - após a rescisão com a Uniself.

E pelo menos para os 'críticos' que verdadeiramente interessava impressionar - os alunos - o almoço do dia "foi bom". E assim tem sido, garantem, desde o início do ano letivo. "Acho que está muito melhor do que no ano passado", garante Ester, de dez anos. "Antes, às vezes a comida estava muito misturada e estava também muito salgada. Acho que agora está tudo muito mais organizado e muito mais saudável e gostoso". "Agora estou a gostar sempre", conta esta aluna do quarto ano, que elege "a sopa" como prato preferido.

Diana, de oito anos, conta que "não comia muito na escola no ano passado. Só comecei no final", explica. E nessa altura a própria Uniself já tinha servido a entrega de refeições pré-cozinhadas por uma equipa que os preparar no local. Mesmo assim, nota diferenças. "Acho que no ano passado era mais salgada, como ela disse", confirma. "Agora já está equilibrado. Vai mudando: às vezes é peixe, às vezes é carne, uma salada, sopa, e vai trocando", conta, elegendo "o peixe" como refeição preferida até agora.

Helena Afonso, presidente da Associação de Pais, defende que mais do que a troca da Uniself pela ITAU, pesou na qualidade do serviço a substituição de pratos congelados, que eram aquecidos na escola, pela equipa da cozinha, que transitou de uma empresa para a outra. "No primeiro período do ano passado foi resolvido. Passámos a ter uma cozinheira, a cozinha passou a estar equipada para se fazer a comida cá dentro. Os meninos começaram a comer melhor. Houve muitas diferenças". "Ainda agora estávamos aqui a comentar que até no cheiro da cozinha, antes e depois, houve muita diferença".

Mas a principal melhoria, insiste, foi mesmo a preparação da comida no local. " A comida de raiz, com uma cozinha equipada e tudo o mais, nota-se muita diferença. Mesmo para os nossos meninos é muito diferente de vir a comida congelada". Quanto ao reforço das matérias-primas, permitido pelo reforço do investimento, admite ainda não ter muita informação. Ainda que a ausência de queixas dos alunos seja uma boa notícia: "Se não gostarem, a primeira coisa que notamos é que vão meninos [para casa] ou desagradados ou com fome porque não almoçaram e tudo o mais. Neste momento isso não acontece".

"Outras câmaras já pediram para consultar o nosso caderno de encargos"

Para Frederico Pinho de Almeida, Vereador com a pasta da Educação, as "zero" queixas relativas as escolas sob a alçada da câmara são o melhor indicador de que "a aposta" em subir a fasquia do valor suportado com as refeições não foi uma excentricidade.

Atualmente, face a um conturbado arranque do ano letivo passado, com muitas reclamações, várias das quais amplamente noticiadas, Câmara de Cascais e Uniself - que ainda domina amplamente o mercado das refeições escolares, tanto nas escolas dos municípios como na rede do Ministério da Educação - estão em litígio na justiça. A empresa por ter visto rescindido um contrato em vigor. A autarquia por reclamar o pagamento de uma série multas aplicadas ao fornecedor, por questões como a falta de pessoal ou quantidade e qualidade da comida servida. Mas, mesmo sem esconder a satisfação pelo termo desta relação, o vereador também assume que "nenhuma empresa" conseguiria prestar um serviço isento de falhas e com qualidade com os valores praticados no passado.

"Houve algumas pessoas que, ao início, ironizavam quando o menu dizia cherne ou bife da vazia. Agora começam a perceber que é uma realidade", garante. "O prestador de serviços, neste caso a Itau, pode cumprir com o caderno de encargos. E permite também cumprir com o rácio de pessoal. No ano passado, como o valor era baixo, a empresa para não ter digamos prejuízo, cortava nos recursos humanos. estava constantemente a incumprir. Gerava atrasos no serviço de refeições. Este ano, até à data, zero, Temos vários melhorias, da matéria-prima, dos recursos humanos e tudo isso tem um impacto no próprio refeitório, no acompanhamento à refeição das crianças, sobretudo as do primeiro e segundo ano, que são as mais pequenas".

Uma petição defendendo o aumento generalizado do valor mínimo a pagar por cada aluno servido nas cantinas escolares gerou várias iniciativas legislativas na Assembleia da República. Desde a concretização dessa medida a, em sentido contrário, a devolução às escolas da gestão dos seus refeitórios.

Frederico Pinho de Almeida acredita, no entanto, que a Câmara de Cascais não continuará por muito tempo a ser caso único. E revela: "Várias autarquias estão interessadas e pediram para consultar o nosso caderno de encargos".

José Loureiro, diretor do Agrupamento de Escolas de São João do Estoril, ao qual pertence a Escola n.º 1 da Galiza, diz "nota uma melhoria muito significativa" nas cantinas em que a confeção dos alimentos é feita no local. Quanto a essa confeção estar a cargo de pessoal na dependência da própria escola ou de uma empresa externa, diz, "já tive uma opinião completamente diferente mas, neste momento, a minha opinião é que, dada a escassez de pessoal não docente, auxiliares, temos muita dificuldade em garantir um serviço de qualidade, um serviço contínuo e tudo o que é desejável num caso destes. Por isso, "conclui, "a entrega a empresas, se houver uma melhoria das condições dos concursos, um aumento no custo por refeição, é uma melhor solução".

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt