Como sobreviver sem produzir?
Os dois temas primordiais do nosso tempo são a crise ecológica e as desigualdades sociais. Junte-se a eles o crescimento da população mundial - provavelmente nove mil milhões até 2050 - e o continuado aumento da esperança de vida dos seres humanos e ficamos num paradoxo insolúvel.
Num momento em que temos cada vez mais consciência de que já ultrapassámos os limites do que extraímos quotidianamente dos recursos naturais, a humanidade confronta-se com um momento singular na sua história: poder produzir mais mas não o fazer. Há quem aceite ter menos e reequacionar o paradigma da satisfação, e quem não veja necessidade de que isso aconteça - ou, noutros casos, não possa pura e simplesmente deixar de produzir incessantemente para sobreviver.
Mas como podem os seres humanos reduzir significativamente o trabalho e a produção (o salário?) para abrandar uma crise ambiental vertiginosa?
O aumento da produtividade gerada pela inteligência artificial (robôs, computadores biónicos, veículos autónomos, etc.) vai reduzir ainda mais postos de trabalho e aumentar a capacidade de produzir incessantemente. Estes ganhos ficarão única e exclusivamente nos detentores do capital e da tecnologia, acentuando o aumento da desigualdade no mundo.
Por isso mesmo, e desde já, é necessário criar uma taxa de sobrevivência social que incida sobre a substituição de postos de trabalho e mecanismos de prémio ambiental a quem reduza a produção. Não adiantará endeusar a inovação e o mercado se, em simultâneo, uma multidão de sem-abrigo torna o mundo um lugar inabitável.