Na investigação levada a cabo pelo professor Adelino Torres, da qual publicou as conclusões no livro Vozes do Sul, com elas anunciava o desenvolvimento de um pensamento africano que procurava responder aos novos tempos, depois do desmoronar dos impérios coloniais ocidentais. Trata-se daquilo que o historiador Amzat Boukari-Yabara chama agora "a sombra de uma Primavera Africana" (2019), salientando a preocupação com o tema da "soberania africana: atacando a hegemonia ocidental, retomado o discurso de uma África tradicional ou desocidentalizada, os apelos populistas denunciam as políticas imperialistas que, em nome de um pretendido universalismo, acabam por dividir pela força em vez de reunir pelo diálogo"..O uso da qualificação de populismo é frequente, mas corre o risco de esbater as diferenças entre, por exemplo, o que se passa nos EUA (Trump em 2016) e em França (Le Pen, 2017), e o que se passa na África, com evidência de que as memórias são diferentes, e a circunstância mundial não determina respostas populistas partilhadas. Isso tem evidência no facto de que no caso dos EUA é a quebra da solidariedade atlântica que cresce, e no que toca aos países africanos o que vai crescendo é a tendência para procurarem a relação com a China e com a Rússia. É, por exemplo, inquietante que a herança de Mandela, proclamando o conceito de Nação Arco-Íris, isto é, identidades étnicas e culturais sem discriminações, fundada na reconciliação e perdão quanto aos sofrimentos do passado apartheid, iniciando o que François Laforgue chamou "uma Nação em construção" (Paris, 2015, PUF), e que agora enfrenta uma força alternativa, que tende para crescer, nacionalista, pan-africanista, parecendo afastar-se do legado de Mandela. No todo não pode deixar de registar-se a multiplicação de recursos aos conflitos armados, exigindo intervenções frequentes de forças militares ocidentais, para restaurar a paz..Os paradigmas do globalismo, que são os princípios do "mundo único" e da "terra casa comum de todos os homens", justificam o apoio que está implícito na afirmada "Primavera Africana", que diz respeito à afirmação da chamada "zone de libre-échange continentale" (ZLEC), anunciada pela Assembleia da União Africana já em 15 de junho de 2015, em Joanesburgo, e que agora é anunciada como oferecendo aos países africanos a possibilidade de relançar o comércio intra-africano, de diversificar a sua economia, de a transformar estruturadamente e realizar importantes objetivos em matéria de direitos do homem e luta contra a pobreza, temas sobre os quais o continente se empenhou na sua Agenda 2003, na qual a ZLEC é um projeto-vedeta - e "no programa de desenvolvimento sustentado com o horizonte em 2030"..Mais uma vez o Alto Comissariado da ONU para os direitos humanos, acompanhando a Fundação Friedrich-Ebert, e a Comissão Económica para a África se empenharam em estudar o impacto da ZLEC sobre o efeito no progresso dos direitos humanos numa África pacificada, porém sem esquecer o ceticismo que acompanha os trajetos de integração regional e respeito pelos objetivos postos nos acordos comerciais. O estudo político salienta ser "indispensável proceder a vastas consultas com a participação de todos, nas negociações da ZLEC e na sua aplicação. Tal apenas será possível por meio dos esforços acrescidos dos dirigentes e negociadores e na sua aplicação. Tal não será possível sem que os esforços acrescidos dos dirigentes e dos negociadores consigam atingir e aliar todos os atores e assegurar assim que os grupos vulneráveis e marginalizados serão bem compreendidos"..Compreende-se assim porque é que Yabara fala da "sombra de uma Primavera Africana", tal é a profundidade das feridas que os "direitos do homem" sofrem no continente, o peso da memória do passado que não aponta para a confiança nos antigos agentes soberanos da ocidentalização africana, a difícil substituição dos "governos extrativos" do passado por frequentes "regimes extrativos" e não democráticos do presente. A resposta humanista talvez deva assumir que, entre mais objetivos, a iniciativa anuncie a vontade de contribuir para uma vida civil e política que restabeleça a esperança de implantar condições que evitem o drama das migrações. A contribuição dos meios, não apenas políticos, mas empresariais, técnicos e científicos portugueses, está seguramente esperada pelos que em África se lançaram neste programa. Felizmente, e não obstante as dificuldades decorrentes da crise económica e financeira, que foi necessário enfrentar, dentro da estrutura da União Europeia, o interesse oficial português pela evolução dos países africanos tem apoio na sociedade civil, que continua solidária com as novas soberanias africanas, e a boa articulação destas com o globalismo em evolução.
Na investigação levada a cabo pelo professor Adelino Torres, da qual publicou as conclusões no livro Vozes do Sul, com elas anunciava o desenvolvimento de um pensamento africano que procurava responder aos novos tempos, depois do desmoronar dos impérios coloniais ocidentais. Trata-se daquilo que o historiador Amzat Boukari-Yabara chama agora "a sombra de uma Primavera Africana" (2019), salientando a preocupação com o tema da "soberania africana: atacando a hegemonia ocidental, retomado o discurso de uma África tradicional ou desocidentalizada, os apelos populistas denunciam as políticas imperialistas que, em nome de um pretendido universalismo, acabam por dividir pela força em vez de reunir pelo diálogo"..O uso da qualificação de populismo é frequente, mas corre o risco de esbater as diferenças entre, por exemplo, o que se passa nos EUA (Trump em 2016) e em França (Le Pen, 2017), e o que se passa na África, com evidência de que as memórias são diferentes, e a circunstância mundial não determina respostas populistas partilhadas. Isso tem evidência no facto de que no caso dos EUA é a quebra da solidariedade atlântica que cresce, e no que toca aos países africanos o que vai crescendo é a tendência para procurarem a relação com a China e com a Rússia. É, por exemplo, inquietante que a herança de Mandela, proclamando o conceito de Nação Arco-Íris, isto é, identidades étnicas e culturais sem discriminações, fundada na reconciliação e perdão quanto aos sofrimentos do passado apartheid, iniciando o que François Laforgue chamou "uma Nação em construção" (Paris, 2015, PUF), e que agora enfrenta uma força alternativa, que tende para crescer, nacionalista, pan-africanista, parecendo afastar-se do legado de Mandela. No todo não pode deixar de registar-se a multiplicação de recursos aos conflitos armados, exigindo intervenções frequentes de forças militares ocidentais, para restaurar a paz..Os paradigmas do globalismo, que são os princípios do "mundo único" e da "terra casa comum de todos os homens", justificam o apoio que está implícito na afirmada "Primavera Africana", que diz respeito à afirmação da chamada "zone de libre-échange continentale" (ZLEC), anunciada pela Assembleia da União Africana já em 15 de junho de 2015, em Joanesburgo, e que agora é anunciada como oferecendo aos países africanos a possibilidade de relançar o comércio intra-africano, de diversificar a sua economia, de a transformar estruturadamente e realizar importantes objetivos em matéria de direitos do homem e luta contra a pobreza, temas sobre os quais o continente se empenhou na sua Agenda 2003, na qual a ZLEC é um projeto-vedeta - e "no programa de desenvolvimento sustentado com o horizonte em 2030"..Mais uma vez o Alto Comissariado da ONU para os direitos humanos, acompanhando a Fundação Friedrich-Ebert, e a Comissão Económica para a África se empenharam em estudar o impacto da ZLEC sobre o efeito no progresso dos direitos humanos numa África pacificada, porém sem esquecer o ceticismo que acompanha os trajetos de integração regional e respeito pelos objetivos postos nos acordos comerciais. O estudo político salienta ser "indispensável proceder a vastas consultas com a participação de todos, nas negociações da ZLEC e na sua aplicação. Tal apenas será possível por meio dos esforços acrescidos dos dirigentes e negociadores e na sua aplicação. Tal não será possível sem que os esforços acrescidos dos dirigentes e dos negociadores consigam atingir e aliar todos os atores e assegurar assim que os grupos vulneráveis e marginalizados serão bem compreendidos"..Compreende-se assim porque é que Yabara fala da "sombra de uma Primavera Africana", tal é a profundidade das feridas que os "direitos do homem" sofrem no continente, o peso da memória do passado que não aponta para a confiança nos antigos agentes soberanos da ocidentalização africana, a difícil substituição dos "governos extrativos" do passado por frequentes "regimes extrativos" e não democráticos do presente. A resposta humanista talvez deva assumir que, entre mais objetivos, a iniciativa anuncie a vontade de contribuir para uma vida civil e política que restabeleça a esperança de implantar condições que evitem o drama das migrações. A contribuição dos meios, não apenas políticos, mas empresariais, técnicos e científicos portugueses, está seguramente esperada pelos que em África se lançaram neste programa. Felizmente, e não obstante as dificuldades decorrentes da crise económica e financeira, que foi necessário enfrentar, dentro da estrutura da União Europeia, o interesse oficial português pela evolução dos países africanos tem apoio na sociedade civil, que continua solidária com as novas soberanias africanas, e a boa articulação destas com o globalismo em evolução.