Há mais farmácias em Portugal desde o início do milénio. Lisboa e Porto são exceção

Todas as regiões do país aumentaram o número de farmácias nos últimos 20 anos. Mas há municípios que não acompanharam esta tendência: Lisboa perdeu 73 farmácias e o Porto 10.
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Desde o início do milénio, há mais 231 farmácias em Portugal. Quase todos os concelhos do país aumentaram o número destes estabelecimentos nas últimas duas décadas, salvo cerca de 20 municípios. Entre eles, estão Lisboa e Porto, as cidades que em termos absolutos perderam mais farmácias, segundo os dados disponíveis no Pordata. No entanto, o presidente da Associação Nacional de Farmácias alerta: nem todas estão a funcionar em pleno, 693 encontram-se em risco de fechar.

Em 2001, havia 2888 farmácias abertas e em 2018 eram 3119. O aumento está distribuído por todas as regiões, uma vez que praticamente em todos os concelhos do país abriram novas farmácias, sendo que, durante estes anos, o crescimento foi mais acentuado no norte e no centro.

A tendência inverte-se em poucos concelhos. Lisboa e Porto foram as cidades onde fecharam mais farmácias, na capital encerraram 73 farmácias e na Invicta outras dez. No entanto, estes números não têm o mesmo peso do que em concelhos como Montalegre, Cinfães, Peso da Régua, Nazaré, Batalha, Gouveia e Serpa, que perderam uma ou duas farmácias, o que representa cerca de um quarto dos estabelecimentos que existiam nestas localidades. Resende (distrito de Viseu) é o município onde a redução foi mais significativa: passaram de cinco (em 2001) para duas farmácias (em 2018).

"É verdade que o encerramento de uma farmácia em Lisboa é preocupante, mas é principalmente preocupante para o seu proprietário numa lógica económica. O encerramento de uma farmácia no interior tem muito mais relevância. Numa localidade de um concelho pequeno, deixa um conjunto de pessoas sem serviços", refere Paulo Cleto Duarte, presidente da Associação Nacional de Farmácias (ANF).

693 farmácias em risco de fechar, segundo a ANF

"Os números mostram o número de farmácias em que o alvará existe e não estão encerradas, mas a verdade é que muitas não estão em condições de exercer a sua função, estão debilitadas: têm processos de penhora, de insolvência. Não estão a conseguir cumprir a sua missão". Paulo Cleto Duarte refere-se à falta de medicamentos disponíveis e a um número limitado de funcionários que obriga a horários mais reduzidos.

Há cerca de 693 farmácias identificadas pela associação como estando em risco de fechar (224 com processo de insolvência e 469 com processo de penhora) - quase todas no interior. Portalegre, Santarém e Guarda são os distritos onde há mais estabelecimentos em risco. "Estamos a agravar assimetrias", diz o responsável pelo organismo que representa mais de 90% das farmácias comunitárias de Portugal.

"Desde 2010, que temos uma das crises mais graves do nosso país em termos de farmácias e eu associo isso muito ao facto de termos perdido um terço daquilo que era a sua faturação. O que aconteceu com a liberalização do setor. Nós hoje estamos muito mais próximos da economia do mercado e as farmácias não são viáveis", diz Paulo Cleto Duarte. Por isto, a ANF apresentou em abril, na Assembleia da República, uma petição para "salvar as farmácias", que contava com mais de 120 mil assinaturas. O setor pede um novo acordo com medidas que garantam a coesão territorial da rede.

Com a introdução dos genéricos, as farmácias perderam receitas na ordem dos 17% por fármaco. A média dos prejuízos por estabelecimento rondará os 3836 euros, segundo um estudo da Universidade de Aveiro, publicado em 2016. No entanto, conseguiram recuperar parte deste custo através de outro tipo de serviços como a vacinação para a gripe, vigilância de diabetes e troca de seringas.

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