Amazónia
O tema da Amazónia tornou-se mundial pelo conflito entre a conceção soberanista do Brasil - apenas um dos Estados que partilham aquele território - e os defensores ambientalistas da inclusão da floresta no património comum da humanidade, com um estatuto de referência no Acordo de Paris, que os EUA abandonaram por desconsiderarem as conclusões dos cientistas.
Acontece que ao mesmo tempo que a Igreja Católica organiza em Roma, com duração prevista entre 6 e 27 de outubro, um sínodo consagrado à questão da Amazónia, milhares de ativistas contra as alterações climáticas organizaram protestos em várias cidades do mundo, desenvolvendo-se uma "desobediência civil pacífica" exigindo a mobilização de responsáveis políticos, sem delongas, para cortar as emissões de dióxido de carbono.
Movimento largamente inspirado pela jovem sueca Greta Thunberg, cuja capacidade de mobilização não parece afetada pelas críticas. Acontece que na Amazónia está em risco o destino e até a existência do grupo humano que a habita, facto que inspira a iniciativa do Papa.
Apenas por lembrança, recorde-se que um sínodo é uma assembleia de bispos chamados para refletir sobre um tema que o Papa considera importante, e exigente, para a missão da Igreja. Neste caso são chamados bispos dos Estados que partilham a soberania da Amazónia, situação que não se confunde com o facto de toda a região ser do interesse comum do planeta.
Além de este facto não poder ser omitido pelas responsabilidades da Igreja, é de salientar que está em causa o modo de vida e a preservação da própria vida do grupo humano que secularmente ocupa a região, e talvez o Papa Francisco, pelo estudo e pela experiência de vida, seja um dos prelados, vindos do continente americano, que melhor conhece o que se passou com os chamados "bons selvagens", de norte a sul.
Acontece que a estrutura política e social do reconhecido "mundo único" da ONU e as condições deste planeta mudaram tão radicalmente, sobretudo por atividades humanas, que afetaram o modelo praticado na relação terra-vida, e que a exigência de uma nova invenção da governança, agora mundial, tem relógio. Não é apenas o conceito de soberania, que está afetado pelo reconhecimento de que nenhum Estado pode dispensar substituir a ação individual pela cooperação, o que a ONU prega mas nem todos os responsáveis reconhecem; as instâncias científicas, culturais, e religiosas são chamadas a encarar a mudança e a procurar respostas, o que implica um estudo apurado para reformular a intervenção que esteja de acordo com os valores sustentados.
É por isso evidente, em nome do que pode chamar-se "justiça natural", que não pode concordar-se que a Amazónia esteja submetida ao que foi qualificado de "luta incerta contra os fogos" em nome de qualquer das várias soberanias que a partilham e que já felizmente tendem para a cooperação urgente, aceitando a legitimidade do interesse do "mundo único".
É na busca de respostas a dar pela natureza institucional da Igreja que o Papa Francisco, que "foram buscar ao fim do mundo", procura informação e inspiração para responder às exigências de intervenção neste mundo novo. A dificuldade em manter a autenticidade dos princípios afetados por decisões que ignoram os direitos da vida é tão grave que, neste caso, já implicou, para defesa contra os perigos ambientais, que a criança chamada Greta Thunberg agite a juventude de todas as latitudes para exigirem herdar um futuro.
Tudo exige que a convocação do sínodo seja avaliada com critérios de busca do conhecimento da situação dos vivos, para organizar as respostas - que não virão do sínodo mas sim de quem o convocou. As resoluções que sejam sugeridas serão por ele avaliadas, sendo sua a responsabilidade de publicar, sob forma de exortação apostólica, as conclusões a que chegue.
O cardeal brasileiro, do país onde o princípio da soberania é o mais relevante para os governantes e que é apontado como sendo o relator geral, explicou claramente que o questionário a responder corresponde a exigências da Igreja na Amazónia em busca de orientação, cabendo ao Papa a palavra decisória.
Entretanto, não deixaram, com fé, de plantar uma árvore nos jardins do Vaticano, com a presença de nativos da Amazónia festejando São Francisco de Assis, patrono dos ecologistas. Os factos averiguados pelo sínodo não vão dispensar inspiração para a resposta possível que a igreja da Amazónia necessita e os nativos imploram. Tenho insistido que ajudará a compreender a oportunidade da convocatória reler a petição dos iroqueses ao presidente dos EUA, depois de os ocidentais terem ocupado o seu território e praticamente eliminado os seus seculares ocupantes.
O pequeno grupo sobrante foi lembrar o processo de agressão de que a sua nação foi vítima e perguntar: "Estamos aqui os últimos da nossa raça: vimos perguntar se também temos de morrer." A "justiça natural" espera que a pergunta não seja repetida.