32 hotéis vão abrir em Lisboa em 2021 e o AL é o problema?

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O turismo em Lisboa é o que mais dificuldades está a ter em arrancar. Os dados do INE apontam para uma quebra nos proveitos do alojamento turístico em junho que ultrapassa os 74%, face ao pré-pandemia, bem acima da média de todas as regiões portuguesas, que foi de 54%. Estranha-se, neste contexto, que o presidente da câmara da capital, histórico defensor do potencial turístico da região que lidera - e dos correspondentes resultados financeiros, capazes de financiar novas ciclovias e a substituição de árvores seculares por outras mais modernas e bonitinhas -, venha agora assumir posição tão radical. Diz o autarca Fernando Medina, que manda em Lisboa desde que António Costa saiu para o governo (em 2015), que a primeira coisa que fará se for reeleito é travar a fundo no Alojamento Local. Essa praga que tem invadido Lisboa é para acabar, porque está a retirar camas ao arrendamento tradicional, explica na entrevista que pode ler aqui, e na qual revela também os seus planos para aumentar a habitação em Lisboa.

Não diz o autarca que Lisboa já se lhe antecipou: pela primeira vez no ano passado houve redução de camas em Alojamento Local na cidade, uma quebra brutal, de 78%. Ou seja, praticamente ninguém abriu AL em 2020. E considerando a pandemia, os números de 2021 não deverão andar longe desses, em que 600 unidades cancelaram atividade e as aberturas foram menos do que as registadas na estreia do AL.

Mas é claro que Medina não se virou contra o turismo. A hotelaria tradicional, aliás, não lhe desperta reservas. Daí que esteja prevista, só para este ano, a abertura de 32 novos hotéis em Lisboa. Inaugurações que vão juntar, conforme indicam os números da Associação Turismo de Lisboa (ATL), a que Fernando Medina preside (inerência do cargo na autarquia), mais de 2 mil quartos (pelo menos o dobro em camas) aos cerca de 300 hotéis que já funcionam na capital. Neste ano, portanto, a oferta em Lisboa terá um aumento que ronda os 10%.

Voltando aos que aqui vivem - ou queremos que venham viver -, são a maior preocupação de Medina desde que está ao leme da autarquia e o seu objetivo é equiparar-se a João Soares na oferta de habitação, depois de quase duas décadas de afastamento das famílias da cidade. Em que se incluem oito anos de governação autárquica de Costa e seis do próprio Medina, mas adiante.

Consciente do problema, desde 2015 que o autarca e agora recandidato a Lisboa lançou mão de sucessivos projetos para dinamizar o mercado, baixar os preços - que o próprio lembrava, em 2018, terem subido 50% entre 2012 e 2017 e trazer os jovens de volta à cidade. Infelizmente, entre o "inovador programa de Renda Acessível", putativos acordos com privados, outros com a Segurança Social e a Santa Casa da Misericórdia visando a reconversão de prédios em habitação com rendas acessíveis ou controladas e mais os prometidos fogos municipais, em seis anos de presidente de câmara, Medina só conseguiu materializar 3 mil casas, metade do que propusera para o corrente mandato.

Mas agora é que vai ser. Quando os privados, impedidos de fazer rendimento com o AL, repuserem os seus apartamentos no mercado de arrendamento. Só temos de rezar para que o passado não seja exemplo, porque nestes dois anos sem turistas só 10% dos que desistiram do alojamento local se resignaram ao mercado tradicional.

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