O fim da civilização dos tupperwares
Foi a Segunda Guerra Mundial que deu um grande empurrão ao uso do plástico. Apesar de materiais como o nylon ou o acrílico terem sido inventados uns anos antes, foi a sua utilização nos paraquedas e nos cockpits dos aviões que promoveu a produção em massa. E não admira que na América pós-1945 a ambição das famílias fosse ter a casa cheia de tupperwares, com a proliferação dos recipientes mundo fora a acontecer em paralelo com a das embalagens.
Na época, pouca gente terá pensado no destino final de tanto plástico, que tarda séculos a desaparecer na natureza, talvez mais. Numa entrevista há dias ao DN, Peter Thomson, enviado especial do secretário-geral das Nações Unidas para o Oceano, alertava que ou mudamos o nosso comportamento ou em 2040 haverá nos mares o equivalente a 50 quilos de plástico por cada metro de linha de costa. Assustador, mas mesmo assim não tanto como a previsão do próprio António Guterres de que em 2050 haverá mais plástico do que peixe no mar.
Portugal, seja pela linha de costa seja pelo elevadíssimo nível de consumo de peixe, tem, por razões egoístas, de estar na primeira linha dos países preocupados. E na entrevista que hoje dá ao jornal, o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, assume essa preocupação, que na realidade ultrapassa o interesse nacional, pois é mesmo uma questão de sobrevivência global, relacionada com as alterações climáticas.
Meses antes de Neil Armstrong pisar a Lua, os astronautas de outra missão Apollo fizeram um sobrevoo do satélite natural e tiraram uma fotografia da Terra em que esta surge como quase só mar, tão azul é. E na realidade, 70% da superfície do planeta está coberta por água, como mostra o instantâneo tirado em 1968 pelo americano William Anders.
Aos governos cabe decisões que imponham regras às grandes empresas e por extensão aos consumidores (na verdade todos nós). Mas existe uma boa parte de ação individual em toda esta luta para salvar o planeta, a começar pelos oceanos. E é aqui que a consciência pessoal entra em jogo. Se o plástico se impôs graças a uma guerra, será preciso uma guerra, ainda que de outro género, para acabar com ele. E falo do plástico tradicional, derivado do petróleo, e não do que se tenta fazer até a partir do milho. É o fim da civilização dos tupperwares.