O nascimento de um novo grupo político na Assembleia Nacional francesa, que inclui sete dissidentes do La République En Marche! (LREM) de Emmanuel Macron, custou ao partido do presidente a maioria absoluta. Quem sai a ganhar é François Bayrou, presidente do Movimento Democrático (MoDem), cujos 46 deputados se tornam essenciais para a maioria governamental. E há já quem diga que ele está de olho no cargo de Édouard Philippe: o de primeiro-ministro..Nas legislativas de 2017, o LREM elegeu sozinho 308 deputados, muito acima da maioria de 289 na Assembleia Nacional. Uma maioria que era reforçada ainda mais com os deputados do MoDem. Mas, desde essas eleições, houve inúmeras dissidências dentro do partido de Macron e a saída de sete deputados para o novo Ecologia, Democracia e Solidariedade (que tem no total 17 membros) fez com que ficasse com apenas 188 parlamentares, um abaixo da maioria absoluta..O novo grupo conta com Matthieu Orphelin, considerado próximo do ex-ministro da Ecologia Nicolas Hulot, e Cédric Villani, que já tinha desafiado Macron ao ser candidato à câmara de Paris contra o candidato do LREM. Além dos sete deputados que passam diretamente da maioria, inclui outros nove que já tinham estado nas suas fileiras e que tinham saído ou sido expulsos. Considera-se independente, dizendo não pertencer nem à maioria parlamentar nem à oposição. Inicialmente falava-se que podia chegar a meia centena de deputados, mas o LREM terá pressionado alguns dissidentes para que não saíssem..Com estas dissidências, um revés numa altura em que Macron pede união, o presidente fica ainda mais dependente dos 46 deputados do MoDem de Bayrou para poder passar as suas leis, o que poderá levar este a fazê-lo pagar caro esse apoio. O MoDem tem atualmente três membros no governo. Macron conta ainda com o apoio do movimento Agir, de centro-direita, que tem nove deputados e, desde outubro de 2018, um ministro, o da Cultura, Franck Riester..Para Matignon, nada muda. "A maioria sempre foi composta pelo LREM e pelo MoDem, não há nada de novo", disse um próximo do primeiro-ministro ao Le Monde. Mas, do lado do MoDem, as coisas são agora diferentes, depois de terem sido durante meses ignorados. "Nós somos a chave desta maioria, um pilar central", disse um próximo de Bayrou ao mesmo jornal, com outro a dizer contudo que o partido não iria reclamar mais cargos no governo..Quem é Bayrou?.Ex-ministro da Educação de 1993 a 1997, Bayrou, de 68 anos, foi candidato presidencial em 2002, 2007 e 2012 (esta última já como líder do MoDem, que criou em dezembro de 2007, deixando a União pela Democracia Francesa da qual também fora dirigente)..Nas presidenciais de 2017, Bayrou apoiou Macron, que o nomeou depois ministro de Estado e da Justiça. Mas um escândalo de alegados empregos fictícios no Parlamento Europeu (ele foi eurodeputado de 1999 a 2002), onde o partido recebia dinheiro por funcionários que não desempenhavam qualquer função, levou-o a demitir-se ainda antes das legislativas desse mesmo ano. Foi ministro da Justiça durante pouco mais de um mês..Com ele saiu também outra das alegadamente envolvidas no escândalo, Marielle de Sarnez, que tinha a pasta dos Assuntos Europeus. O partido não saiu do governo, com a entrada de Jacqueline Gourault, que começou por ser secretária de Estado no Ministério do Interior e agora é ministra da Coesão Territorial, e Geneviève Darrieussecq, secretária de Estado no Ministério das Forças Armadas. Desde outubro de 2018, têm um terceiro membro do governo, Marc Fesneau, ministro responsável pelas Relações com o Parlamento..Mas Bayrou, que é presidente da câmara de Pau (tenta a reeleição na segunda volta de 28 de junho), nunca deixou de ser uma voz importante para Macron. E, em plena crise sanitária, tem surgido em público a defender as posições do presidente, indo por vezes contra o defendido pelo governo de Édouard Philippe..No Barómetro Político BVA/Orange/RTL conhecido no dia 20, Philippe continuava em alta, com mais cinco pontos de popularidade num só mês, subindo para os 46%. Já Macron caiu um ponto, para os 37%. Quando questionados no mesmo barómetro sobre se várias personalidades políticas deviam ou não ter maior influência na vida política francesa, Bayrout conseguia o voto positivo de 19% (menos um ponto) dos inquiridos, numa lista liderada por o ex-ministro Hulot (com 37%)..Édouard Philippe a prazo?.Os rumores de que Macron, de 42 anos, prepara uma remodelação governamental não são de agora em França, com o primeiro-ministro a surgir sempre entre as primeiras cabeças a rolar. Édouard Philippe, de 49 anos, que liderou a luta contra o covid-19 e continua a subir nas sondagens ao contrário do presidente, estará assim a prazo..Segundo o jornal Le Point, a mudança poderá ocorrer na primeira quinzena de julho, com Macron a querer ter o substituto ao seu lado na tribuna da comemoração do Dia da Bastilha (14 de julho) e antes de um grande discurso no Congresso. Já há vários nomes na ribalta para substituir Philippe. O de Bayrou é mais um a ser adicionado a essa lista..Além do líder do MoDem, que poderá em troca do seu apoio na Assembleia Nacional exigir o cargo no Matignon ou mais pastas para o seu partido, fala-se de Bruno Le Maire. O atual ministro da Economia e das Finanças já tinha sido secretário de Estado dos Assuntos Europeus e ministro da Agricultura e Pescas de Nicolas Sarkozy, que Macron já terá até contactado..Mas, no rescaldo do coronavírus quando a aposta deve ser no social, um primeiro-ministro de direita não parece a melhor solução, falando-se também no chefe da diplomacia, o ex-socialista Jean-Yves Le Drian, que foi ministro da Defesa de François Hollande. Questionado diretamente sobre a possibilidade de liderar o Matignon, Le Drian respondeu apenas: "O tempo não é para especulações". Quando a jornalista da LCI insistiu, acrescentou, sempre sem negar: "Há muitas coisas a fazer, há uma luta a ser travada contra o vírus e o combate do desconfinamento. Todas as outras considerações, a meu ver, são indesejáveis.".Numa lista maioritariamente masculina, há pelo menos um nome feminino: o de Nathalie Kosciusko-Morizet, que foi candidata à câmara de Paris em 2014, depois de ter sido porta-voz da campanha de Nicolas Sarkozy em 2012. Aparentemente retirada da vida política (mudou-se para Nova Iorque em 2017), poderia regressar, segundo o Le Point: "O seu perfil moderno e ecológico, cola-se com o "mundo do amanhã" que o presidente quer esboçar."
O nascimento de um novo grupo político na Assembleia Nacional francesa, que inclui sete dissidentes do La République En Marche! (LREM) de Emmanuel Macron, custou ao partido do presidente a maioria absoluta. Quem sai a ganhar é François Bayrou, presidente do Movimento Democrático (MoDem), cujos 46 deputados se tornam essenciais para a maioria governamental. E há já quem diga que ele está de olho no cargo de Édouard Philippe: o de primeiro-ministro..Nas legislativas de 2017, o LREM elegeu sozinho 308 deputados, muito acima da maioria de 289 na Assembleia Nacional. Uma maioria que era reforçada ainda mais com os deputados do MoDem. Mas, desde essas eleições, houve inúmeras dissidências dentro do partido de Macron e a saída de sete deputados para o novo Ecologia, Democracia e Solidariedade (que tem no total 17 membros) fez com que ficasse com apenas 188 parlamentares, um abaixo da maioria absoluta..O novo grupo conta com Matthieu Orphelin, considerado próximo do ex-ministro da Ecologia Nicolas Hulot, e Cédric Villani, que já tinha desafiado Macron ao ser candidato à câmara de Paris contra o candidato do LREM. Além dos sete deputados que passam diretamente da maioria, inclui outros nove que já tinham estado nas suas fileiras e que tinham saído ou sido expulsos. Considera-se independente, dizendo não pertencer nem à maioria parlamentar nem à oposição. Inicialmente falava-se que podia chegar a meia centena de deputados, mas o LREM terá pressionado alguns dissidentes para que não saíssem..Com estas dissidências, um revés numa altura em que Macron pede união, o presidente fica ainda mais dependente dos 46 deputados do MoDem de Bayrou para poder passar as suas leis, o que poderá levar este a fazê-lo pagar caro esse apoio. O MoDem tem atualmente três membros no governo. Macron conta ainda com o apoio do movimento Agir, de centro-direita, que tem nove deputados e, desde outubro de 2018, um ministro, o da Cultura, Franck Riester..Para Matignon, nada muda. "A maioria sempre foi composta pelo LREM e pelo MoDem, não há nada de novo", disse um próximo do primeiro-ministro ao Le Monde. Mas, do lado do MoDem, as coisas são agora diferentes, depois de terem sido durante meses ignorados. "Nós somos a chave desta maioria, um pilar central", disse um próximo de Bayrou ao mesmo jornal, com outro a dizer contudo que o partido não iria reclamar mais cargos no governo..Quem é Bayrou?.Ex-ministro da Educação de 1993 a 1997, Bayrou, de 68 anos, foi candidato presidencial em 2002, 2007 e 2012 (esta última já como líder do MoDem, que criou em dezembro de 2007, deixando a União pela Democracia Francesa da qual também fora dirigente)..Nas presidenciais de 2017, Bayrou apoiou Macron, que o nomeou depois ministro de Estado e da Justiça. Mas um escândalo de alegados empregos fictícios no Parlamento Europeu (ele foi eurodeputado de 1999 a 2002), onde o partido recebia dinheiro por funcionários que não desempenhavam qualquer função, levou-o a demitir-se ainda antes das legislativas desse mesmo ano. Foi ministro da Justiça durante pouco mais de um mês..Com ele saiu também outra das alegadamente envolvidas no escândalo, Marielle de Sarnez, que tinha a pasta dos Assuntos Europeus. O partido não saiu do governo, com a entrada de Jacqueline Gourault, que começou por ser secretária de Estado no Ministério do Interior e agora é ministra da Coesão Territorial, e Geneviève Darrieussecq, secretária de Estado no Ministério das Forças Armadas. Desde outubro de 2018, têm um terceiro membro do governo, Marc Fesneau, ministro responsável pelas Relações com o Parlamento..Mas Bayrou, que é presidente da câmara de Pau (tenta a reeleição na segunda volta de 28 de junho), nunca deixou de ser uma voz importante para Macron. E, em plena crise sanitária, tem surgido em público a defender as posições do presidente, indo por vezes contra o defendido pelo governo de Édouard Philippe..No Barómetro Político BVA/Orange/RTL conhecido no dia 20, Philippe continuava em alta, com mais cinco pontos de popularidade num só mês, subindo para os 46%. Já Macron caiu um ponto, para os 37%. Quando questionados no mesmo barómetro sobre se várias personalidades políticas deviam ou não ter maior influência na vida política francesa, Bayrout conseguia o voto positivo de 19% (menos um ponto) dos inquiridos, numa lista liderada por o ex-ministro Hulot (com 37%)..Édouard Philippe a prazo?.Os rumores de que Macron, de 42 anos, prepara uma remodelação governamental não são de agora em França, com o primeiro-ministro a surgir sempre entre as primeiras cabeças a rolar. Édouard Philippe, de 49 anos, que liderou a luta contra o covid-19 e continua a subir nas sondagens ao contrário do presidente, estará assim a prazo..Segundo o jornal Le Point, a mudança poderá ocorrer na primeira quinzena de julho, com Macron a querer ter o substituto ao seu lado na tribuna da comemoração do Dia da Bastilha (14 de julho) e antes de um grande discurso no Congresso. Já há vários nomes na ribalta para substituir Philippe. O de Bayrou é mais um a ser adicionado a essa lista..Além do líder do MoDem, que poderá em troca do seu apoio na Assembleia Nacional exigir o cargo no Matignon ou mais pastas para o seu partido, fala-se de Bruno Le Maire. O atual ministro da Economia e das Finanças já tinha sido secretário de Estado dos Assuntos Europeus e ministro da Agricultura e Pescas de Nicolas Sarkozy, que Macron já terá até contactado..Mas, no rescaldo do coronavírus quando a aposta deve ser no social, um primeiro-ministro de direita não parece a melhor solução, falando-se também no chefe da diplomacia, o ex-socialista Jean-Yves Le Drian, que foi ministro da Defesa de François Hollande. Questionado diretamente sobre a possibilidade de liderar o Matignon, Le Drian respondeu apenas: "O tempo não é para especulações". Quando a jornalista da LCI insistiu, acrescentou, sempre sem negar: "Há muitas coisas a fazer, há uma luta a ser travada contra o vírus e o combate do desconfinamento. Todas as outras considerações, a meu ver, são indesejáveis.".Numa lista maioritariamente masculina, há pelo menos um nome feminino: o de Nathalie Kosciusko-Morizet, que foi candidata à câmara de Paris em 2014, depois de ter sido porta-voz da campanha de Nicolas Sarkozy em 2012. Aparentemente retirada da vida política (mudou-se para Nova Iorque em 2017), poderia regressar, segundo o Le Point: "O seu perfil moderno e ecológico, cola-se com o "mundo do amanhã" que o presidente quer esboçar."