O mundo a desconfinar (ou nem tanto), com medo de segunda vaga

Pressionados por novos surtos, vários países já voltaram a apertar as medidas de restrição para combater o contágio de covid-19. Europa desconfina a diferentes ritmos, sob o receio comum de uma nova vaga de propagação do vírus.

Com grande parte dos países da Europa já em fase de desconfinamento, adensam-se os receios de uma segunda vaga de propagação de covid-19. De Portugal à Alemanha, passando por Espanha, já são vários os exemplos de agravamento das medidas de contenção para fazer face a surtos localizados e impedir que se propaguem. E não é só na Europa: países tidos como exemplares no combate à pandemia, como a Coreia do Sul ou a Nova Zelândia, também já voltaram a apertar medidas para evitar os contágios. Eis o retrato de alguns países.

Espanha

Em Espanha, a vice-presidente do Governo já admitiu que o país pode voltar ao estado de emergência, que deixou de vigorar apenas no último sábado: "Voltaremos a ser responsáveis e contundentes. Perante uma situação grave, o Governo pode decretar o estado de emergência numa parte do território ou na sua totalidade", afirmou Carmen Calvo em entrevista ao canal televisivo Antena 3, embora dizendo esperar que as medidas atuais de contenção sanitária se revelem suficientes.

Espanha conta, atualmente, 36 surtos de covid-19, 12 dos quais estão considerados como controlados. Na última segunda-feira três concelhos da província de Huesca (comunidade de Aragão, já junto aos Pirenéus) - La Litera, Cinca Medio e Bajo Cinca - voltaram à "fase dois" do desconfinamento, depois de ter sido detetado um surto de covid-19 no meio agrícola, voltando a vigorar restrições como o encerramento dos bares ou a limitação a 50% da capacidade hoteleira. As autoridades já admitiram que há "transmissão comunitária" ne região. O surto afeta sobretudo trabalhadores de explorações agrícolas de produção de fruta, mas também já foram identificados casos de posterior transmissão familiar.

Espanha registou duas mortes e 196 novos casos de infeção pelo novo coronavírus nas últimas 24 horas.

Alemanha

A Alemanha registou 587 novos casos de covid-19 nas últimas 24 horas. O ministro da Saúde, Jehns Spahn, veio apelar esta manhã à prudência nesta fase da epidemia: "Se facilitarmos a vida ao vírus ele propaga-se muito, muito rapidamente. Vemos isso em Gutersloh, em Gotinga, Leer, Bremen, em igrejas e em celebrações familiares".

Em Gutersloh, um dos exemplos apontados pelo governante, há um surto na empresa de processamento de carnes Tönnies, a maior do país, que já regista 1553 infetados. O Governo da Renânia do Norte-Vestefália - o segundo maior estado da Alemanha - decretou na terça-feira o confinamento obrigatório no município, que ficará em vigor pelo menos até 30 de junho. Os jardins-de-infância e as escolas fecharam, os bares e cinemas também, e os habitantes devem limitar os contactos às pessoas de casa ou, no máximo, a uma pessoa de fora.

Mas este não é caso único. Uma outra fábrica de tratamento de carnes em Wildeshausen, na Baixa Saxónia, revelou-se agora o foco de um novo surto, que já infetou 23 pessoas.

A Alemanha tem vindo a registar um aumento gradual e significativo da taxa de infeção (RO) - número médio de pessoas que cada infetado contamina -, que está agora já próximo dos três (2,76).

Reino Unido

O Reino Unido está agora na fase de levantamento das medidas de confinamento. Boris Johnson anunciou terça-feira a reabertura de restaurantes e pubs a 4 de julho, avançando também que o distanciamento social recomendado passa a ser de um metro (em vez dos dois metros recomendados até agora). Um grupo de especialistas em saúde pública veio entretanto alertar para o "risco real" de uma segunda vaga de contágios. "Embora seja difícil prever a evolução da pandemia, há evidências da probabilidade de novos surtos e de que uma segunda vaga é um risco real", é referido numa carta aberta divulgada esta quarta-feira. Piscinas, ginásios e outros equipamentos de lazer mantêm-se encerrados, mas o Governo já veio dizer que poderão reabrir ainda durante o mês de julho caso a situação epidemiológica não sofra agravamentos e o RO se mantenha abaixo de 1.

Nova Zelândia

Ao fim de 25 dias sem registo de contágios a Nova Zelândia voltou a somar dois novos casos na passada semana - duas mulheres provenientes do Reino Unido, que foram dispensadas de cumprir os 14 dias obrigatórios de quarentena e não foram testadas duas vezes, como impõe a lei. Uma "falha inaceitável", considerou a primeira-ministra neozelandesa, Jacinta Arden, que na sequência deste episódio entregou a vigilância das fronteiras ao exército, repôs a obrigatoriedade de uma quarentena de 14 dias a quem chega ao país e a impossibilidade de deixar o isolamento sem um teste negativo. Os dois casos na Nova Zelândia surgiram cerca de uma semana depois de o país ter levantado todas as restrições para evitar a disseminação do SARS-CoV-2, nomeadamente a proibição de ajuntamentos.

China

Um surto no maior mercado de abastecimento da cidade fez soar todos os alarmes em Pequim, levando as autoridades chinesas a repor rapidamente medidas de confinamento nas áreas mais afetadas da capital chinesa. Mais de duas dezenas de bairros da cidade foram colocados em isolamento, as escolas voltaram a fechar nos locais onde foram identificados novos casos. Esta terça-feira, com 245 casos identificados (132 deles na segunda-feira), o surto foi dado como controlado. Pelo caminho foram testadas 2,3 milhões de pessoas, mais de 10% dos habitantes da cidade.

"O surto pode ser controlado porque foi detetado muito cedo e porque as medidas de controlo tiveram um resultado positivo, de modo que a disseminação dentro das comunidades foi efetivamente controlada", afirmou o vice-diretor do Centro Chinês de Controlo e Prevenção de Doenças, Feng Zijian, citado pela imprensa local.

Coreia do Sul

A Coreia do Sul, apontada como um modelo de combate à disseminação da covid-19, está agora a braços com uma segunda onda de infeções na capital, que chegou a somar três dias consecutivos sem registo de novos casos. As autoridades já admitiram que um fim de semana prolongado, no início de maio, marcou o início de um novo surto de infeções na área de Seul, que se terá ficado a dever sobretudo a festas e ajuntamentos em bares da população mais jovem. Na última segunda-feira foram revelados 17 novos casos de contágio.

O primeiro-ministro, Moon Jae-in, admite que as medidas de confinamento podem regressar caso o número de novos casos diários não diminua rapidamente.

Japão

O Japão atingiu esta quarta-feira o número mais alto de novos casos - 55 - do último mês e meio. "55 casos diários é impactante", afirmou o governador, Yuriko Koike, revelando que o número se deve a um surto em escritórios da cidade. Com 14 milhões de habitantes, Tóquio tem mantido uma média diária de novos casos abaixo das duas dezenas desde que, a 25 de maio, foi levantado o estado de emergência.

Israel

Benjamin Netanyahu ameaçou, este fim de semana, com um regresso ao confinamento, caso os números de contágio não baixem. "Se não mudarmos imediatamente o nosso comportamento, usando máscara e mantendo a distância, vamos ter, contra a nossa vontade [do Governo] um retorno ao confinamento", afirmou o primeiro-ministro israelita, sublinhando: "Ninguém quer isso". Israel tem registado uma média diária de novos casos acima dos 300.

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