Política
23 junho 2021 às 23h19

Desconfinamento "congelado" no fim do mês. Lisboa vai recuar dois meses

Governo analisa desconfinamento. Restaurantes em Lisboa voltam a ter de fechar depois de almoço aos fins de semana. Cerco da Área Metropolitana da capital renovado.

João Pedro Henriques

O Governo deverá esta quinta-feira confirmar a decisão de fazer o desconfinamento retroceder no concelho de Lisboa, devido à elevada incidência pandémica, que aliás, aparentemente, ainda continua em fase de crescimento. O anúncio dos termos concretos da decisão ocorrerá depois de mais uma reunião do Conselho de Ministros.

Lisboa vai recuar para os níveis de confinamento que vigoraram a partir de 19 de abril (e até 3 de maio). Deverão ser adotadas as regras que atualmente vigoram apenas num concelho: Sesimbra. O setor mais atingido será, como habitualmente, o da restauração. Atualmente os restaurantes, em Lisboa, podem estar abertos, todos os dias da semana, até às 22.30. Doravante, esse horário estará limitado aos dias úteis; aos fins de semana, os restaurantes só poderão fechar até às 15h30.

As restantes regras serão: casamentos e batizados com 25 % da lotação (atualmente é 50%); comércio a retalho alimentar aberto até às 21.00 durante a semana e até às 19.00 ao fim de semana e feriados; comércio a retalho não alimentar até às 21.00 durante a semana e até às 15.30 ao fim de semana e feriados; fim da presença do público em atividades desportivas; lojas do cidadão só com atendimento presencial por marcação. O teletrabalho continuará - como já é - obrigatório.

Ontem o presidente da câmara de Lisboa, Fernando Medina, admitiu que "o cenário mais provável" é o concelho recuar nas medidas de desconfinamento. "O Governo vai avaliar a situação amanhã [hoje, quinta-feira], se aplicar o critério que tem seguido e verificando-se aquilo que tem sido a evolução dos indicadores, vai ser esse o cenário mais provável", afirmou o autarca, falando com jornalistas numa visita ao novo centro de vacinação no pavilhão 3 do Estádio Universitário de Lisboa.

Segundo Medina, se for aplicado o atual quadro da matriz de risco, a decisão na capital "vai ter algumas implicações relativamente a horários de funcionamento, a mais relevante é a restrição do horário da restauração às 15.30 de sábado e o não funcionamento durante o resto do fim de semana".

A ministra da Saúde admitiu a mesma coisa, em declarações aos jornalistas à margem da apresentação do Relatório de Primavera do Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS).

"Os números neste momento levam a sugerir que a situação de Lisboa ainda não esteja ultrapassada", o que leva a que "as medidas específicas tenham de se manter, como se mantiveram em outros pontos do país quando estavam em situação de risco especial" na evolução epidemiológica, disse Marta Temido.

"Temos de estar conscientes de que estamos a lidar com um fenómeno cuja evolução ainda se reveste de muitas incertezas. Não é possível garantir que o futuro seja desta ou daquela maneira, o que podemos garantir é que tudo faremos para que isso não seja necessário, mas conhecemos a nossa realidade. Os números continuam a aumentar, ainda não estamos num momento em que estejamos a vê-los decrescer e, portanto, temos de estar atentos", prosseguiu.

O Conselho de Ministros deverá também renovar, pela primeira vez, o cerco da Área Metropolitana de Lisboa (AML) instaurado pela primeira vez no fim de semana passado. Os números pandémicos não permitem proceder doutro modo.

Assim, voltará a ser proibido sair ou entrar na AML das 15.30 de amanhã (sexta-feira, 25 de junho) até às 6.00 da manhã de segunda-feira 28 de junho. Será no entanto permitido circular dentro da região em causa. A AML inclui, na margem norte do Tejo, os concelhos de Lisboa, Amadora, Loures, Odivelas, Oeiras, Cascais, Sintra e Vila Franca de Xira. E, na margem sul, os de Almada, Barreiro, Moita, Montijo, Palmela, Seixal, Setúbal, Sesimbra e Alcochete.

Outra decisão do Conselho de Ministros deverá ser a de, nacionalmente - ou eventualmente com variações regionais - fazer congelar o processo de desconfinamento, não permitindo que avance para a fase pós 28 de junho. Essa fase previa horários pré pandemia para todo o comércio (começando pela restauração). E o regresso do público aos espetáculos desportivos profissionais, bem como a normalização das lotações máximas nos transportes públicos (mais uma vez para os valores pré pandémicos). A ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, disse na semana passada que esse deveria ser o rumo - e não há nenhuma indicação de que esteja a preparar-se nova inversão, avançando o desconfinamento como previsto.

Na terça-feira, a chanceler alemã Ângela Merkel, criticou a UE por ter sido impossível adotar "um comportamento uniforme entre os Estados-membros em termos de restrições de viagem" e, nesse contexto, criticou Portugal por ter recebido turistas britânicos sem restrições - ao contrário do que fez o seu país e a França, por exemplo. "Temos agora uma situação em Portugal, que talvez pudesse ter sido evitada", afirmou.

Ontem o Presidente da República comentou estas palavras - que irritaram o Governo português - falando na "gratidão" que lhe é devida "por aquilo que fez pela Europa". E acrescentou: "O que disse a chancelerina Ângela Merkel corresponde a um problema europeu, isto é, na Europa cada país decidiu unilateralmente".

joao.p.henriques@dn.pt