Sociedade
22 abril 2021 às 22h59

"Se seguirmos o plano de vacinação à risca teremos imunidade de grupo no final de junho"

De abril a junho, Portugal receberá 9 milhões de vacinas, 5,5 milhões da Pfizer. A partir de segunda-feira vão chegar mais 55 mil da J&J, para serem aplicadas. Para o bastonário dos médicos, se não houver falhas será um sucesso.

A Ordem dos Médicos foi das organizações mais ativas nas críticas ao Plano de Vacinação contra a Covid-19, desde que este foi conhecido no início de dezembro. Mas agora, e após a última alteração feita pela Direção-Geral da Saúde (DGS) aos critérios da segunda fase, que assentam na idade por ordem decrescente, e em algumas patologias de risco, o bastonário Miguel Guimarães diz: "Sinto-me satisfeito. Se cumprirmos o plano à risca e se não houver falhas nas vacinas, acredito que no final de junho atingiremos a imunidade de grupo. O que será um sucesso."

O único senão neste momento, segundo o médico, é o facto de as pessoas que recuperaram da doença, apesar de terem sido incluídas agora nesta fase, irem ser vacinadas só em maio. "O momento certo é agora, porque temos idosos e profissionais de saúde que já tiveram a doença há seis meses e há um ano que precisam de ser protegidos o mais depressa possível", argumentou ao DN.

Quanto aos restantes grupos de risco por patologias que foram considerados prioritários e incluídos nesta segunda fase de vacinação, através de uma alteração da norma n.º 002/2021, à data de 21 de abril, Miguel Guimarães diz estar plenamente de acordo no que toca aos doentes transplantados, porque "são de facto doentes frágeis, imunodeprimidos, que precisam de estar protegidos com a vacina, pois correm o risco de ser infetados e de perderem o órgão que receberam". Em relação a outros grupos, como diabéticos ou doentes psiquiátricos, o bastonário sustenta não encontrar fundamentação para serem incluídos como grupos prioritários: "seriam apanhados pelas idades".

Mas o mais importante, sublinha ainda o médico, que desde o início defendeu a idade como critério prioritário, "é que ao simplificarmos os critérios do plano de vacinação estamos a acelerar todo o processo. Quando o plano era mais complexo, nos critérios por doenças, estava mais exposto a falhas. Agora, temos critérios simples, locais de vacinação preparados, capacidade para vacinar e logística. O que me leva a dizer que está a ser feito um bom trabalho", reforçando, mais uma vez, a ideia de que "se não houver interrupções, em junho teremos imunidade de grupo".

A meta definida pela task force é que o objetivo da imunidade de grupo seja atingido no final do verão, quando 70% da população esteja vacinada, mas, o coordenador, vice-almirante Gouveia e Melo, também já sublinhou que, "se chegarem mais vacinas o objetivo será atingido antes".

Neste momento, a task force para o plano de vacinação tem previsto a chegada de 9 milhões de doses de vacinas durante o segundo trimestre, mais 200 mil do que o previsto em março (8,8 milhões de doses), e referido pela ministra da Saúde. Só da Pfizer, das quais eram aguardadas 4 milhões de doses, agora são esperadas 5,5 milhões doses, da Moderna 795 mil, da AstraZeneca 1,6 milhões e da Johnson & Johnson 1,2 milhões - destas, chegaram 31 200 doses no dia 14 de abril, e, a partir de segunda-feira, deverão chegar mais 55 200, segundo dados da task force.

Aliás, na próxima semana, será a primeira vez que a vacina da J&J vai começar a ser administrada em Portugal, já que esteve suspensa até a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) se pronunciar sobre os efeitos adversos graves (formação de coágulos) registados nos Estados Unidos da América, em oito mulheres jovens, numa população de mais 7 de milhões de vacinados.

Na terça-feira, a EMA confirmou haver "possível" relação entre a toma da vacina e a formação de coágulos, pedindo aos países que definissem recomendações. Portugal, segundo apurou o DN, tem especialistas que defendem que deveria ser seguida a mesma prática que foi adotada com a vacina da AstraZeneca, que teve os mesmos efeitos, e agora é usada em maiores de 60 anos, mas há outros especialistas que defendem a não restrição, já que são precisas vacinas para proteger populações mais jovens. Mas a Comissão Técnica de Vacinação para a Covid-19 (CTVC) ainda não tomou uma posição oficial.

O bastonário defende o seu uso sem restrições e diz ser esta a opinião do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos. "Somos da opinião que a vacina da J&J não deve ser usada com restrições de idade. Os casos de efeitos adversos foram detetados em mulheres jovens, oito em mais de sete milhões é uma percentagem muito reduzida. Mas se for adotado um limite de idade não deve ser o dos 60 anos, devemos descer para os 30 ou 40 anos", argumentou.

A questão é que são precisas vacinas para proteger a população mais jovem, já que até final de maio a task force espera ter os maiores de 60 anos todos vacinados. "A vacina da J&J é muito importante", refere o médico. Na verdade, é a única aprovada até agora de dose única, o que quer dizer que se fosse usada sem restrições até final de junho 1,2 milhões de portugueses ficariam protegidos.

Miguel Guimarães recorda o caso da AstraZeneca para afirmar que a Europa não pode voltar a agir da mesma forma. "Cada país fez o que queria e é fundamental que na vacinação a Europa esteja unida", até para se evitar a perda de confiança das populações neste processo, que é a arma mais poderosa contra o vírus SARS-CoV-2. Neste sentido, a Ordem dos Médicos está a preparar uma campanha de sensibilização à população sobre a vacinação. O objetivo é alertar para a importância destas na luta contra as doenças.

Recorde-se que a meta definida pela União Europeia é a de atingir também a imunidade de grupo até ao fim do verão com 70% da vacinada. Até agora, Portugal tem já 7% da população com vacinação completa (689 329 de pessoas) e 20% com a primeira ​​​​​​​dose (2 015 225 de pessoas).