Madeira vai a votos. Eleições regionais com leitura nacional

257,7 mil eleitores madeirenses estão convocados para decidir a formação do Parlamento regional. Os resultados terão exploração para as legislativas nacionais.
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Uma coisa é certa: sejam quais forem os resultados das eleições regionais madeirenses deste domingo, alguém em Lisboa irá explorar o resultado a seu favor - e alguém irá também desvalorizar. Embora as eleições sejam madeirenses e exclusivamente destinadas a eleger a Assembleia Legislativa Regional (ALR), o facto é que os resultados terão efeitos na campanha nacional para as legislativas de 6 de outubro. O período oficial da campanha nacional inicia-se, aliás, no mesmo dia das eleições madeirenses: domingo, 22 de setembro. Todos os principais líderes nacionais - Costa, Rio, Cristas, Catarina Martins ou Jerónimo de Sousa - foram à Madeira em campanha.

Estão em causa os 47 lugares de deputados na ALR, eleitos em 2015, as primeiras eleições pós-Alberto João Jardim, com Miguel Albuquerque como novo líder do PSD.

Albuquerque conseguiu então, não tendo o apoio de Jardim - ou talvez até por causa disso -, segurar a maioria absoluta laranja que já vem, ininterruptamente, desde 1976. Esta é uma região autónoma onde o poder é, há 43 anos, da mesma cor.

Eleger 47 deputados

Por um deputado apenas, conquistando 24 eleitos, Miguel Albuquerque logrou manter a maioria PSD (o Parlamento regional tem ao todo 47 deputados). As eleições foram em março de 2015 - cerca de seis meses antes, portanto, das legislativas nacionais de outubro desse ano, que conduziriam o PS ao poder, apoiado na geringonça.

A segunda maior força no Parlamento é o CDS, com sete eleitos; e depois, com seis deputados regionais, uma coligação PS-PTP-PAN-MPT.

O Parlamento madeirense passou então a caracterizar-se por ficar fragmentando em sete forças: a quarta maior é o Juntos pelo Povo (JPP), com cinco deputados, seguida da CDU e do BE (dois deputados cada) e do PND (um).

Dos 256,7 mil eleitores inscritos, votaram, em março de 2015, 127,5 mil - ou seja, uma abstenção de 51%.

Para estas eleições, o PSD reconduziu Miguel Albuquerque. Já o PS, desta vez sem coligações, apostou em Paulo Cafôfo - o independente que, encabeçando coligações lideradas pelos socialistas, conquistou a Câmara Municipal do Funchal em 2013 (renovando o mandato em 2017). Cafôfo é, aliás, há muito, mais do que uma aposta do PS madeirense, é uma aposta do PS nacional: em 2013, teve todo o apoio de António José Seguro (então líder do PS) para ser o candidato do partido ao Funchal, apoio que, a partir de 2014, António Costa manteria. As estruturas regionais do PS não ficaram muito entusiasmadas, mas, em nome da possibilidade de crescimento eleitoral do partido, acabaram por aceitar Cafôfo como candidato do PS a presidente do governo regional.

O Parlamento madeirense tem eleitos por sete forças diferentes (duas coligações e cinco partidos), mas, segundo as sondagens, há a possibilidade de nas eleições deste domingo se fragmentar ainda mais, com nove formações representadas. No boletim de voto constam 15 partidos e uma coligação (a CDU). Partidos que nunca foram nacionalmente a votos - o Chega ou o RIR - irão a votos nestas eleições pela primeira vez.

A Madeira em números

Índice de envelhecimento

120,6%. De 2001 a 2018, todos os municípios envelheceram. A sociedade madeirense passou de jovem a envelhecida entre 2001 e 2018. Em apenas três dos 11 municípios - Santa Cruz, Câmara de Lobos e Porto Santo - o número de jovens é superior ao número de pessoas com 65 ou mais anos. Em Porto Moniz, Santana e São Vicente, o número de idosos já é mais do dobro do número de jovens. O Índice de envelhecimento é o número de pessoas com 65 e mais anos por cada 100 pessoas menores de 15 anos. Um valor inferior a 100 significa que há menos idosos do que jovens.

Esperança média de vida

78,2 anos. A esperança de vida à nascença, embora inferior à média nacional, melhorou cinco anos, entre 2001 e 2016. No conjunto do país todo passou de 76,7 anos para 80,8 anos, entre 2001-2016. Nesse mesmo período na Madeira passou de 73,3 anos para 78,2 anos. Ou seja: a esperança média de vida na Madeira está a aproximar-se da esperança média de vida em Portugal.

Casamentos

940. A Madeira parece ser uma região onde a Igreja Católica vai tendo cada vez menos peso nos costumes e tradições. Isso verifica-se no cada vez menor número de casamentos católicos. Eram menos de um terço em 2018. Mas há 60 anos eram quase todos (97%). Verdade se diga que o número absoluto de matrimónios também baixou bastante. Em 1960, o total de casamentos foi de 2372 e em 2018 de 940. Nos mesmos anos, os casamentos foram de 2307 para 299.

Abandono Escolar

23,2%. Apesar dos progressos registados nos últimos 20 anos em termos de escolaridade, a Madeira continua a ter uma taxa de abandono escolar precoce muito superior média nacional. Em 2016, 23,2% dos jovens madeirenses entre os 18 e os 24 anos tinha deixado de estudar sem completar o ensino secundário - um valor que ultrapassa em muito os 14% de média nacional. Em 1998, um quarto da população com mais de 15 anos (24,8%) não tinha qualquer nível de escolaridade, uma percentagem que caiu para os 7,4% em 2018. A população com ensino secundário e pós-secundário subiu dos 8,9% para os 20,2% em duas décadas, e com ensino superior aumentou dos 2,6% para os 15,9%.

Turismo

5,2dias. Em 2017, a estada média de hóspedes nos alojamentos turísticos é de cerca de cinco dias, quase o dobro da média nacional. Os municípios com maior número de dias de estada média são Câmara de Lobos, Santa Cruz e Funchal. Os alojamentos turísticos na região representam 20% do total nacional. A receita por cada hóspede é substancialmente maior na Madeira do que em Portugal (169,3 euros contra 114,3 euros).

Desemprego

9%. Embora esteja a diminuir desde 2012, a taxa de desemprego na Madeira continua a ser superior à de Portugal. Em números redondos, 9% contra 7% (final de 2018). Há mais desemprego nos homens (9%) do que nas mulheres (8%) - enquanto no país, no seu conjunto, os valores são iguais (7%). Um das características distintivas da região é que o desemprego de longa duração tem muito mais peso: 60% contra 51%.

PIB per capita

18 096euros. O produto interno bruto percapita da Madeira é quase igual ao de Portugal no seu todo, embora inferior: 18 096 euros, contra 18 894 (Portugal). Tem vindo a subir desde 2012, numa curva paralela à que ilustra o crescimento do PIB per capital nacional. O valor acrescentado bruto (VAB) das empresas não financeiras madeirenses é de cerca de 1,5 mil milhões de euros, ou seja, 1,6% do VAB do mesmo tipo de empresas a nível nacional

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