A hipótese de o programa de alojamento do ensino superior ter um impacto no número de camas para estudantes universitários ainda neste ano, como o governo previa, é cada vez mais remota, com a pouca melhoria da capacidade a passar por projetos das próprias instituições ou em parceria com as autarquias locais..Um mês depois de ter sido anunciado em Lisboa, com a presença do primeiro-ministro, um ambicioso plano para criar mais de 600 camas em Lisboa, nas antigas instalações do Ministério da Educação (ver detalhes em baixo), e meio ano após a assinatura de protocolos entre várias universidades e politécnicos e a Fundiestamo - holding estatal para a área do imobiliário -, a generalidade dos projetos aprovados no âmbito dessa parceria ainda não passaram do papel..As universidades de Coimbra e do Algarve estão entre as instituições do ensino superior que aderiram ao programa, em novembro do ano passado, mas em ambos os casos, verificou o DN junto das instituições, ainda não há obras em curso, muito menos próximas da fase de conclusão.."Em relação ao Plano Nacional de Alojamento do Ensino Superior (Fundiestamo) ainda não foram realizados os estudos de viabilidade económica do edifício sinalizado [a antiga Escola Superior de Saúde, em Faro] e que integra o Decreto-Lei n.º 30/2019", respondeu ao DN a Universidade do Algarve que, ainda assim, por via de outros projetos, prevê aumentar em 3% a capacidade de alojamento já no início do próximo ano letivo..Da Universidade de Coimbra chegou resposta semelhante: "Sendo um processo naturalmente moroso, não se prevê que haja um aumento da capacidade de alojamento nas residências da Universidade de Coimbra até ao início do próximo ano letivo, por via dos acordos com a Fundiestamo", confirmou ao DN a instituição.."Estamos a caminhar para que o processo avance muito lentamente".Fontainhas Fernandes, reitor da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douto (UTAD) e presidente do Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas, confirma esta tendência. "A questão do alojamento preocupa todos os reitores e todas as universidades mas cada instituição está a escolher a sua própria estratégia, ou em articulação com a autarquia ou outros parceiros", diz. "Mas não têm existido grandes desenvolvimentos. Muito dificilmente serão lançadas obras em 1 de setembro, como estava previsto, quanto mais haver alojamento [adicional] disponível. Estamos a caminhar para que o processo avance muito lentamente", considera..A própria UTAD tem estado em negociações com a Fundiestamo no sentido de aproveitar edifícios pertencentes às suas antigas instalações para aumentar a capacidade de alojamento. Mas Fontainhas Fernandes explica que, até agora, apesar da "total disponibilidade" da empresa pública para discutir o modelo de financiamento do projeto, ainda não foi possível encontrar uma solução viável. "O esforço financeiro que exige depois para o pagamento do montante em causa é demasiado elevado relativamente àquilo que consideramos adequado para a a instituição", conta..Isto, apesar de a necessidade de alojar mais estudantes ser real e urgente. "Temos 79% de alunos deslocados e, aspeto igualmente importante, um número muito elevado de alunos, superior a 30%, que necessitam de apoios sociais", descreve. "Neste momento temos mais de 500 camas mas justificava-se aumentar essa capacidade em pelo menos mais 200.".Governo quer mais de 11 500 novas camas até 2022.A meta de ter ainda neste ano civil um reforço das camas disponíveis para os estudantes do ensino superior poderá parecer demasiado ambiciosa. Mas foi o próprio governo que a assumiu. Nomeadamente através do ministro do Ambiente, João Matos Fernandes, na altura da assinatura dos protocolos no final do ano passado: Já a secretária de Estado do Ensino Superior, Maria Fernanda Rolo, foi mais cautelosa quando falou sobre o programa com o DN, em maio do ano passado, optando por não apontar datas concretas. Ainda assim, admitiu na altura que "já não seria mau" ter resposta assegurada, nos próximos anos, resposta para "metade" dos alunos deslocados..De acordo com o inquérito RAIDES 2016, existiam nesse ano cerca de 116 mil alunos do ensino superior deslocados, sendo que a oferta existente há um ano apenas cobria 12% das necessidades. Garantir alojamento para metade dos deslocados significaria por isso cerca de 50 mil camas. Uma meta que parece já totalmente irrealista..Recentemente, o governo divulgou um novo ponto de situação do programa de alojamento do ensino superior em que aponta para a criação de 11 526 camas adicionais, em 42 concelhos diferentes, entre este ano e 2022. Ou seja: duplicar a atual capacidade instalada. Um número que, face aos desenvolvimentos dos últimos seis meses, poderá também ter sido demasiado ousado..O projeto de referência.Um plano que seguramente poderá dar uma ajuda apreciável é a anunciada reconversão da antiga sede do Ministério da Educação, na Avenida 5 de Outubro, em Lisboa, numa residência universitária. Por si só, o edifício - de acordo com um projeto desenvolvido pelo gabinete de arquitetura Appleton e Domingos - terá capacidade para um total de 601 camas..O edifício terá 181 quartos individuais, 132 quartos duplos e 20 quartos triplos, além de 41 apartamentos, entre o T0 e o T1, com capacidade para alojar entre uma e três pessoas..Estão ainda previstos lugares de estacionamento para carros e bicicletas, cafetaria e zona de refeições, lavandaria com mesa de jogos e diferentes outras zonas comuns, como uma sala multiusos e uma copa.