A União Europeia assiste, desde 2015, à maior crise humana desde a Segunda Guerra Mundial. Há quatro anos que, diariamente, acorrem a este continente pessoas nas mais míseras condições, que fogem da guerra e de todas as suas consequências: pobreza extrema, perseguições, a impossibilidade de continuarem a viver em segurança..Todos nós, europeus e portugueses, temos sido interpelados pelos dramáticos relatos que nos têm chegado ao longo dos últimos anos, tendo a imagem de Aylan Kurdi, a criança de 3 anos encontrada morta à beira-mar, sido um dos maiores alertas para a brutalidade desta realidade..Infelizmente, nessa altura, tantos foram os passos dados na direção errada, nomeadamente, pelos governos e pela União Europeia que, por diversas vezes, tentaram ignorar a dimensão real deste drama humano e virar as costas a este grito de socorro..Mas, desde 2015 até hoje, muitos foram também os cidadãos "comuns" e, especialmente, os jovens que, com a total consciência de que o pesadelo vivido por aquelas pessoas podia estar a acontecer com qualquer um de nós - salvos apenas pela localização geográfica onde nascemos -, se envolveram ativamente na ajuda humanitária..O Miguel Duarte foi um desses jovens. Tinha 24 anos quando percebeu que não conseguia continuar a assistir às notícias que mostravam os milhares de refugiados a tentar entrar na Europa, muitos deles a morrer antes de alcançar terra firme, sem contribuir de alguma maneira para atenuar este drama. Rumou ao Mediterrâneo e participou em diversas ações de salvamento, em alto-mar..Nos últimos dias, temos conhecido a sua história, porque o Miguel enfrenta neste momento um processo judicial, intentado pelo Estado italiano, em que arrisca vinte anos de prisão por, alegadamente, ter ajudado à imigração ilegal. Mas como o próprio tem dito, "se vejo uma pessoa a morrer afogada, não lhe pergunto se tem ou não passaporte - tiro-a da água, salvo-a e depois então o Estado verifica a sua situação e trata da burocracia"..Tenho acompanhado este drama humano, com ainda mais atenção, desde que em 2016 tive oportunidade de conhecer a realidade do campo de refugiados de Eleonas. Infelizmente, é uma realidade que perdura: segundo dados recentes, não só nunca houve tantos refugiados no mundo, como, atualmente, existem cerca de 111 mil crianças a viajar sozinhas ou em campos de refugiados..Assim, é inevitável afirmar que ainda há muito por fazer, não só relativamente às vidas que se continua a perder em alto-mar, mas também à forma como está a ser feita a integração destas pessoas. Sem dúvida que é necessário garantir a segurança das fronteiras, mas a prioridade tem de ser uma resposta séria e rápida aos refugiados e aos migrantes económicos, e não o combate a quem tenta, na medida das suas possibilidades, salvar vidas humanas..Presidente da JSD
A União Europeia assiste, desde 2015, à maior crise humana desde a Segunda Guerra Mundial. Há quatro anos que, diariamente, acorrem a este continente pessoas nas mais míseras condições, que fogem da guerra e de todas as suas consequências: pobreza extrema, perseguições, a impossibilidade de continuarem a viver em segurança..Todos nós, europeus e portugueses, temos sido interpelados pelos dramáticos relatos que nos têm chegado ao longo dos últimos anos, tendo a imagem de Aylan Kurdi, a criança de 3 anos encontrada morta à beira-mar, sido um dos maiores alertas para a brutalidade desta realidade..Infelizmente, nessa altura, tantos foram os passos dados na direção errada, nomeadamente, pelos governos e pela União Europeia que, por diversas vezes, tentaram ignorar a dimensão real deste drama humano e virar as costas a este grito de socorro..Mas, desde 2015 até hoje, muitos foram também os cidadãos "comuns" e, especialmente, os jovens que, com a total consciência de que o pesadelo vivido por aquelas pessoas podia estar a acontecer com qualquer um de nós - salvos apenas pela localização geográfica onde nascemos -, se envolveram ativamente na ajuda humanitária..O Miguel Duarte foi um desses jovens. Tinha 24 anos quando percebeu que não conseguia continuar a assistir às notícias que mostravam os milhares de refugiados a tentar entrar na Europa, muitos deles a morrer antes de alcançar terra firme, sem contribuir de alguma maneira para atenuar este drama. Rumou ao Mediterrâneo e participou em diversas ações de salvamento, em alto-mar..Nos últimos dias, temos conhecido a sua história, porque o Miguel enfrenta neste momento um processo judicial, intentado pelo Estado italiano, em que arrisca vinte anos de prisão por, alegadamente, ter ajudado à imigração ilegal. Mas como o próprio tem dito, "se vejo uma pessoa a morrer afogada, não lhe pergunto se tem ou não passaporte - tiro-a da água, salvo-a e depois então o Estado verifica a sua situação e trata da burocracia"..Tenho acompanhado este drama humano, com ainda mais atenção, desde que em 2016 tive oportunidade de conhecer a realidade do campo de refugiados de Eleonas. Infelizmente, é uma realidade que perdura: segundo dados recentes, não só nunca houve tantos refugiados no mundo, como, atualmente, existem cerca de 111 mil crianças a viajar sozinhas ou em campos de refugiados..Assim, é inevitável afirmar que ainda há muito por fazer, não só relativamente às vidas que se continua a perder em alto-mar, mas também à forma como está a ser feita a integração destas pessoas. Sem dúvida que é necessário garantir a segurança das fronteiras, mas a prioridade tem de ser uma resposta séria e rápida aos refugiados e aos migrantes económicos, e não o combate a quem tenta, na medida das suas possibilidades, salvar vidas humanas..Presidente da JSD