500 anos da circunavegação de Magalhães e Elcano

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Neste 21 de outubro comemoram-se os 500 anos de um dos acontecimentos mais significativos do mundo, na história do seu conhecimento geográfico, que é a primeira circum-navegação, levada a cabo por Fernão de Magalhães, também conhecido como Fernando, cujo feito mais importante foi a descoberta do estreito navegável natural - estreito de Todos-os-Santos - ao sul de Chile, que hoje tem o nome de estreito de Magalhães".

Para os chilenos a figura de Magalhães é muito importante, porque este notável marinheiro português foi quem pisou pela primeira vez o território do Chile. Porque me atrevo a dizer isto? Porque o Chile, tal como hoje o conhecemos, desenhou-se há 500 anos, no dia em que Fernão de Magalhães "descobriu" o estreito, localizado numa superfície de mais de 132 mil quilómetros quadrados, em que extensas planícies são o habitat de uma fauna indómita e onde habitaram povos de grande estatura e contextura robusta, os chamados "patagones" em alusão aos seus grandes pés, e que acendiam numerosas piras ou fogueiras ao largo da costa, situação que levou a que a expedição de Magalhães chamasse a esse território Terra do Fogo.

Com este panorama em mente, podemos imaginar como foi difícil a navegação pelo estreito de Magalhães. Com os seus cerca de 720 quilómetros de comprimento e uma multiplicidade de canais patagónicos, com ventos intensos, tempestades e chuvas torrenciais, transforma-se num labirinto marítimo que na sua maioria conduz a passagens bloqueadas.

Por isto, é importante, justo e essencial, reconhecer Fernão de Magalhães por esta façanha, que Sebastián Elcano completou com êxito, e que transformou o imaginário do nosso planeta numa visão de um planeta circular, global, mensurável e transitável, ou seja, globalizado.

Neste sentido, recordemos esta expedição e, ao mesmo tempo, perguntemo-nos: "Quais são os estreitos de Magalhães que ainda não sulcámos?" Sem dúvida, hoje, os estreitos que nos faltam continuar a navegar são os estreitos sociais, culturais, científicos e tecnológicos.

Para sulcar todos eles, nós chilenos sempre dispomos de um Roteiro, com planos e objetivos que olham para o futuro, mas a rota traçada pode trazer consigo problemas diferentes e uma multiplicidade de dificuldades, as que com segurança e o impulso da procura do "bem comum" nos permitirão sempre ter sucesso e cruzar todos esses estreitos.

Por isso, o Chile e Portugal, neste nexo histórico e fundamental que gera este feito, são o símbolo de que a união é possível, onde a lealdade e a solidariedade são as expressões mais elevadas do género humano e que a referida humanidade é algo que ainda se tem de humanizar, tal como o expôs a nossa prémio Nobel, Gabriela Mistral.

O Chile é um país acostumado a enfrentar múltiplos desafios, posto que nos tocou atravessar circunstâncias complexas e desafiantes, "estreitos" geradas pela natureza assim como pela história.

Somos um povo lutador e aguerrido, que olha em frente, que sonha com um país melhor e que hoje lidera, de longe, em diversos indicadores da nossa região.

Por isso, assimilar a força inovadora daquela viagem, a ânsia da exploração e a vocação de ir mais além, é uma característica dos nossos povos, tal como simboliza esta viagem, na luta diária, no desenvolvimento que, juntamente com a inovação, vai mais além do impensável.

Prestar homenagem a este homem de terra portuguesa, este homem incrível que foi Fernão de Magalhães, também é uma homenagem aos viajantes, aos expedicionários e a todos aqueles que não hesitam em atrever-se a ir mais além. É uma viagem para a qual todos somos chamados a enfrentar com otimismo, esperança e entusiasmo para superar todas os nossos "estreitos" e alcançar tudo o que nos propomos.

Embaixador do Chile

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